terça-feira, 17 de março de 2015

A CUECA DO ARNALDO

Felix Nussbaum
Antonio Silva

            A superstição é a desculpa para o alívio. Pelo menos era essa a desculpa do Arnaldo para tantas manias e obsessões. Todo na sua vida era regrada, qualquer coisa fora do lugar poderia significar um sinal de azar.
            Se colocasse os talheres em ordem diferente poderia causar uma indigestão, escovar os dentes apenas da direita para a esquerda, da direita para cima, da direita para baixo. Se tropeçasse em alguma rua no outro dia trocava o caminho, se a orelha esquentava falavam dele. Passar em frente a espelhos nem pensar se caso acontecesse, não usaria aquela roupa por sete anos para evitar o azar.
            Não cabe citar todas aqui. Sei que não haverá tempo, paciência e nem espaço para todas as manias de Arnaldo.
            Tudo ia bem à sua rotina supersticiosa menos o seu time do coração. Não havia simpatia que pudesse fazê-lo contornar a má fase. Arnaldo resolveu agir, precisa ajudar seu time a se recuperar, mas como?
Resolveu então usar toda a sua superstição para mandar boas energias ao time, escolheu uma camisa e atribui a ela sorte, mas o time perdeu. Então ele resolveu não usar mais aquela camisa, passou a usar uma camisa por jogo, a cada derrota ele trocava até achar a camisa com a sorte certa.
Já havia usado quase a coleção inteira e nada. Era preciso fazer algo mais forte, mais poderoso. Então ele lembrou-se de seu último amuleto, seu mais poderoso objeto de sorte, aquele objeto que carregava desde o inicio de sua juventude. Sua cueca da sorte.
A cueca da sorte do Arnaldo era uma cueca azul que ele sempre usava em momentos importantes. Usou-a quando conquistou a primeira namorada, quando passou no vestibular, no concurso público, na carteira de motorista. Era a fiel escudeira de Arnaldo em seus momentos mais difíceis.
Então ele decidiu que toda a quarta e todo domingo usaria sua cueca azul para ver se seu time saia do buraco.
Foram três partidas com a cueca azul, foram duas vitórias e uma derrota. Derrota que seria determinante para Arnaldo abandonar a cueca, mas diferentemente, dessa vez ele vai seguir usando sua cueca da sorte, segundo ele resolveu dar mais uma chance para a superstição.
Os amigos de Arnaldo sabendo de sua superstição, resolveram aprontar com ele. Foram na casa dele, e enquanto dois conversavam para distraí-lo, outro foi até o varal e pegou sua cueca da sorte e trocou por outra igualzinha. Ainda pegou e deu um nó na cueca da sorte de Arnaldo. E dizem os supersticiosos que o nó em objetos de sorte se transforma em azar.
Agora é esperar para ver o resultado da próxima partida do time do Arnaldo. Arnaldo seguirá seu ritual da cueca de sorte, mas sem saber que aquela não é a sua cueca de sorte.
Nos resta torcer para que isso não dê m... no fim.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL
EDIÇÃO N° 367 ANO X PÁG 02
SEXTA-FEIRA 13 DE MARÇO DE 2015

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