terça-feira, 8 de julho de 2014

DÊ-ME UM CIGARRO

Imagem: MikeOncley


Antonio Silva

            Ele pouco lembrava a época de fumante, e quando lembrava tentava entender como conseguia fumar sessenta cigarros por dia, foi penoso entregar o maço e o isqueiro para um amigo (companheiro de vício) e seguir em frente. Parou por nove meses, ironicamente nove meses o período de uma gestação, mas que gerou a vontade de reacender um cigarro percebeu que ao reacender o cigarro recuperou os amigos que na verdade eram mais amigos do vício do que dele.
            Após isso resolveu reassumir definitivamente sua viuvez tabagística, colocou fora sua coleção de maços de cigarros, seus isqueiros, mas não foi fácil conversar com amigos no barzinho era a maior prova, pois sem mais nem menos logo estava envolvido pela fumaça do interlocutor, mas resistia bravamente e percebeu seu progresso quando as pessoas conhecidas passavam por ele na rua e não lhe pediam mais um cigarro. Estava livre do vício.
            Em frente a sua sacada há uma área verde na qual foi anunciada a construção de uma praça, teria uma área de lazer do outro lado da rua. Mas o que era para ser algo bom estava se tornando uma tentação para um ex-viciado, pois ali entre a natureza estava se instalando uma espécie de “fumódromo” reuniam-se ali jovens que tinham no cigarro a ilusão que ele quando jovem também teve de que fumar é status social e que era necessário soltar a última baforada antes de beijar a menina (maneira nojenta de criar coragem). E também os mais velhos escravos do vício que fumavam por tradição e para manter acessas as memórias de um passado nada saudoso.
            Precisava fazer algo! Por si e pelos outros, pois a vontade de fumar estava voltando e queria poder livrar alguém do vício. Ao andar pela praça percebeu o quanto os fumantes eram mal educados, pois o filtro ou o que sobrava dele ia direto para o chão, assim como a carteira vazia e filme plástico que envolve a próxima carteira também. Pensou será que eu era assim?
            Pensou em muitas coisas como: denunciar a polícia, mas denunciar o que? Espalhar cartazes pela praça explicando os males do cigarro, sendo que todo o fumante sabe disso, pensou até em criar uma ONG já que isso está tão na moda, se chamaria AFA (Associação dos Fumantes Anônimos). Mas ele sabia que tudo isso pouco para não dizer que nada resolveria, então resolveu fazer algo que por experiência própria sabia que poderia funcionar, iria dialogar, pois muitos fumantes encontram no cigarro uma maneira de vencer sua solidão ou suas frustrações queimando um atrás do outro.
Faria a vez de uma espécie de psicólogo anti-tabaco, e aos pouco foi conseguindo já que o número de fumantes na praça diminuía a cada conversa, pensava ele estar fazendo um bom trabalho ou sendo chato o suficiente a ponto das pessoas não irem mais a praça.
 Ele estava feliz, entusiasmado, com brilho nos olhos, até que em um dia que tinha tudo para ser igual aos outros algo aconteceu: em meio à conversa ele ouve a frase “que cara chato, será que não tem nada melhor para fazer”, vinda do fundo da praça.
            Naquele momento ele transformou-se virou a mesa que estava a sua frente, e começou a xingá-los dizendo que eles eram um bando de idiotas, que estavam se matando, a raiva era tanta que chegou a rasgar sua camisa e subir em uma mesa.
            Com medo de uma possível agressão as pessoas começaram a correr dali ficou apenas um senhor que estava o tempo todo lá no fundo da praça sentado olhando, aproximou-se dele e disse para ele se acalmar, pois estava muito nervoso, ele sentou na mesa ao lado daquele homem e disse:  - O senhor tem razão, preciso me acalmar, preciso me acalmar e ainda trêmulo pediu: - Dê-me um cigarro por favor....

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