segunda-feira, 21 de setembro de 2015

COMO GUARDAMOS NOSSOS TESOUROS

Giorgio de Chirico


Antonio Silva

            Como guardamos nossos tesouros? É uma boa pergunta, porém, vai depender do tesouro que tiveres para guardar. Se você tem dinheiro pode muito bem deixa-lo no banco, se você tem um carro basta fazer um seguro, e se você tem uma casa também tem a opção do seguro e uma forma mais prática, cercá-la de grades bem altas, fechaduras nas portas e janelas, câmeras de segurança ou cerca elétrica.
            Mas e seu maior tesouro não for um bem material, não for suas economias, seu carro, sua casa. E se o seu tesouro for apenas algo que você tem que zelar, transmitir valores cuidar para que o futuro não seja apenas um tempo próximo.
            Pois bem, eu estava no ônibus numa importante e movimentada estrada, em meio aos mais diversos tipos de carros ai vamos do velho e bom fusquinha a imponente e potente BMW. Quando passou pelos meus olhos a cena que me questionou “Como guardamos nossos segredos.”
            Caminhava pelo acostamento um homem de camisa, calção, chinelo e boné. A camisa era do Grêmio, de um tempo distinto, quando o clube comemorava façanhas, era velha surrada, tanto quanto o restante de sua roupa. Ele empurrava um carrinho no qual colocava todo o tipo de material reciclado que pudesse vender, que pudesse tirar um dinheiro qualquer para seu sustento.
            Aquele homem guiava aquele carrinho com cuidado, e sua expressão era de felicidade, era uma felicidade mais radiante até mesmo do que a felicidade de um torcedor que tinha visto seu time conquistar uma vitória importante. Era uma felicidade cuidadora, orgulhosa. Naquele olhar de atenção era possível perceber a sua realização pessoal, era possível perceber a nítida alegria de alguém que carregava ali o bem mais precioso de sua vida.
            Mesmo entre o intenso movimento de carros, era possível perceber a total atenção dele dentro daquele carrinho que até então só servia para carregar o que consideramos lixo.
            Dentro do carrinho havia uma criança, que deveria ter no máximo dois ou três anos. Aquela criança deveria ser seu filho, o qual ele carregava com toda atenção e carinho dentro de suas condições.
            A criança assim como o homem parecia estar feliz, apoiada no carrinho estava em pé, se divertindo com o movimento, com o barulho ao seu redor. Tudo era engraçado, desde o fusquinha até a BMW, nada tinha valor material. Tudo era uma questão de valor afetivo, alegria, diversão, liberdade. Para aquela criança, não importava se em outros momentos o mesmo carrinho que ela andava carregava lixo. Para ela importava a felicidade de experimentar, o que nós chamamos de liberdade, mas com um adicional a inocência. Quando se é inocente, tudo se torna mais fácil.
Na inocência somos sinceros, não tememos as palavras.
Na inocência somos felizes, os gestos ocorrem com naturalidade.
Na inocência amamos com toda a intensidade.
Na inocência somos intensidade pura, pois não há medo, não há repressão, não há regra.
Na inocência somos felizes sem conhecer o peso da palavra.
Aquela criança dentro de um carrinho de “lixo” era o maior tesouro de quem o transportava. Fazia com zelo, com atenção, com dedicação. Para aquela criança quem o transportava era seu maior tesouro por em um gesto simples fazer com que ele experimenta-se tantas sensações que serão fundamentais em seu desenvolvimento.
            Somos o maior tesouro de quem nos ama, e por vezes não percebemos que teríamos que fazer de quem nos ama nosso maior tesouro. Às vezes nos deixamos endurecer pela rotina, pelo excesso de afazeres, pelo pouco tempo de convivência. E esquecemos que o nosso maior tesouro está ao nosso lado dentro de nossa casa.

            Então como guardamos nossos tesouros?