Henri de Toulouse
Antonio Silva
Quem disse que vivemos num mundo livre mentiu. A
tecnologia que abriu janelas fechou todas as portas. Estamos cada dia mais
presos nas redes das obrigações sem fim.
Não lembro qual foi a última vez que tive uma noite
tranquila de sono queria apenas dormir sem pensar em acordar. As tarefas são
meu despertador.
Não lembro quando foi a última vez que saí na rua apenas
para caminhar, os compromissos do dia a dia marcaram meus passos, sem eles não
sei aonde vou.
Não lembro quando foi a última vez que tomei um banho de
chuva, mas lembro a tempestade de e-mails que tenho que responder diariamente.
Não lembro de muitas coisas que a velocidade do mundo
acabou suprimindo da minha vida, só lembro que dia após dia as coisas passam
mais rápido.
Não lembro mais quanto vale o tempo. Quando tenho tempo
de sobra ainda me sinto atrasado.
Temos tudo ao alcance das mãos, basta um clique e um
mundo de opções se abre. Nossos olhos se confundem e parecemos sem opções.
Aos poucos perdemos a fé no outro, pois estamos tão
presos em nós mesmos que a ternura do gesto gera desconfiança.
Aos poucos vamos entendendo a mecânica da loucura e nos
tornamos fiéis a ela.
Aos poucos vamos entregando nossas esperanças, a liberdade
parece inesperada e na velocidade do mundo não há paciência.
Velocidade que envenenou a alma dos homens e escravizou
suas mentes.
Abrimos mão do nosso tempo para construir inteligências,
mas mais que inteligência precisamos de afeição e doçura.
Só
assim para quebrarmos as grades desse mundo cético e materialista.
Vai ser difícil chegar lá, pois a alienação é
tanta que qualquer atitude fora do padrão vai ser questionada e apedrejada,
quem a fizer será crucificado pelos moralistas de plantão. Serão milhões de
Judas a te dar o beijo de misericórdia.
Mas,
se for para ressuscitar a sua liberdade faça, questione, brigue, lute e saiba
que para isso vale tudo.
Inclusive
correr pelado por ai.
PUBLICADO
NO JORNAL
FOLHA DE
NOVA HARTZ SEMANAL PÁGINA 2
ANO X
EDIÇÃO N° 358 28 DE NOVEMBRO DE 2014