domingo, 29 de março de 2015

O BOLO DA MADRUGADA

Robert Falk


Bruna Beatris Berghan

Árvores faziam sombra nela, a deixavam escura e sombria. Aquela casa que fechava uma das saídas da rua era digna de um filme de terror. Ninguém nunca viu quem morava lá. Atrevidos espiavam entre as grades do portão e tudo que conseguiam ver era um jardim com a grama bem cortada.
            Mas a casa era apenas um dos mistérios que assombravam a rua. Outra coisa que deixava toda a vizinhança confusa eram os bolinhos de chocolate deliciosos. Exatamente isso, os bolinhos que apareciam todas as manhãs nas portas de suas casas, dentro de caixas de papel rosa e com um laço amarelo.
            Vizinhos chegavam a ficar acordados, em prontidão para pegar o entregador, mas sempre cochilavam, era um sono impossível de controlar, e sempre quando acordavam lá estava o pacote.
            Muitos contavam uma lenda, diziam que somente uma pessoa seria capaz de ver quem entregava, alguém corajoso o bastante para ver seja quem for que leva o bolinho para suas casas.
            Uma manhã, o menino, Arthur, que morava ao lado da casa misteriosa percebeu que ela era a única casa que não havia a entrega, então de bom grado, resolveu que iria passar a noite em claro e investigar o portão da casa para ver se vinha dali seu bolo.
            A noite, ele se preparou e ficou na janela de seu quarto, até que às duas e meia da manhã um homem de barba longa e cabelos lisos sai do portão da casa misteriosa levando uma cesta cheia das caixinhas. O menino, sem pensar muito tirou uma foto do homem, para no dia seguinte mostrar para os vizinhos.
            Na manhã seguinte reuniu o pessoal do bairro e disse quem era o entregador misterioso, mostrando a foto. Um homem, conhecido como o dono da rua, Senhor Manoel, identificou o sujeito dizendo que ele, muito antigamente, era severo e não tinha muitos amigos. E deduziu que desta forma ele seria mais querido, mas pela timidez não quis sair de sua casa, durante o dia, para fazer amigos.
            Toda a vizinhança se reuniu e foi até o fim da rua encontrar o tal homem. Chegando lá disseram que seriam seu amigo e não o veriam com maus olhos. O homem, que agora sabemos seu nome, que é Juca, ficou feliz com a notícia e prometeu mais bolinhos no dia seguinte.
            Ah e outra coisa, que ainda ficou em aberto, sabem porque todos os homens adormeciam sem conseguir ver o homem? Isso tudo era sono mesmo, e até um pouco de preguiça. Por isso apenas o menino, que havia cochilado de tarde conseguiu capturar o mistério.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL EDIÇÃO N° 369 ANO X
SEXTA-FEIRA 27 DE MARÇO DE 2015

DO AMOR A DEVOÇÃO

Bafta

Antonio Silva

            Eles se amavam de fato. Mas ele não compreendia como ela o amava tanto, tanto mesmo.
            Ela jamais se cansava de agrada-lo mima-lo, de fazer coisas para vê-lo feliz. Até parecia que a felicidade dela estava ligada diretamente a felicidade dele.
            Ele amava muito ela, mas não dava a devida atenção a ela quanto recebia, não abandonava seus compromissos para ficar com ela. Não deixava de trabalhar uma hora a mais para jantar com ela, não abandonava o futebol do final de semana para ficar em casa assistindo filme com pipoca, não trocava o descanso dos feriados para um programa diferente.
            Ela mesmo diante de suas recusas não mudava seus hábitos. Parecia viver para ele, não tinha orgulho, mas tinha algo mais importante, tinha fé. Amar para ela era satisfazer e agradar o marido, e não por ser submissa, mas porque se sentia feliz com  isso.
            Ele nem se tocava o tamanho da dedicação dela. Vivia cheio de compromissos, cheio de reuniões, a esposa ficava sempre em segundo plano, sempre ficava para depois.
            Mas ela jamais mudava seus hábitos sua esperança era a própria explicação, jamais julgava ou questionava seu jeito, amaria ele até depois da morte, amar até a morte era para os amores comuns.
            Ela sempre fará tudo o que dizer, amará até o fim, respeitará sempre, entenderá sempre, perdoará sempre. Ela contraria quem diz que existe apenas uma forma de amar, ela criava formas de amor todos os dias, amava com mais intensidade a cada dia. Correrá riscos, criará coisas novas, criará ambientes.
            Ele parecia ter perdido a ambição, amava, respeitava, cuidava. Mas, os compromissos diários haviam consumido muito mais de seu tempo e sim também sua emoção. Ele se tornou seco, já conhecia seus caminhos do amor, conhecia as formas de amar e isso fazia com que nada mais o surpreendesse.
            Nenhuma das amigas dela entendia tanta devoção, nenhuma delas entendia toda a dedicação dela, aos olhos das outras era quase uma autopunição, ela se doava demais, amava demais.
            Os amigos dele invejavam aquela mulher e cobravam dele maior dedicação, maior atenção, maior envolvimento. Ele apenas respondia que cada um dava o que tinha de melhor.
            Para eles o amor era expectativa, mudavam todos os dias para poder se encantar, para se encontrar, para se quererem de novo. Renunciavam a repetição, queriam sempre as novidades. As novidades evitavam o desespero e reinventam o tempo.
            Nessa história de amor, ela representa a devoção, ele representa o amor.  O amor é alto suficiente e pensa que tudo o que fizer está bom, tudo o que faz é suficiente e sempre mantém uma postura mesmo sendo inseguro.
            Já a devoção é o oposto sempre fará mais e mais, sempre buscará algo novo, algo que encante ainda mais e que possa satisfazer o outro e por mais que consiga sempre buscará mais.
            O amor nunca entende a devoção, mas eles sempre se completam.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL EDIÇÃO N° 369 ANO X

SEXTA-FEIRA 27 DE MARÇO DE 2015

domingo, 22 de março de 2015

QUANDO A DITADURA VIER

Vito Campanella
Antonio Silva

            Não posso negar que sou um apaixonado pela polêmica, tenho a minha opinião, maluca sobre todas as coisas. Gosto de falar de quase todos os assuntos que fazem parte desse cotidiano doido que nos cerca.
            Entre política e futebol sempre vou escolher a bolinha, até porque o ambiente de debate é menos hostil e menos alienado. Discutir futebol é mais saudável, é sempre prazeroso mexer com a paixão das pessoas, achei incrível o comentário em uma postagem minha recente. O comentário não se limitava ao bom ou ao ruim, segundo quem comentou era apenas “um nojo”. Achei muito interessante provocar nojo em alguém.
            Já o comentário político é sempre hostil, o comentário político transcendeu a paixão futebolística. O comentário político se quer tem valor crítico, você simplesmente será taxado de contra ou a favor. Uma análise pobre que transcreve todas as opiniões sobre a atual situação político-social brasileira. Temos que abandonar os conceitos “contra x a favor” “gremista x colorado” “cão x gato” e olhar com maiores intenções do que as que rodeiam nosso próprio umbigo.
            Mas o que realmente quero com isso é apenas deixar claro aqui a possibilidade de comentar. Nós podemos comentar o que quisermos, como quisermos, onde quisermos, porque isso é democracia, isso é a plena liberdade de falar e ouvir apenas aquilo que queremos. Mas, mais engraçado ainda é ver as pessoas em pleno uso de seus diretos democráticos sair às ruas para pedir a volta do Regime Militar.
            Essa é uma questão que vai além dos simples fatos de esclarecer esses indivíduos historicamente do que foi o horror e o atraso do Regime Militar para o Brasil, mas acima de tudo entender que os próprios regimes totalitários que ainda existem estão se flexibilizando em prol da democracia.
            A democracia é umas das maiores evoluções da humanidade, uma das maiores responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento dos povos. Além do mais na atual conjuntura global é quase impossível que um regime totalitário venha a ter sucesso.
            Não posso deixar de imaginar se esses malucos pró-ditadura chegassem a conseguir seu objetivo, ou seja, recolocar a frente do Brasil um Regime Militar. Com certeza eu seria censurado e esse reles e quase insignificante comentário seria banido deste espaço. Provavelmente eu teria que pedir asilo em outro lugar além de ter que criar um personagem para poder voltar a escrever o que não seria tão difícil.
Mas fico a imaginar aqueles fizeram levantes pró Regime Militar via Whats App e Facebook, só para avisar nesse “novo” governo. Essas serão as primeiras coisas a serem censuradas.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL EDIÇÃO N° 368 ANO X
SEXTA-FEIRA 20 DE MARÇO DE 2015

terça-feira, 17 de março de 2015

A CUECA DO ARNALDO

Felix Nussbaum
Antonio Silva

            A superstição é a desculpa para o alívio. Pelo menos era essa a desculpa do Arnaldo para tantas manias e obsessões. Todo na sua vida era regrada, qualquer coisa fora do lugar poderia significar um sinal de azar.
            Se colocasse os talheres em ordem diferente poderia causar uma indigestão, escovar os dentes apenas da direita para a esquerda, da direita para cima, da direita para baixo. Se tropeçasse em alguma rua no outro dia trocava o caminho, se a orelha esquentava falavam dele. Passar em frente a espelhos nem pensar se caso acontecesse, não usaria aquela roupa por sete anos para evitar o azar.
            Não cabe citar todas aqui. Sei que não haverá tempo, paciência e nem espaço para todas as manias de Arnaldo.
            Tudo ia bem à sua rotina supersticiosa menos o seu time do coração. Não havia simpatia que pudesse fazê-lo contornar a má fase. Arnaldo resolveu agir, precisa ajudar seu time a se recuperar, mas como?
Resolveu então usar toda a sua superstição para mandar boas energias ao time, escolheu uma camisa e atribui a ela sorte, mas o time perdeu. Então ele resolveu não usar mais aquela camisa, passou a usar uma camisa por jogo, a cada derrota ele trocava até achar a camisa com a sorte certa.
Já havia usado quase a coleção inteira e nada. Era preciso fazer algo mais forte, mais poderoso. Então ele lembrou-se de seu último amuleto, seu mais poderoso objeto de sorte, aquele objeto que carregava desde o inicio de sua juventude. Sua cueca da sorte.
A cueca da sorte do Arnaldo era uma cueca azul que ele sempre usava em momentos importantes. Usou-a quando conquistou a primeira namorada, quando passou no vestibular, no concurso público, na carteira de motorista. Era a fiel escudeira de Arnaldo em seus momentos mais difíceis.
Então ele decidiu que toda a quarta e todo domingo usaria sua cueca azul para ver se seu time saia do buraco.
Foram três partidas com a cueca azul, foram duas vitórias e uma derrota. Derrota que seria determinante para Arnaldo abandonar a cueca, mas diferentemente, dessa vez ele vai seguir usando sua cueca da sorte, segundo ele resolveu dar mais uma chance para a superstição.
Os amigos de Arnaldo sabendo de sua superstição, resolveram aprontar com ele. Foram na casa dele, e enquanto dois conversavam para distraí-lo, outro foi até o varal e pegou sua cueca da sorte e trocou por outra igualzinha. Ainda pegou e deu um nó na cueca da sorte de Arnaldo. E dizem os supersticiosos que o nó em objetos de sorte se transforma em azar.
Agora é esperar para ver o resultado da próxima partida do time do Arnaldo. Arnaldo seguirá seu ritual da cueca de sorte, mas sem saber que aquela não é a sua cueca de sorte.
Nos resta torcer para que isso não dê m... no fim.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL
EDIÇÃO N° 367 ANO X PÁG 02
SEXTA-FEIRA 13 DE MARÇO DE 2015

A ATITUDE DE ROMILDO BOLZAN JR

Antonio Silva

            Já havia escrito isso em crônicas anteriores, e volto a dizer: Romildo Bolzan Jr. é o homem que vai salvar o Grêmio. 
            Bolzan entrou 2015 com uma divida de 297 milhões de reais, sendo que o orçamento do clube é de 253 milhões de reais. Isso significa que mesmo que o Grêmio fechasse as portas nessa temporada ainda assim não colocaria as contas em dia.
            Ai entra a importância da administração do politico Bolzan, em dois meses de gestão, ele cortou muitas das despesas do clube. Estima-se que já foram pagos 20 milhões em dividas, ou seja, Bolzan caminha para o equilíbrio financeiro.
            Com o equilíbrio financeiro o Grêmio recupera o crédito diante do mercado, e com isso consegue investidores para novas contratações.
Contratações que atendem pelo nome de Braian Rodriguez, uruguaio de 28 anos atacante algoz de 2013, mas esperança para 2015, e agora Cristian Rodriguez, meia de 29 anos com passagens e principalmente bagagem europeia além do bônus de ser um jogador de seleção uruguaia. Ainda chegou Maicon volante vindo do São Paulo para ser mais uma opção no meio tricolor.
Sobre as contratações são jogadores que estavam em baixa em seus clubes, Braian é um atacante extremamente instável e de poucos gols. Na escassez de qualidade, talvez ele seja uma alternativa, mas nunca uma solução.
Maicon é um volante de qualidade, sabe marcar e jogar, mas seu algoz no São Paulo foram os problemas de relacionamento. É uma aposta! Já Cristian vem com status de salvador, mas de fato ele é um jogador que não se firmou em Portugal aquilo que chamo de “segunda divisão europeia” e na Itália alternou bons e maus momentos e o fato de ser da seleção uruguaia, o que é a seleção uruguaia?
A esperança sempre é Felipão que nesta temporada mais do que nunca tem que tirar leite de pedra.
Não sei se serve de consolo, mas é assim que se começa a reestruturação de um clube, cortando gastos e investindo apenas o necessário. Temos o próprio rival como exemplo que num trabalho de quatro anos se reestruturou e já sabemos o que aconteceu.
O trabalho é longo, cheio de momentos difíceis, mas sempre compensa no final. Resta saber se o torcedor terá paciência.



Crônica Publicada 

sexta-feira, 6 de março de 2015

QUANDO NOS ESQUECEMOS DE NÓS

Gauguin
Antonio Silva

            A mudança é sempre uma oportunidade de recomeçar. Mas, são poucos os que gostam de se mudar. Naturalmente mudança remete a passado, é reencontrar aquilo que enfiamos em uma gaveta para nunca mais lembrar. A mudança é o reencontro com a memória, é a prova de que o passado segue vivo no fundo do armário.
            Aquela família era quase uma andarilha. Era incompleta em quase todos os sentidos. O marido não tinha mulher os filhos não tinham mãe. Uma casa sem mãe nunca será um lar. Uma mudança sem a mãe ou a esposa é certeza de esquecer as coisas mais importantes.
            Eles tinham muito pouco. Tudo foi em poucas caixas, as roupas, os móveis, as lembranças, tudo em pequenas caixas. Para eles a mudança não tinha mais o sentido de recomeço, mas, sim a oportunidade de esquecer. Mudar-se era esquecer, afinal alguma coisa sempre ficava para trás.
            Esquecer alguma coisa é absolutamente normal, às vezes, até deixamos na antiga casa coisas que não queremos mais, ou às vezes, não forçamos a memória para lembrar-se do que deixamos pelo caminho.
            Aparentemente eles não esqueceram nada, quando se tem pouco, poupa-se a memória, já que tudo cabe no olhar. Tenho certeza que levaram todos os bens materiais, todos os objetos pessoais, tudo aquilo que representou uma conquista em suas vidas.
            Mas, esqueceram-se do seu amor, da única demonstração de amor que ainda provava que eles eram humanos capazes de amar. O pior é que se tivessem esquecidos, poderiam usar a desculpa da pressa, da ansiedade e de tantas outras coisas para voltar buscar, mas não eles deixaram para se livrar.
            Deixaram na antiga casa os dois cães que acompanhavam a família. Deixaram, largaram, desprezaram os dois cães que os amavam com toda a sinceridade mesmo diante da fome, da sede, dos maus tratos, deixaram pelo caminho a última chance que o amor lhes deu.
            Os cães não tem esperança. Eles são a própria esperança. Os dois seguem em uma permanente vigília na casa esperando o dono voltar, protegem a casa. Esperam pacientemente o retorno daquele que um dia prometeu um lar.
            Dormem ao relento, passam fome, frio e outras tantas privações, mas não perdem a pureza. Quando passo por eles abanam o rabo e com um olhar triste parecem perguntar – Você sabe quando eles voltam, estamos com saudades – passo por eles em silêncio tentando entender como esses animais tem uma capacidade inimaginável de perdoar.
            Tenho certeza que se eles voltassem busca-los, seriam recebidos com muita festa. Jamais cobrariam os dias de sofrimento, de abandono. Simplesmente seriam recebidos com todo o amor que um animal pode dar para alguém.
            Para os cães é mais importante amar do que cobrar ou exigir, para os cães o abandono, a infelicidade é apenas um motivo para amar ainda mais, a incompreensão, o ódio, a tristeza tudo isso pode ser esquecido com um simples afago, um carinho simples, um sorriso simples.
            Todo o perdão vem da felicidade e ternura. Tudo na vida de um cão é festa quando consegue fazer alguém feliz, só assim eles são felizes também.
            Pena que os humanos ainda não entenderam isso.


 PUBLICADO NO JORNAL
 FOLHA DE NOVAHARTZ
 SEMANAL EDIÇÃO N° 366
 SEXTA-FEIRA 06 DE MARÇO DE 2015

quinta-feira, 5 de março de 2015





 Programa Bate Bola Feevale vai ao ar todas as quintas-feiras. Muito futebol e informação. 
Apresentado por Antonio Silva, Bruna Berghan e Rafael Severo.




terça-feira, 3 de março de 2015

O CASO DOS VIZINHOS

Vito Campanella


Antonio Silva


Em geral a relação com os vizinhos sempre foi boa. Moravam naquele lugar há anos e jamais tiveram qualquer problema. A casa do lado era alugada, de tempos em tempos trocavam os moradores, mas para eles pouco importava, para eles servia aquela máxima “cada um no seu quadrado.”
            A socialização entre eles e os vizinhos do lado se restringia a um simples cumprimento e às vezes aquela pergunta clássica quando não cabia o tradicional bom dia, sabe aquela “será que vai chover?”
            Mas, tudo mudou quando aquela família mudou-se para a casa ao lado. Diferentemente dos vizinhos anteriores, eles desde o primeiro dia, não se restringiram aos formais cumprimentos. Já tentaram uma aproximação, inclusive indo na casa do vizinho já no primeiro dia.
            A conversa era boa, pareciam gente de bem, e mesmo ele que não gostava de ter seu momento de descanso com a família interrompido, relevou em nome de uma possível amizade.
            As visitas aos poucos foram se tornando diárias, o tempo de permanência era maior e os vizinhos inclusive já se sentiam a vontade para opinar sobre os assuntos da família. Isso começou a irritar aquele homem tão calmo e sereno, chegou a dar algumas indiretas, só assim às visitas diminuíram.
            Mas, as coisas pioraram, os vizinhos, começaram a pedir as coisas emprestadas. Em determinado dia pediram o cortador de grama, no outro a mangueira, em outra oportunidade pediram o liquidificador. E assim seguiram os pedidos intermináveis e até absurdos, chegaram a pedir um colchão emprestado. Sem falar nos pedidos de sabão em pó, comida, até roupas.
            Além dos pedidos vieram o barulho, barulhos incessantes, era música alta, conversas, gritos. Pareciam que eles não tinham noção de que tinham vizinhos ao redor. Era uma situação terrível, eles já não aguentavam mais.
            Eles sempre relevaram, evitavam o máximo reclamar, ao contrário dos vizinhos do outro lado que já haviam chamado a polícia e tudo.
            Aproximava-se o final do ano e eles como sempre eles saiam de férias. Ah, as férias nunca tinham sido tão desejadas como nesses últimos tempos, as férias seriam um alivio daqueles vizinhos. Logo que as férias acabaram. E eles se preparavam psicologicamente para enfrentar os abusos dos vizinhos.
            Ao chegarem perceberam a casa vazia, passaram um ou dois dias, e nada dos vizinhos aparecerem. Até que o dono da casa apareceu, então o morador da casa ao lado perguntou: - Os moradores se mudaram? – O senhor dono da casa olhou intrigado e disse: - Mas, não há moradores aqui há tempos, até estou pensando em alugar a casa mesmo. –
            Ele sem saber o que dizer calou-se e foi para dentro de casa.

Moral da História:

            Às vezes, Deus testa as pessoas justamente nos seus defeitos para ver como elas reagem. Para ver se elas realmente são fiéis aquilo que dizem aos outros.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ PÁG 02
SEMANAL EDIÇÃO N°365
SEXTA-FEIRA 27 DE FEVEREIRO DE 2014