Giorgio de Chirico
Antonio
Silva
Como guardamos nossos tesouros? É
uma boa pergunta, porém, vai depender do tesouro que tiveres para guardar. Se
você tem dinheiro pode muito bem deixa-lo no banco, se você tem um carro basta
fazer um seguro, e se você tem uma casa também tem a opção do seguro e uma
forma mais prática, cercá-la de grades bem altas, fechaduras nas portas e
janelas, câmeras de segurança ou cerca elétrica.
Mas e seu maior tesouro não for um
bem material, não for suas economias, seu carro, sua casa. E se o seu tesouro
for apenas algo que você tem que zelar, transmitir valores cuidar para que o
futuro não seja apenas um tempo próximo.
Pois bem, eu estava no ônibus numa
importante e movimentada estrada, em meio aos mais diversos tipos de carros ai
vamos do velho e bom fusquinha a imponente e potente BMW. Quando passou pelos
meus olhos a cena que me questionou “Como guardamos nossos segredos.”
Caminhava pelo acostamento um homem
de camisa, calção, chinelo e boné. A camisa era do Grêmio, de um tempo
distinto, quando o clube comemorava façanhas, era velha surrada, tanto quanto o
restante de sua roupa. Ele empurrava um carrinho no qual colocava todo o tipo
de material reciclado que pudesse vender, que pudesse tirar um dinheiro
qualquer para seu sustento.
Aquele homem guiava aquele carrinho
com cuidado, e sua expressão era de felicidade, era uma felicidade mais
radiante até mesmo do que a felicidade de um torcedor que tinha visto seu time
conquistar uma vitória importante. Era uma felicidade cuidadora, orgulhosa.
Naquele olhar de atenção era possível perceber a sua realização pessoal, era
possível perceber a nítida alegria de alguém que carregava ali o bem mais
precioso de sua vida.
Mesmo entre o intenso movimento de
carros, era possível perceber a total atenção dele dentro daquele carrinho que
até então só servia para carregar o que consideramos lixo.
Dentro do carrinho havia uma
criança, que deveria ter no máximo dois ou três anos. Aquela criança deveria
ser seu filho, o qual ele carregava com toda atenção e carinho dentro de suas
condições.
A criança assim como o homem parecia
estar feliz, apoiada no carrinho estava em pé, se divertindo com o movimento,
com o barulho ao seu redor. Tudo era engraçado, desde o fusquinha até a BMW,
nada tinha valor material. Tudo era uma questão de valor afetivo, alegria,
diversão, liberdade. Para aquela criança, não importava se em outros momentos o
mesmo carrinho que ela andava carregava lixo. Para ela importava a felicidade
de experimentar, o que nós chamamos de liberdade, mas com um adicional a
inocência. Quando se é inocente, tudo se torna mais fácil.
Na
inocência somos sinceros, não tememos as palavras.
Na
inocência somos felizes, os gestos ocorrem com naturalidade.
Na
inocência amamos com toda a intensidade.
Na
inocência somos intensidade pura, pois não há medo, não há repressão, não há
regra.
Na
inocência somos felizes sem conhecer o peso da palavra.
Aquela criança dentro de um carrinho de “lixo” era o
maior tesouro de quem o transportava. Fazia com zelo, com atenção, com
dedicação. Para aquela criança quem o transportava era seu maior tesouro por em
um gesto simples fazer com que ele experimenta-se tantas sensações que serão
fundamentais em seu desenvolvimento.
Somos o maior tesouro de quem nos
ama, e por vezes não percebemos que teríamos que fazer de quem nos ama nosso
maior tesouro. Às vezes nos deixamos endurecer pela rotina, pelo excesso de
afazeres, pelo pouco tempo de convivência. E esquecemos que o nosso maior
tesouro está ao nosso lado dentro de nossa casa.
Então como guardamos nossos
tesouros?
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