Imagem: MikeOncley
Antonio Silva
Ele pouco lembrava a época de fumante, e quando lembrava
tentava entender como conseguia fumar sessenta cigarros por dia, foi penoso
entregar o maço e o isqueiro para um amigo (companheiro de vício) e seguir em
frente. Parou por nove meses, ironicamente nove meses o período de uma
gestação, mas que gerou a vontade de reacender um cigarro percebeu que ao
reacender o cigarro recuperou os amigos que na verdade eram mais amigos do
vício do que dele.
Após isso resolveu reassumir definitivamente sua viuvez tabagística,
colocou fora sua coleção de maços de cigarros, seus isqueiros, mas não foi
fácil conversar com amigos no barzinho era a maior prova, pois sem mais nem
menos logo estava envolvido pela fumaça do interlocutor, mas resistia
bravamente e percebeu seu progresso quando as pessoas conhecidas passavam por
ele na rua e não lhe pediam mais um cigarro. Estava livre do vício.
Em frente a sua sacada há uma área verde na qual foi
anunciada a construção de uma praça, teria uma área de lazer do outro lado da
rua. Mas o que era para ser algo bom estava se tornando uma tentação para um
ex-viciado, pois ali entre a natureza estava se instalando uma espécie de
“fumódromo” reuniam-se ali jovens que tinham no cigarro a ilusão que ele quando
jovem também teve de que fumar é status social e que era necessário soltar a
última baforada antes de beijar a menina (maneira nojenta de criar coragem). E
também os mais velhos escravos do vício que fumavam por tradição e para manter
acessas as memórias de um passado nada saudoso.
Precisava fazer algo! Por si e pelos outros, pois a
vontade de fumar estava voltando e queria poder livrar alguém do vício. Ao
andar pela praça percebeu o quanto os fumantes eram mal educados, pois o filtro
ou o que sobrava dele ia direto para o chão, assim como a carteira vazia e
filme plástico que envolve a próxima carteira também. Pensou será que eu era
assim?
Pensou em muitas coisas como: denunciar a polícia, mas
denunciar o que? Espalhar cartazes pela praça explicando os males do cigarro,
sendo que todo o fumante sabe disso, pensou até em criar uma ONG já que isso está tão na moda, se chamaria AFA
(Associação dos Fumantes Anônimos). Mas ele sabia que tudo isso pouco para não
dizer que nada resolveria, então resolveu fazer algo que por experiência
própria sabia que poderia funcionar, iria dialogar, pois muitos fumantes
encontram no cigarro uma maneira de vencer sua solidão ou suas frustrações
queimando um atrás do outro.
Faria
a vez de uma espécie de psicólogo anti-tabaco, e aos pouco foi conseguindo já
que o número de fumantes na praça diminuía a cada conversa, pensava ele estar
fazendo um bom trabalho ou sendo chato o suficiente a ponto das pessoas não irem
mais a praça.
Ele estava feliz, entusiasmado, com brilho nos
olhos, até que em um dia que tinha tudo para ser igual aos outros algo
aconteceu: em meio à conversa ele ouve a frase “que cara chato, será que não
tem nada melhor para fazer”, vinda do fundo da praça.
Naquele momento ele transformou-se virou a mesa que
estava a sua frente, e começou a xingá-los dizendo que eles eram um bando de
idiotas, que estavam se matando, a raiva era tanta que chegou a rasgar sua
camisa e subir em uma mesa.
Com medo de uma possível agressão as pessoas começaram a
correr dali ficou apenas um senhor que estava o tempo todo lá no fundo da praça
sentado olhando, aproximou-se dele e disse para ele se acalmar, pois estava
muito nervoso, ele sentou na mesa ao lado daquele homem e disse: - O senhor tem razão, preciso me acalmar,
preciso me acalmar e ainda trêmulo pediu: - Dê-me um cigarro por favor....
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