terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Deficiências não aparentes



Ao falar sobre deficiências abre-se um leque muito grande de características e especificidades. Mas, é muito comum também pensar que pessoa com deficiência é aquela em cadeira de rodas, com mobilidade reduzida, amputada ou má formada..enfim são muitas as características que podem definir uma deficiência.
                Eu, por exemplo, minha deficiência só é visível quando estou em pé ou andando, já se estou sentado ela passa despercebida. Mas, o que quero dizer aqui é que existem sim deficiências que não são visíveis ou que aparentemente não chamam atenção das pessoas, como é caso da fibromialgia, esclerose múltipla, cardiopatia, próteses e deficiências intelectuais.
                Muitos pensam que as deficiências não aparentes, são mais fáceis de lidar pelo fato de que não tem apelo visual e, que em tese poderiam ter uma "vida normal". No entanto, não éisso que acontece na realidade, muitas vezes o preconceito já começa em casa, pela falta de entendimento e compreensão das necessidades da pessoa. Muitas vezes sintomas como fadiga, cansaço e problemas de concentração, são tratados como preguiça ou desinteresse.
                O resultado disso é, uma dificuldade ainda maior de colocação social, já que as pessoas tem dificuldade de entender e compreender a deficiência não aparente. Isso acaba gerando uma série de preconceitos, pois é muito comum ver pessoas com deficiência intelectual, por exemplo, sendo chamadas de retardadas ou outras expressões pejorativas.
                Mas, e ai qual seria o caminho para melhorar essa situação? No contexto legislativo, recentemente foi aprovado o projeto de lei n° 346/2017 autoriza a colocação da expressão "pessoa com deficiência" na Carteira de Identidade, um passo importante para quem tem uma deficiência não aparente, pois evita uma série de constrangimento.
No contexto social, ajuda muito se pararmos de julgar as pessoas por sua aparência, conversar, entender, aprender sobre cada deficiência já é um grande passo para romper essa barreira do preconceito.

De fato a deficiência seja ela visível ou não está muito longe de ser compreendida, ainda somos estigmatizados por uma dificuldade, sendo que todos nós seres humanos temos algum tipo. O preconceito cega, e a falta de informação contribui para esse desconhecimento, por isso, além de incluir é, preciso discutir e levar esses temas para as ruas, escolas, universidades, debates políticos somente assim vamos de fato vencer o preconceito e enxergar além da deficiência. 

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO 
DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO
N° 15 TERÇA-FEIRA 27 DE 
FEVEREIRO DE 2018





segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

ACESSIBILIDADE, PARA QUÊ?


                  A acessibilidade é o que garante, ou deveria garantir, o acesso da pessoa com deficiência a locais, produtos e serviços, mas sabemos que na prática não é bem assim. Ainda estamos muito longe de ter cidades com acessibilidade, mas por falar em acessibilidade o que significa isso?
                Segundo o que diz a lei "acessibilidade é possibilidade e condição de utilização com segurança e autonomia de espaços, equipamentos, edificações, transportes, informação e comunicação, tanto em espaços públicos ou privados, de uso coletivo em zonas urbanas ou rurais, para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida."
                O conceito é completo, bonito, explicativo, mas entre ele e a realidade existe uma lacuna gigante, pois basta ir para às ruas para ver o desleixo e o desrespeito ao qual nós pessoas com deficiência, idosos e pessoas com mobilidade reduzida passamos. A qualidade das calçadas ou a ausência delas são um exemplo, sem falar nos degraus dos prédios e outros tantos desafios que enfrentamos diariamente para poder se locomover.
                A acessibilidade está presente em todos os momentos da vida de uma pessoa com deficiência e até mesmo das que não tem deficiência, um exemplo, é o idoso que precisa de rampas e corrimãos para acessar determinados locais. Outro exemplo é a colocação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, pois segundo um levantamento feito em 2016, a principal dificuldade para trabalhar é a falta de acessibilidade tanto no trajeto quanto no local de trabalho. As escolas também estão longe de oferecer acessibilidade, estima-se que apenas 19% de todas as escolas de ensino básico do país sejam acessíveis. E assim segue a questão do transporte público, calçadas e prédios tanto públicos quanto privados.
                Os desafios são vários, por isso, a acessibilidade não pode ser vista como um tema isolado, mas sim de uma forma que possa englobar toda a sociedade, seja através de políticas públicas ou até mesmo ações conjuntas de associações de bairro, pois se cada um fizer um pouco é, possível transformar a realidade. Boas condições de acessibilidade garantem o direito de ir e vir e também de existir, por isso, é papel de cada um de nós fiscalizar e contribuir para que as mudanças aconteçam.

                O caminho para a solução, em tese, seria a aplicação da lei, mas sabemos que isso é bem difícil, já que para a aplicação da lei deveria haver fiscalização o que também não há. Mas, então qual é a saída? No meu ponto de vista, a melhor forma de denunciar a falta de acessibilidade é, ir para a rua, é mostrar para as pessoas que estamos ali e que eles precisam olhar para nós e que precisam nos oferecer condições de estar nos mesmos locais que qualquer pessoa. 







terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Lei de Cotas não é "vantagem"


          É muito comum ouvir de algumas pessoas que a Lei de Cotas, oferece vantagens às pessoas com deficiência, porém, essa afirmação é equivocada e preconceituosa. O que alguns chamam de vantagens, podemos chamar de equiparação de oportunidades e correção de possíveis desvantagens na hora de concorrer a uma vaga de emprego.
            Sabemos que o preconceito na hora de escolher um candidato com deficiência pode pesar e muito, infelizmente os gestores ainda não conseguem ver as pessoas além da deficiência. Nesse ponto a Lei de Cotas, oportuniza o ingresso da pessoa com deficiência ao ambiente de trabalho.
            A Lei de Cotas, é a Lei n° 8.213 de 1991, estabelece que, nas empresas com 100 ou mais empregados, haja uma representação de 2 a 5% de pessoas com deficiência no total de contratados. Essa lei foi uma importante conquista para as pessoas com deficiência, pois segundo o IBGE, o Brasil possui 23,9% da população com alguma deficiência, isso da um total de mais de 45 milhões de pessoas.
            Em casos de descumprimento da Lei de Cotas, as empresas recebem multas e em casos de negativa de emprego, isso é considerado crime. Mesmo assim ainda existe uma lacuna muito grande na contratação de pessoas com deficiência.
            De acordo com dados do Ministério do Trabalho e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), destes 45 milhões de pessoas com deficiências no país, apenas 381 mil delas estão no mercado de trabalho. A pergunta que fica é a seguinte, porque mesmo com a Lei de Cotas ainda há tão poucas pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
            As respostas são muitas, inclusive não é possível ter uma definitiva, mas de fato as maiores barreiras são a acessibilidade tanto no local de trabalho ou no trajeto até ele, além do preconceito, que pode atingir uma pessoa das mais variadas formas possíveis.
            Por esses e por outros motivos a Lei de Cotas não é "caridade" ou "vantagem", mas é sim política pública e privada que garantem a dignidade humana. A função das Cotas não é apenas a garantia de conquistas pessoais através do emprego, mas também inserir a pessoa com deficiência num contexto social sem discriminação, no qual ela possa construir uma vida de igual maneira a qualquer outro cidadão.

            Diante disso, cabe aos gestores construir políticas de inclusão de pessoas com deficiências nas empresas, mas ir também muito além do que manda a lei. Para isso, é necessário romper as barreiras e ver a pessoa com deficiência com um profissional habilitado e com capacidade para desenvolver suas funções. Somente assim a inclusão vai de fato acontecer!