domingo, 27 de julho de 2014

BEIJO NA TESTA É...

Imagem: Lichtenstein
Antonio Silva

Eles se apaixonaram a primeira boca, sim não foi à primeira vista ou primeiro olhar. Foi à primeira boca mesmo, o estalar daquele beijo entre uma boca vermelha carnuda e de outra boca incolor, mas faminta, sedenta de paixão...
            Poucas eram as palavras entre os dois, ao menos para os que estavam próximos ouvir, conversavam no contato direto boca a boca, língua a língua, o que é o contato de duas línguas senão a maneira mais pura de falar.
            Cumpriram os mandamentos sociais de namorar, noivar, casar, lua de mel até juntar as escovas de dente... Enfim todos os parâmetros sociais pré-estabelecidos exigidos, mas com uma ressalva regados a muitos beijos de todos os tipos tinha o beijo nominal, seguido do beijo palpitante, beijo de toque, beijo direto, beijo inclinado, beijo voltado, beijo pressionado, beijo do lábio superior, beijo agarrado, luta de línguas, beijo que acende o amor, beijo que distrai, beijo que desperta, beijo revelador de intenção, beijo transferido, beijo demonstrativo.... E a lista segue quase infinita haja bocas para tanta criatividade.
            Mas com o tempo tudo diminui muito trabalho, pouco descanso, pressões afetivas e profissionais. Os beijos calorosos, ardentes e variados foram diminuindo, diminuindo até se reduzirem ao tradicional selinho, ou seja, a desculpa para o não beijo. Logo o selinho dela transformou-se em um beijinho na testa, imaginava ele que isso era um afeto a mais, um carinho da esposa que em meio a pressões e turbulências encontrara uma maneira de demonstrar todo seu amor ao marido.
             Tudo muda quando um colega metido a pensador em meio à roda de amigos na hora do cafezinho no trabalho disse: “Beijo na testa, carícia para o chifre.” Imediatamente lembrou-se de sua mulher e do gesto até então carinhoso praticado todas as manhãs.
            Mas será? Pensou ele, calou-se e tentou não deixar transparecer a dúvida, levantou-se e foi até o banheiro, analisou a testa centímetro a centímetro e tudo o que encontrou foi à saliência de cravos e espinhas que futuramente nasceriam, ou já seriam os chifrinhos? Não, não seriam!
            Lembrou-se da frase: “Beijo na testa, carícia para o chifre.” Respirou fundo e disse para seu reflexo no espelho é apenas uma frase, apenas uma frase e saiu, mas seu subconsciente dizia: É apenas uma frase, apenas uma frase por enquanto.

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