Imagem: Lichtenstein
Antonio Silva
Eles
se apaixonaram a primeira boca, sim não foi à primeira
vista ou primeiro olhar. Foi à primeira boca mesmo, o estalar daquele beijo
entre uma boca vermelha carnuda e de outra boca incolor, mas faminta, sedenta
de paixão...
Poucas eram as palavras entre os dois, ao menos para os
que estavam próximos ouvir, conversavam no contato direto boca a boca, língua a
língua, o que é o contato de duas línguas senão a maneira mais pura de falar.
Cumpriram os mandamentos sociais de namorar, noivar,
casar, lua de mel até juntar as escovas de dente... Enfim todos os parâmetros
sociais pré-estabelecidos exigidos, mas com uma ressalva regados a muitos
beijos de todos os tipos tinha o beijo nominal, seguido do beijo palpitante, beijo de toque,
beijo direto, beijo inclinado, beijo voltado, beijo pressionado, beijo do lábio
superior, beijo agarrado, luta de línguas, beijo que acende o amor, beijo que distrai,
beijo que desperta, beijo revelador de intenção, beijo transferido, beijo demonstrativo....
E a lista segue quase infinita haja bocas para tanta criatividade.
Mas com o tempo tudo diminui muito
trabalho, pouco descanso, pressões afetivas e profissionais. Os beijos
calorosos, ardentes e variados foram diminuindo, diminuindo até se reduzirem ao
tradicional selinho, ou seja, a desculpa para o não beijo. Logo o selinho dela
transformou-se em um beijinho na testa, imaginava ele que isso era um afeto a
mais, um carinho da esposa que em meio a pressões e turbulências encontrara uma
maneira de demonstrar todo seu amor ao marido.
Tudo muda quando um colega metido a pensador
em meio à roda de amigos na hora do cafezinho no trabalho disse: “Beijo na testa, carícia para o chifre.”
Imediatamente lembrou-se de sua mulher e do gesto até então carinhoso praticado
todas as manhãs.
Mas será? Pensou ele, calou-se e
tentou não deixar transparecer a dúvida, levantou-se e foi até o banheiro,
analisou a testa centímetro a centímetro e tudo o que encontrou foi à saliência
de cravos e espinhas que futuramente nasceriam, ou já seriam os chifrinhos?
Não, não seriam!
Lembrou-se da frase: “Beijo na testa, carícia para o chifre.” Respirou
fundo e disse para seu reflexo no espelho é apenas uma frase, apenas uma frase
e saiu, mas seu subconsciente dizia: É apenas uma frase, apenas uma frase por enquanto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário