Néstor Sarmento
O amor é maravilhoso principalmente
quando se pode estar com a pessoa amada. São tantas as demonstrações de
carinho, de afeto de paixão. Quando estamos juntos da pessoa amada, nosso
cérebro ativa a região responsável pelo amor. Passamos a ser mais ativos,
passamos a ser mais criativos. Quando amamos precisamos estar juntos, criamos
rotinas de aproximação, criamos compromissos, eventos, festas, tudo para estar
com quem amamos. Amar também é lotar a agenda do coração.
Mas e quando esse amor é imoral,
impossível, quando esse amor padece em desencontros e morre de expectativa?
Eles se conheceram por acaso, mas já
se gostaram no primeiro toque dos olhos, no primeiro sorriso, na primeira
conversa. Ele parecia encantado com ela, logo pensou que aquela era a mulher
que gostaria de dividir sua vida. Até descobrir que ela namorava. A tristeza
tomou conta de sua vida, pois quando encontrou a mulher de seus sonhos
descobriu que ela não sairia de seus sonhos.
Mas ele sabia que ela havia
correspondido ao seu olhar, e isso era sinal de que poderiam quem sabe no
futuro viver aquela sensação do primeiro encontro. Mesmo consolado pelos planos
futuros sentia-se furioso consigo mesmo, chegava a odiar as lembranças daquele
dia, era agressivo com seus pensamentos, ficava aflito cada vez que a
encontrava. A esperança de tê-la consigo era cada vez menor.
Então precisava esquecê-la,
precisava fazer alguma coisa para superar aquele estado de tensão que vivia.
Numa noite ao sair com amigos, reencontrou uma colega da faculdade e entre
conversas acabaram se reaproximando de uma maneira incrível, em pouco tempo, já
estavam juntos.
Ele estava amando, parecia ter
esquecido ela, até descobrir que quem estava solteira agora era ela. Havia
terminado o namoro. Quando descobriu isso, aquela aflição voltou, aquele desejo
de revê-la, de estar com ela voltou.
Mas quando se encontraram de novo
percebeu que ela havia mudado, percebeu que não era mais sorridente, que
evitava estar próxima dele e que não tinha mais aquele brilho no olhar. Eram os
mesmos sintomas que ele sentiu quando ela estava namorando.
Naquele momento ele teve certeza que
ela também o amava, que ela estava sofrendo por ele, assim como ele sofreu por
ela.
E percebeu-se numa situação sem
saída, continuar com quem ele estava e fazê-la sofrer tudo o que ele sofreu ou
largar tudo e tentar conquistar ela e serem felizes juntos?
Pensou muito, sofreu em silêncio,
mas resolveu continuar, não podia abandonar quem o salvou, não podia abandonar
quem estava sempre ao seu lado, não podia retornar ao passado.
A vida seguiu e eles seguem se
encontrando por aí, são apenas cumprimentos, com sorrisos discretos e sem
brilho no olhar, não conversam, se têm assuntos fingem segredo.
Se amam em silêncio para preservar a
beleza do sentimento, se amam em silêncio para não ferir as palavras, se amam
em silêncio porque não há como recuperar o passado.
O silêncio preserva a beleza do
sentimento, preserva a certeza que um dia amaram intensamente alguém a ponto de
se afastar não ferir o outro.
Trocam caricias pelos olhos porque
abandonaram as palavras, porque evoluíram a ponto de se satisfazer apenas
sentido a presença.