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Antonio
Silva
Era mais um dia de ônibus, já que
todos os dias pegava-o para atravessar a cidade para chegar ao jornal. A
lotação ultimamente fazia jus ao nome, já que às vezes era difícil até de
respirar. Ele era colunista de um famoso jornal, mesmo assim dentro do ônibus
era um ilustre desconhecido.
O fato de andar de ônibus dava-lhe
muitas ideias para escrever, um exemplo foi a crônica “lata de sardinha” que
fazia uma critica bem humorada sobre a superlotação dos ônibus, ouvindo
histórias de diferentes pessoas lançou o livro “46 sentados e 200 em pé.”
Aquele parecia ser um dia de ônibus, mas começou diferente, primeiro o ônibus
veio no horário, segundo ainda havia um lugar vago banco 42 correu e sentou,
terceiro ao seu lado havia uma moça de mais ou menos vinte e quatro anos.
Bonita? Não soube responder.... Como
era um bom observador automaticamente em sua mente listou as características da
moça loira, magérrima, um metro e oitenta, vestia um saia branca que deixavam
suas longas pernas amostra, uma regata laranja, nós pés um sapato estilo
amarrado cor creme, nas mãos um livro que parecia ler com intensidade e
atenção, o rosto pelo que dava para ver era longo, um corte de cabelo moderno e
nos olhos um grande óculos redondo que dava certo charme ao seu rosto.
A divisão entre ele e a moça era
feita por sua gigantesca bolsa, bolsa de couro muito bonita, aliás, após esse
Raio X da moça seguiu olhando o horizonte e vendo o ônibus lotar, logo a moça
fechou o livro e puxou a cordinha e levantou-se em direção a saída, José Costa
seguiu olhando aquela moça moderna e estilosa que caminhava em direção a saída
como se estivesse em uma passarela em Paris deixando para trás um rastro de seu
maravilhoso perfume.
Ele sempre descia na penúltima
parada, por isso seguia lembrando daquela moça quando olhou para o lado que
inacreditavelmente ainda estava vazio ou quase isso, já que aquela que ele
classificou ser grande e bela, a bolsa da moça ela deixou esquecida abandonada
no ônibus, ele olhou para o lado e disse para a mulher do outro lado do
corredor: -Ela esqueceu a bolsa- ela respondeu: -Abra.
Ele não abriu, ao descer pensou em
deixar a bolsa ali no banco, mas decidiu levá-la já que poderia no dia seguinte
reencontrar a moça e devolvê-la. Então levou a bolsa junto para o jornal, lá na
esperança de encontrar algo que pudesse levá-lo a dona da bolsa abriu e de lá
tirou muita coisa: dois batons, dois
esmaltes, uma lixa de unha, uma caixinha de chicletes, um lápis e uma escovinha
de cílios, um espelhinho, um pente, dois grampos, um pacote de lenços de papel,
um lápis, uma borracha, uma caneta multicolor, um cartão de visitas de um salão
de beleza, uma micro-camisola de seda preta, uma agenda em branco apenas como
uma rosa dentro, um par de brincos, um protetor solar, um prendedor de cabelo,
um livro chamado 46 sentados 200 em pé (sorriso largo) absorvente, um maço de
cigarros pela metade, duzentos reais soltos, uma foto de pinscher, um chaveiro
em forma de guitarra e lá no fundo uma carteirinha de um clube de natação.
Na carteirinha o nome, entrou em
contato com o clube de natação e pediu informações, a telefonista informou que
não havia ninguém com esse nome ali ele agradeceu e olhou a data da
carteirinha, estava vencida desde 1997. Depois de ver a mesa coberta com as
coisas da bolsa pensou cadê os documentos? Parou e começou a lembrar da moça,
voltou à cena do ônibus e lembrou-se de que ela carregava uma pequena bolsa
pendurada transversalmente ali deviam estar os documentos, portanto com ela,
sem saber o que fazer guardou cuidadosamente as coisas em seu devido lugar,
pois sabia o quanto as mulheres eram detalhistas saberia o lugar de cada coisa
no simples fato de olhar.
Guardou a bolsa e seguiu
trabalhando, levou-a para casa no ônibus além de olhares curiosos e alguns
risinhos, seguia aquele homem com bolsa de mulher, carregava a bolsa todos os dias
na esperança de reencontra-lá no ônibus, já havia feito dela quase um acessório
seu. Passou um, dois e no terceiro mês, tomou um decisão anunciaria no jornal
que havia encontrado um bolsa e assim o fez:
“Encontrei
no ônibus uma bolsa grande de couro preta,
a dona poderá recuperá-la indo
até minha casa no endereço....”
Ao chegar em casa logo a companhia
tocou, abriu e uma morena identificou-se como, dona da bolsa ele sabia que não
era ela, logo depois chegou uma senhora dizendo ser, também não, logo depois
chegou uma loira, alta, mas gorda ao contrário da verdadeira. Naquela noite abriu
a porta mais de cinquenta vezes e em nenhuma era a verdadeira dona da bolsa.
Já exausto desligou a companhia e
foi dormir, mas antes tomou uma decisão.
Na manhã seguinte saiu mais cedo e como naquele dia o ônibus também veio
no horário, entrou e ainda havia um banco vazio o mesmo de número 42, correu e
sentou largou a bolsa entre a divisória do banco e seguiu tranquilo, na
penúltima parada puxou a cordinha e saiu depressa deixando a bolsa, assim como
tinha acontecido com ele a senhora que estava sentada a seu lado só percebeu a
bolsa quando o ônibus já estava longe, ela olhou para a mulher que estava do
outro lado do corredor e disse: -Esqueceram essa bolsa- A mulher olhou e disse:
-Abra!