terça-feira, 18 de agosto de 2015

SIMPLICIDADE DA VIDA

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Bruna Beatris Berghan

Tudo na vida são momentos. Cada dia, cada hora, tudo na vida são momentos que provem de escolhas. Somos nós quem escolhemos o que vamos ser e o que vamos fazer. Tudo depende de qual caminho optamos.
Em uma aula de psicologia, em uma universidade, a professora pergunta aos alunos o que havia marcado sua vida, algo bom ou ruim, e qual era para eles o dia mais importante.
Os alunos foram um a um, se dirigindo para a frente da classe e diziam o que o professor havia questionado. Alguns falaram sobre a faculdade, outros sobre sonhos realizados. Um menino brincalhão, falou sobre uma picada de aranha, outro relatou o dia que andou de helicóptero.
Era possível perceber quando aqueles, que tinham mais posse, falavam que era quando ganharam um Camaro, ou quando ganhou uma roupa nova da Calvin Klein.
Todo mundo foi falando e mostrando quem era. Todos, até aquele momento, escolhiam as palavras, para impressionar os colegas. Acharam que era uma competição, onde quem impressionava mais, ganhava.
Aquele era o primeiro dia de aula, quase ninguém se conhecia. Tinham que mostrar com alegria que estavam ali para serem os melhores.
Até que um menino, que ainda não havia se apresentado, vai até a frente e traz seu relato. Diz que o dia mais importante da sua vida era o dia que plantou uma árvore. E disse ainda que aquele não era o único, que tinha também o dia em que marcou um gol no jogo com os meninos da rua. O conhecido por ele como os sem camisa e os com camisa.
Escolheu o dia mais importante de sua vida como aquele em que estava vivendo. A professora perguntou o porque. E ele disse: “Todo dia para mim é importante. Eu ganho cada dia, quando acordo, mais um dia. Isso é fantástico. Não, eu não estou com uma doença terminal, mas a cada sai que passa, quero que seja um dia aproveitado e não um passado em branco. Não sou louco, só vivo a vida.”
Toda a turma se chocou com a declaração. Obviamente por ele não ter dito nada para se vangloriar. Ele apenas disse, resumidamente, que a simplicidade faz a vida ser melhor.
 

domingo, 9 de agosto de 2015

UMA RUA DE HISTÓRIAS

Imagem: Google
 

Bruna Beatris Berghan

    Existem coisas em nosso cotidiano que por vezes nos passam despercebidas. Coisas que simplesmente passam por nossos olhos sem ao menos chamar atenção. Sem se tornar alvo de nosso olhar.
    Uma coisa me chamou atenção esses dias, e desconfio que poucas pessoas repararam naquela cena. Uma rua repleta de histórias e muito movimentada. Lá todo mundo repara quando quem chega é visitante. Prédios na rua toda. Alguns antigos, outros implorando uma reforma.
    Em uma rua tão cheia de histórias, tão repleta de contos. Lugar onde tudo acontece. Onde cada dia brotam do asfalto quente, histórias novas para contar.
    Em meio a violência, o tráfico e a prostituição, observei uma criança. Um pequeno ser humano que vive naquelas condições. Ele poderia muito bem ser uma criança triste, e seguir o caminho que a rua impõe. Mas ele era diferente dos demais. Ele não queria ser assim.
    Era um menino, de aproximadamente oito anos, que fazia o que toda criança dessa idade deveria fazer. Ele brincava. Exatamente, ele brincava com seu carrinho no meio fio. Em meio ao lixo, ele dava o seu brilho de inocência na calçada.
    Naquela calçada, em um pequeno pedaço dela, se coloria com o sorriso, com as gargalhadas e os sons que o menino fazia, imitando um carro.
    Em meio a rua sombria, as cores dos olhos alegres de uma criança pura. Em meio a mundo violento, um sorriso de alegria.
    Me perguntei porque só ele, por que não havia mais crianças brincando na rua, correndo, e pulando. Talvez por medo de ficar por ali ou por já estarem seguindo o destino que a rua deu-lhes. Ou, até mesmo, por não haverem mais nenhuma criança.
    Refleti em todas as possibilidades, até me deparar com aquelas que deixaram que uma simples rua definisse sua vida. Crianças que se tornaram adultos, ficaram com aparência cansada, se tornaram o que nenhuma criança deveria se tornar. Faziam o que não deveriam fazer. Se tornaram escravos do tráfico, da violência e da prostituição. Ganham a vida assim.
    Mas aquele menino não. Ele não é menino de rua. Vive em um orfanato da rua ao lado. Passa as tardes brincando na rua de histórias. E quando perguntado do porque não brinca no orfanato, onde é seguro, ele simplesmente responde: “Essa é a minha missão, colocar uma gota de esperança e alegria em um oceano de lágrimas”.
 

IRMÃOS PELO CORAÇÃO

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Bruna Beatris Berghan

Essa semana, na segunda feira, dia 20 de julho, se comemorou o dia do amigo. Uma data onde as redes sociais e todas as formas de comunicação, se encheram de mensagens aos amigos, mensagens belas a todos que nos representam amigos. Postagens aumentavam ao longo do dia, um simples feliz dia do amigo nos fazia sorrir.
    Em um dia como esse pensamos em quem são nossos amigos, em quem está do nosso lado em todos os momentos. Os amigos são todos aqueles que fazem parte do nosso convívio não apenas como um mero figurante, mas sim como alguém que muda nossa vida. Pessoas que nos querem ver pra baixo e pisam em nossas cabeças, obviamente não são amigas.
    Quando estamos no colégio, sonhamos que quando formos mais velhos, vamos ter um apartamento, no mesmo prédio que nossos amigos. Vai ser tipo uma série de TV. Onde vamos trocar experiências, fazer descobertas e fazer festa até altas horas.
    Quando crescemos, vemos que esse mundo fica na TV. Morar em um apartamento com amigos não é tão fácil quanto parece. Tudo tem um custo, e bem alto. Tem o condomínio, a conta de luz, de água, telefone, comida. Tem que arrumar um emprego e ir pra faculdade a noite. Chegar em casa exausta e ficar horas nos trabalhos. As festas e as noitadas se divertindo se tornam noites sem dormir em cima de trabalhos.
    Do dia do amigo, passei a uma vida com amigos diferente dos filmes e séries. A ideia de morar com nossos amigos, pode ficar apenas na ideia de quem sonhou. Mas o amigo continua lá.
    Os amigos são anjos que aparecem em nossas vidas. Às vezes vão embora, e deixamos de falar com eles. Vai ver era pra ser assim. Tudo tem um modo que deve acontecer, um caminho a seguir. Amigos eternos existem sim, e vão sempre existir. Amigos com um laço tão forte, que nem mesmo a ciência pode explicar.
    Os amigos que vão, deixam lembranças, histórias e saudades. Os amigos que ficam compartilham novas histórias e as relembram com boas risadas. Acabam virando padrinhos e madrinhas de casamento e de filhos. Tornam-se compadres.
    Seja qualquer um dos amigos, qualquer tipo de amigo, eles sempre serão nossos irmãos, nossos irmãos pelo coração.

SEMANA DE TRÊS DIAS

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Bruna Beatris Berghan

    A cada virada de ano, é dado ao mundo mais 365 ou 366 dias. É concedido doze meses para que os seres vivos que nele habitam, possam fazer suas escolhas e traçar seus caminhos. Cada dia que passa, e não é valorizado, é um dia perdido, um dia em que apenas passou.
    Deixar o dia passar e não viver é jogar ele no lixo. E podem ter certeza, muita gente faz isso. É só reparar nas redes sociais na sextas e nos domingos a noite. Muita gente carrega suas redes sociais dizendo: “Até que enfim sexta”, e nos domingos: “Que droga, amanhã já é segunda”. Essas pessoas se esquecem de que temos sete dias por semana, e pensam que a vida deveria ser apenas sexta, sábado e domingo.
    Antigamente, os casais apaixonados enxergavam na sexta o dia de ficar juntos. Esperavam a semana inteira para a sexta. E hoje, coincidentemente continua assim. Os amigos aguardam por aquela balada do fim de semana, onde vão gastar o dinheiro que foi adquirido, por eles, ou pelos pais, nos outros dias.
    O dinheiro usado para a diversão e lazer dos finais de semana, é adquirido no trabalho. Durante a semana, a vida não é só trabalho. É possível aproveitar os momentos em casa, na faculdade ou seja onde for, para não deixar passar em branco.
    A sexta virou o dia esperado, onde só ela é boa e o resto é complicado. Só nela podem haver sorrisos, e festas. Na segunda, nem pensar dar um sorriso ou comemorar algo novo. Na segunda só podem haver cabeça baixa pelo final de semana que passou.
    É como dizia meu avô, é necessário passar pela segunda, para se chegar na sexta. Pode parecer complicado, e às vezes, você pode até estar meio cansado, mais é necessário.
    Fazer coisas que o deixem animado pode deixar sua semana mais divertida. Aproveitar suas noites, com coisas que pareçam simples, mas que no fundo te deixam motivado para seguir pelos dias.
    Todos os dias são importantes. Sempre haverão obstáculos, degraus para uma subida. Não deixe de viver as segundas, as terças, as quartas e as quintas. Não viva somente sextas, sábados e domingos. A vida é curta demais para termos apenas três dias por semana.

 

UMA FOTO NA PAREDE

Paulo Mendes Campos


Antonio Silva

Sentado na cadeira em frente à porta, parecia contar os pingos de chuva lá fora, o vidro já embasado não atrapalhava. Certo mesmo é que estava longe, estava no tempo em que desprezava a velhice, que envelhecer era apenas uma palavra no dicionário.
Também era bom naquele tempo não ter noção de distância, saber que o tempo era mais longo, os dias demoravam a passar, mesmo assim desperdiçavam horas e minutos, eles nunca faltariam, amanha teria igual.
As tardes eram sufocadas pelo calor, o sol e seus raios lentos castigavam a pele ainda inocente. Mas vivíamos na tentação da bola, precisávamos nos reunir todas as tardes para vencer as outras faltas. Varávamos o sol, e nos encontrávamos a noite, tentando provar aos outros que éramos melhores.
Nem as brigas ou as futuras inimizades poderiam afastar aqueles meninos magros de cabelos escorridos. Não sabíamos que a terra era redonda, mas a bola era, a bola era a nossa vida. Ignorávamos a fragilidade do corpo, nem sabíamos que a vida era muito mais difícil que driblar entre as pedras soltas da rua. Caíamos com facilidade, mas engolíamos o choro, por questão de honra.
Quem marcasse o primeiro gol seria um herói, carregava o sonho de todos. Pode parecer pesado, mas não era. Éramos felizes e a felicidade também era a maior força. Não tínhamos camisas, os calções eram da cor que tínhamos, nos encontrávamos na terra pela amizade, o olhar certeiro, o passe mágico.
Uma única vez ganhamos uniformes, o time da cidade resolveu trocar, e seu antigo sobrou para nós. Era uma camisa alaranjada com listras pretas. Eram bem maiores que nós, mas nós éramos grandes ao menos em pensamento. Ao vestir as camisas ensaiamos passes, dribles e comemorações.
Jogamos um único campeonato, mas tínhamos pouco a mostrar, as condições (ou a falta delas) não nos deixou passar de um time com um esforçado zagueiro e com jogadores sem qualquer resquício de habilidade. Seríamos lembrados pelas minguadas alegrias.
Mas nem tudo foi tão ruim, antes do campeonato uma velha costureira ajustou os uniformes, mas nós preferiríamos achar que havíamos crescido. E o mais incrível, foi tirar a foto perfilados, como um time de verdade.
A foto foi o que restou da infância, na parede, sobrevive ao tempo. Erámos unidos pelos defeitos, pelas falhas, pelas carências. Não desejávamos nada a não ser jogar futebol, pertencer a aquele mundo.
O tempo antes longo e ignorado, chegou e levou todos, um para cada lado, corremos uma vida, mas nunca nos encontramos não recebi mais os passes, não marquei mais gols. Não se eles continuam ou se se esqueceram de acreditar. O tempo escraviza, amargura, consome, fomos consumidos pelas obrigações.
Tudo o que restou foi à foto na parede. Única lembrança de uma sincera alegria

PARA ONDE VAMOS?

Umberto Boccioni

Antonio Silva

            Todos os silêncios juntos faziam barulho demais, era preciso gritar para vencê-los. Mas sem liberdade os gritos são apenas murmúrios e de nada adiantam.
            Foi assim que ele decidiu largar tudo, esquecer as leis, as regras, o próprio caminho. Decidiu derrubar os dogmas e preconceitos. Correu mais rápido que o pensamento, suou muito de alegria.
            Desistiu de se adequar, desistiu de ser certinho, de tomar decisões coerentes, desistiu de girar sempre no mesmo vento.
            Decidiu viver, esquecer as dores, a solidão da dúvida, resolveu correr para o nada sem pressa de chegar. Ele decidiu tomar decisões e isso mudou sua vida para sempre.
            Ele passou a observar a beleza das pequenas coisas, a beleza das coisas se movendo, do tempo sendo o herói ao vencer pela sabedoria.
            Talvez todos os conselhos, fossem armadilhas do sistema que precisava de sua obediência para manter tudo em ordem.
            Talvez ser diferente doesse demais, ser diferente era ser crucificado na retina alheia. Mas a dor bem dosada é estimulante.
            Quando chegar ao ponto máximo, nada disso mais vai importar, quando vencer a guerra dos sonhos, quando for mais longe que o pensamento, quando entender que o tempo é apenas o menor de todos os momentos.
            Quando partir vai sentir saudade, o rompimento dos laços, a segurança serão os momentos felizes, a certeza é que a estrada é longa. Sabe que não poderá voltar, o passado é casa dos fracos, a morada do medo, a cobrança será cara demais.
            Se esquecer tudo poderá renascer, vai ao longe, o sol é seu guia a noite sua pousada. Quando percebermos que a metamorfose vem de cima, veremos que nada é permanente e que qualquer sorriso é vago se não houver amor.
            Vamos pensar diferente sair da caverna do conforto, vencer o medo de ser quem somos, vamos dar sentido a cada palavra.
            Tentei falar, mas você não entendeu. Mas estarei aqui sempre na calçada contando pedras a espera de você.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 379
SEXTA-FEIRA 24 DE JULHO DE  2015