Bafta
Antonio
Silva
Eles se amavam de fato. Mas ele não
compreendia como ela o amava tanto, tanto mesmo.
Ela jamais se cansava de agrada-lo
mima-lo, de fazer coisas para vê-lo feliz. Até parecia que a felicidade dela
estava ligada diretamente a felicidade dele.
Ele amava muito ela, mas não dava a
devida atenção a ela quanto recebia, não abandonava seus compromissos para
ficar com ela. Não deixava de trabalhar uma hora a mais para jantar com ela,
não abandonava o futebol do final de semana para ficar em casa assistindo filme
com pipoca, não trocava o descanso dos feriados para um programa diferente.
Ela mesmo diante de suas recusas não
mudava seus hábitos. Parecia viver para ele, não tinha orgulho, mas tinha algo
mais importante, tinha fé. Amar para ela era satisfazer e agradar o marido, e
não por ser submissa, mas porque se sentia feliz com isso.
Ele nem se tocava o tamanho da
dedicação dela. Vivia cheio de compromissos, cheio de reuniões, a esposa ficava
sempre em segundo plano, sempre ficava para depois.
Mas ela jamais mudava seus hábitos
sua esperança era a própria explicação, jamais julgava ou questionava seu
jeito, amaria ele até depois da morte, amar até a morte era para os amores
comuns.
Ela sempre fará tudo o que dizer, amará
até o fim, respeitará sempre, entenderá sempre, perdoará sempre. Ela contraria
quem diz que existe apenas uma forma de amar, ela criava formas de amor todos
os dias, amava com mais intensidade a cada dia. Correrá riscos, criará coisas
novas, criará ambientes.
Ele parecia ter perdido a ambição,
amava, respeitava, cuidava. Mas, os compromissos diários haviam consumido muito
mais de seu tempo e sim também sua emoção. Ele se tornou seco, já conhecia seus
caminhos do amor, conhecia as formas de amar e isso fazia com que nada mais o
surpreendesse.
Nenhuma das amigas dela entendia
tanta devoção, nenhuma delas entendia toda a dedicação dela, aos olhos das
outras era quase uma autopunição, ela se doava demais, amava demais.
Os amigos dele invejavam aquela mulher
e cobravam dele maior dedicação, maior atenção, maior envolvimento. Ele apenas
respondia que cada um dava o que tinha de melhor.
Para eles o amor era expectativa,
mudavam todos os dias para poder se encantar, para se encontrar, para se
quererem de novo. Renunciavam a repetição, queriam sempre as novidades. As
novidades evitavam o desespero e reinventam o tempo.
Nessa história de amor, ela
representa a devoção, ele representa o amor.
O amor é alto suficiente e pensa que tudo o que fizer está bom, tudo o
que faz é suficiente e sempre mantém uma postura mesmo sendo inseguro.
Já a devoção é o oposto sempre fará
mais e mais, sempre buscará algo novo, algo que encante ainda mais e que possa
satisfazer o outro e por mais que consiga sempre buscará mais.
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