A quem diga que aspectos táticos, técnicos e financeiros definem o futebol, eu respondo: isso até é verdade, mas só até a bola rolar. Basta o soar do apito para que todas essas teorias fiquem apenas no campo das teorias. Pois não é raro vermos times menos táticos, menos técnicos e pobres financeiramente vencerem aqueles que têm quase tudo o que o dinheiro pode comprar.
Mas como se explica isso? Qual a razão? São somente os deuses do futebol agindo a favor dos menos favorecidos ou apenas coincidência? Poderia escrever páginas e páginas, teses e muito mais, mas não teria uma resposta definitiva.
Acredito que a melhor resposta para essa questão seja: Identidade. Aquilo que não se pode medir, quantificar e, às vezes, explicar, mas que faz diferença, sim.
Cheguei a essa conclusão ao ver o fantástico 4 a 4 da final da Copa América Feminina entre Brasil e Colômbia. Marta, mais uma vez, mostrou por que é a maior atleta do esporte, e mesmo que esteja próxima da despedida, faz valer cada momento que está em campo.
Diferente do futebol masculino, o feminino uniu-se em torno de Marta, envolveu a deusa do futebol e proporcionou a ela a possibilidade de brilhar.
Alguém vai ter que correr mais, alguém vai ter que marcar mais, alguém vai ter que suar mais. Mas tudo bem, é pela Marta e, no fim, é por todas elas.
A identidade Marta tem salvado o amor de torcer para o Brasil. Não só por Marta, mas a final teve seu valor a Colômbia desponta como uma grande adversária para o Brasil no contexto Sul-Americano, capitaneada por Linda Caicedo. As colombianas têm um grande futuro no futebol.
Mas voltando a Marta, seus dois gols foram um recado para quem a desacreditava. O primeiro, um chute forte, com raiva, como se fosse um "basta" sobre qualquer dúvida sobre sua presença na seleção. Já o segundo, um lance digno de uma deusa, que finge cabecear a bola enquanto permite que ela repouse em seu pé, tirando totalmente a chance da goleira.
Marta virou uma identidade para o futebol feminino. Já era uma rainha, uma deusa, uma entidade, mas agora também é um jeito de ser, de jogar, de sentir, de colaborar.
Se elas se sacrificam por Marta, Marta entrega o esperado e o inesperado. E mesmo quando ela falha, a identidade Marta garante que outras atletas sejam protagonistas.
Sem ego, sem desrespeito, sem sentir o peso. A identidade Marta só quer o bem do futebol brasileiro feminino. E mesmo quando Marta parar, a identidade Marta acompanhará quem acreditar que é possível.