Foto: Internet/Divulgação
Ele
sentia-se mal sem saber a razão. Já havia procurado tantos médicos, mas sua doença
era um mistério, um grande mistério, poderia ser uma depressão, ou algo
parecido, mas com agravantes.
Sentia-se mal, indisposto, infeliz a
solidão de anos começava a incomodar, nesses momentos lembrava até da mulher
que abandonou há anos. Abandono este causado pelo trabalho, que durante mais de
cinquenta anos fez parte da sua vida e que só o deixou porque foi obrigado.
Durante essas cinco décadas nunca
teve tempo livre, nunca pensou em outra coisa a não ser no trabalho, ele dormia
para trabalhar, ele comia para trabalhar, ele corria para trabalhar, só
enxergava números, estatísticas, prazos, valores, lucros, débitos, ativo,
passivo....
Lutou ao máximo para não se
aposentar, ainda sentia-se útil, jovem e tinha mais experiência de qualquer
outro que pudesse vir a substituí-lo, mas obrigado pelo dono da empresa assinou
os documentos. Enfim, veio a aposentadoria, junto veio o tédio e a sensação de
inutilidade ao perceber que não tinha nada para fazer, pois só sabia trabalhar.
Sentindo-se assim logo apareceu a
tal doença, no primeiro mês não deu muita importância, pensando que logo
aquelas sensações ruins passariam, mas passou o mês e tudo continuava igual, ou
pior. A sensação de inutilidade, mal-estar, cansaço tristeza, fadiga. Resolveu
procurar um médico.
Chegando ao consultório contou o que
estava acontecendo ao doutor que lhe deu um relaxante muscular, explicando que
após tantos anos de trabalho seu metabolismo estava estranhando a falta da
rotina agitada que tinha antes de se aposentar. Passado um mês ele deveria
retornar, quando retornou estava ainda pior, além do cansaço físico era notável
o abatimento psicológico, olheiras, desânimo, estava mergulhado em uma tristeza
absoluta, o médico ao ver seu estado acrescentou lhe mais um medicamento um
antidepressivo, passado mais um tempo ele retornou ao consultório e nada de
melhorar, fez inúmeros exames que nada mostravam, mas seu estado físico e
psicológico só piorava.
O médico ao vê-lo e analisar seus
exames que nada mostravam ficou intrigado, paralisado na dúvida, pois em todos
aqueles anos de profissão jamais havia tratado um caso tão intrigante, ele
começava a entender a suposta gravidade de sua doença ao olhar para o médico e
ver que ele estava perplexo. Então perguntou a ele: - doutor o que eu tenho? É
grave? O médico olhou em seus olhos respirou fundo e disse: - Não sei. Mas continuou:
- eu teria duas opções de tratamento para o senhor, interná-lo ou mandá-lo
retornar ao trabalho, como acho que a primeira opção será tão inútil quanto
foram os tratamentos até agora, peço que o senhor volte a trabalhar.
Ao ouvir aquela noticia, ele parecia renascer, toda a angústia,
tristeza, solidão, dores, pensamentos negativos, abatimento psicológico sumiu,
sentia o bom e velho capitão da indústria de sempre renascendo das cinzas da
aposentadoria. Saiu do consultório direto procurar um emprego, o tempo passou,
foi ocupado pelo novo emprego, mas dois meses depois ele retornou.
Aparentemente ele estava bem, feliz, com brilho nos
olhos, cheio de planos, mas o doutor ao ler seu nome no prontuário e chamá-lo
para a consulta ficou receoso, pois mandá-lo trabalhar era sua estratégia para
tentar encontrar uma cura ou um alívio para aquela estranha doença. Ele entrou
e sentou, nem esperou e médico começar a falar e disse: - Obrigado por me curar
doutor!
PUBLICADO NO JORNAL A
FOLHA
DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO VIII
EDIÇÃO N° 299 SEXTA-FEIRA 03 DE MAIO DE
2013