quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O Desafio Farroupilha foi realmente inclusivo?

Foto: Divulgação

O Desafio Farroupilha é um reality show gaúcho realizado pela RBS TV, afiliada da Rede Globo, no Rio Grande do Sul. O objetivo do programa é valorizar e exaltar a cultura do Estadol em uma competição que envolve música, dança e outras expressões do tradicionalismo.

Em 2017, por exemplo, a competição teve a temática da dança e o grande vencedor foi o CTG Farroupilha, de Alegrete sendo que a final ocorreu no Teatro Unisinos, em Porto Alegre. Em 2018, a temática foi inclusão social.

Como o próprio quadro anunciou o reality “Desafio Farroupilha 2018”, seria diferente e realmente foi, pois na sua quinta edição, o tema foi inclusão social. A escolha se deu para contar a história de uma moça cega que é apaixonada pela cultura gaúcha.
O reality nas suas edições anteriores sempre teve um viés competitivo, que termina com a apresentação final dentro do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (ENART), considerado o maior evento de arte da cultura gaúcha. Mas, logo no primeiro episódio a diferença ficou clara, pela primeira vez o reality não seria uma competição.

O fato de não ser uma competição foi explicado pelos apresentadores no início, logo com 1m44s, mas o que isso tem haver? No universo da inclusão tudo! Pois justamente quando se trabalha a ideia de incluir e mostrar o mundo da pessoa com deficiência não se compete, ou seja, se passa uma ideia de que as pessoas com deficiência não tem essa capacidade para competir.

Outro ponto importante é a apresentadora evidenciar o fato do reality ter LIBRAS e audiodescrição, como se isso “engrandecesse” a iniciativa do programa, mas para quem não sabe tanto LIBRAS quanto a audiodescrição são mecanismos de acessibilidades previstos na Lei Brasileira de Inclusão n° 13.146/2015.

Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, conforme regulamentação específica.

Ainda sobre o episódio um, ficou claro em vários momentos a falta de conhecimento de causa dos envolvidos, cometeram erros primários como confundir cego e deficiente visual, além disso, inúmeras vezes se repetiram as expressões “exemplo de superação, inspiração”, frases que dentro do conceito inclusivo, dificultam a inclusão de fato e distanciam a pessoa com deficiência das demais.

Entenda a diferença entre cegueira e deficiência visual:
Cego: É considerada cega a pessoa que não tem ou nunca a possibilidade de enxergar, já a pessoa com deficiência visual, tem diferentes graus de visão.

Vale ressaltar o nome do desafio “Olhos do coração”, logicamente, todos sabemos, que os corações não tem olhos e que nenhum cego enxerga pelo coração, mas então por que usar essa expressão? Simples! A utilização de figuras de linguagem, principalmente, emotivas evitam a discussão e a reflexão sobre determinado assunto, no caso, a inclusão de fato das pessoas com deficiência.

No episódio 2: Foi importante mostrar outros exemplos de inclusão em outras localidades, mas em todos eles se supervalorizou a ação, colocando tanto a pessoa com deficiência quanto os agentes inclusivos com seres diferenciados, quando na verdade apenas cumpriram seu papel. Novamente apareceu muito a ideia do exemplo, como se fosse obrigação de uma pessoa com deficiência ser exemplo para as demais. Outro ponto interessante foi usar o exemplo do Daniel, menino surdo-mudo, dizendo que ele aprendeu muito rápido, como se alguém que não fala e não ouve não pudesse aprender outras coisas.
Ainda nesse episódio um detalhe foi esquecido, em determinado momento aparece um moça surda, porém, oralizada fato que não foi explicado, sendo que o censo comum diz que todo surdo é mudo e vice-versa, mas na verdade isso é mito.
Nesse episódio também foi presente a ideia “Dom de ver, reclamar menos, pelo menos ouvimos a música e voz do coração”, essas expressões mesmo que de forma não intencionais demonstram preconceito.. Devo reclamar menos por andar quando encontro um cadeirante? Não! Devo entender que o fato dele não andar não o torna um coitado ou incapaz, e evidenciar as demais qualidades dele. Esse tipo de frase citada acima isola, consola e impede um olhar amplo sobre a capacidade da pessoa com deficiência.

No episódio 3, um das coisas que mais marca é a ingenuidade da ideia do “Troca de papéis”, como se viver algumas horas ou um dia a experiência de uma deficiência pudesse fazer com que alguém entendesse a complexidade da situação, isso além de não funcionar, ainda reforça sentimentos como superação, heroísmo entre outros que como citado acima atrapalham no processo inclusivo.
Neste episódio, logo aos 0:48s, o apresentador reforça a ideia de que não haverá competição no reality.  É neste que mais elementos errados são possíveis de encontrar palavras com “deficiente, transformação, males da deficiência, força de vontade, sofrimento” entre outros que marcam muito. É nele também que durante a troca de papéis que uma moça caminha sobre o piso tátil vendada dizendo que ele ajuda, sendo que esse piso é para ser tocado com a bengala, e também não se explica o que piso significa nem para que serve aquele que ela “andou” sobre.

O episódio 4, da atenção a acessibilidade dos CTG´s e mostra bons exemplos de adaptação, porém, novamente são comuns as expressões “deficientes, guerreiro, batalhador”, e novamente se confunde cego e deficiente visual, uma das frases mais marcantes do episódio “Vieram para salvar as outras pessoas”, como se uma pessoa com deficiência fosse um recado de Deus, um castigo ou um alerta.. E sabemos que a deficiência é uma condição da vida humana, então não cabe à ideia de castigo nem de benção.
O episódio 5, é a apresentação final, nele novamente estão presentes a ideia de superação, sentir na pele entre outras já citadas acima.

Considerações finais

Dizer que a mídia precisa evoluir muito para falar de pessoa com deficiência é, chover no molhado, por isso, eles deveriam dar mais atenção a causa e entender a importância de usar a nomenclatura correta, de não misturar conceitos, combater a ideia de capacitismo.

Em todos os episódios a apresentadora fez questão de lembrar da LIBRAS e audiodescrição como se isso fosse um “algo a mais” quando na verdade é obrigação das empresas de comunicação oferecer acessibilidade.
A formação acadêmica tem certa culpa nesse processo, afinal seja qual for o curso, o ensino é raso e não se da à devida atenção as causas como a da pessoa com deficiência. Mas, cabe ao jornalista se preparar, estudar e buscar conceitos com especialista, pois a abrangência de uma produção jornalística como esta é imensa, desta forma as informações e conceitos apresentados errados ou como similares compromete muito o processo de inclusão, principalmente, em uma sociedade na qual as pessoas tem o hábito de aprender pela televisão.

Desta forma e diante dos conceitos apresentados, é possível afirmar que o “Desafio Farroupilha” não é inclusivo, pois peca em questões primordiais para o processo de inclusão, além de ter se mostrado capacitista, supervalorizando as ações de uma pessoa com deficiência e criando a ideia de é preciso  uma “super ação” para de fato incluir.

terça-feira, 3 de abril de 2018

DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO



                     Desde 2008, a ONU (Organização das Nações Unidas), instituiu o dia 02 de abril como o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, um dia de reflexão e luta por uma melhor qualidade de vida e inclusão social das pessoas com Autismo. Estima-se que no Brasil existem aproximadamente 2 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e 70 milhões em todo mundo.
                Entre os principais problemas enfrentados pelas pessoas com autismo estão o preconceito e a discriminação cultural, já que a deficiência, na maioria dos casos, não é visível, ou seja, não apresentam aspectos visuais ou marcas no corpo.
                Em 2017, foi divulgado um estudo feito pelo CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, revela que uma a cada 100 crianças no mundo nasce com autismo, o que mostra que houve um aumento nos casos, pois há alguns anos, a estimativa mostrava que era um caso a cada 500 nascidos. A pesquisa ainda mostra que a maioria dos casos são em meninos.
                Segundo a Associação Brasileira de Autismo, (ABA), o Transtorno do Espectro Autismo, caracteriza por alterações presentes desde os primeiros anos de idade, tipicamente antes dos três anos, que tem como características principais dificuldades de comunicação, na interação social e no uso da imaginação.
                Vale ressaltar que não existe uma causa específica, mas existem estudos que dizem que o autismo tem origem em anormalidades genéticas em alguma parte do cérebro. O diagnóstico para autismo só pode ser feito através de uma avaliação de um neuropsiquiatria ou de áreas afins.
                O autismo tem algumas classificações que também servem para o diagnóstico e tratamento correto de cada caso, tais como: Autismo Clássico, Síndrome de Asperger, Autismo Atípico, Autismo de Alto Nível Funcional, Perturbação Semântica-Pragmática e a Perturbação do Espectro do Autismo (ASD).
                Apesar das pessoas com autismo terem uma certa dificuldade em interação social e comunicação, o espectro não impede que eles tenham uma vida como qualquer outra pessoa, entre os desenvolvimentos mais comuns estão a aprendizagem de línguas, raciocínio lógico e leitura de forma autônoma.
                O tratamento para o Autismo envolve várias áreas, pois é preciso fazer de forma global onde todos os envolvidos participem e interajam. O tratamento deve conter apoio educacional e familiar, desenvolvimento da linguagem e comunicação, fisioterapia entre outros métodos, pois cada caso possui sua especificidade.
                Os avanços de estudos na área do autismo e outras deficiências, cada vez mais temos métodos de inclusão social, o que possibilita a crianças com autismo desenvolverem suas potencialidades e terem uma vida social como qualquer outra pessoa.

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO N° 19 TERÇA-FEIRA 03 DE ABRIL DE 2018


terça-feira, 20 de março de 2018

DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN




              No dia 21 de março celebra-se o Dia Internacional da síndrome de Down. Essa síndrome é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células do indivíduo, também conhecida como trissomia, é importante ressaltar que a síndrome de Down não é uma doença, portanto, não é contagiosa ou transmitida. As pessoas com Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células ao invés de 46, como a maior parte da população.
                Segundo o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, estima-se que existam cerca de 300 mil pessoas com síndrome de Down no Brasil. Crianças, jovens e adultos com Síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estarem sujeitas a uma maior incidência de doenças, mas apresentam personalidades e características diferentes.
                Vale explicar que a síndrome de Down não contém um fator que pode causa-la, ou seja, não é culpa dos pais e nem poderia ser feito algo para evita-la. As pessoas com síndrome de Down podem e devem ter uma vida comum como qualquer outra pessoa, o mais importante é descobrir a forma correta para alcançar um bom desenvolvimento de suas capacidades dando a eles independência e autonomia para a realização de suas tarefas, desta forma uma pessoa com síndrome de Down, pode e deve ter uma vida autônoma como qualquer outra pessoa, isso inclui ir a escola como qualquer outra criança, namorar, trabalhar e se divertir.
                Entre as características de uma pessoa com síndrome de Down estão os olhos amendoados, maior facilidade para desenvolvimento de algumas doenças, problemas de visãoe deficiência intelectual. Outras características marcantes são o tamanho, geralmente, elas são menores e seu desenvolvimento físico e mental são mais lentos que crianças da mesma idade.
                Desta forma, para falar sobre uma pessoa com síndrome de Down, vale o mesmo conselho dado para qualquer outra deficiência, pois primeiramente, eles devem ser vistos como pessoas que são capazes de realizar qualquer atividade, merecem respeito e oportunidades nas áreas que desejarem e o mais importante devem ser respeitadas e estimuladas dentro de suas características e que isso sirva para que haja a inclusão de fato.
                Que este dia 21 de março seja um dia de comemoração pelas conquistas alcançadas, mas que também seja um dia de reflexão e conhecimento sobre a causa da síndrome de Down.

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO N° 18 TERÇA-FEIRA 20 DE MARÇO DE 2018

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terça-feira, 13 de março de 2018

NA DÚVIDA, PERGUNTE



               Uma das principais questões na vida de uma pessoa com deficiência é a o olhar alheio sobre sua deficiência. Muitos olham com olhos de admiração, outros com pena ou até medo, talvez, por isso, seja tão importante a questão da nomenclatura, afinal ela é a base do combate ao preconceito contra a pessoa com deficiência.
                Mas, o assunto desta coluna não é propriamente a questão da nomenclatura, e sim algo mais simples, porém, às vezes bem mais difícil do que saber a forma certa de se dirigir a uma pessoa com deficiência.
                Um dos desafios que enfrentamos é romper a barreira do medo das pessoas em perguntar para nós o motivo da deficiência, e isso por vezes contribui não só para alimentar o preconceito como também para impedir que se comece ali uma relação seja ela de amizade ou até mesmo profissional.
                Meu conselho nesse caso é bem simples: Na dúvida, pergunte! Afinal é assim que a gente pode tirar qualquer dúvida a respeito de qualquer assunto. Por isso, ao encontrar uma pessoa com deficiência e quiser saber por qual motivo ela tem uma deficiência, pergunte, mas obviamente seja educado e respeite o espaço do outro.
                Eu, particularmente, nunca me incomodei em explicar o motivo da minha deficiência, já perdi as contas de quantas vezes expliquei para as pessoas a razão da minha mobilidade reduzida, das minhas oito cirurgias e da longa recuperação que tive até chegar ao ponto em que estou hoje. Mas, assim como eu falo sem problema algum, existem pessoas que não gostam ou até tem dificuldade em falar sobre o assunto.
                O que percebo muito também é, que as pessoas tem vontade de perguntar, mas tem um certo receio, um medo ou uma insegurança, para isso vale a dica de perguntar, claro desde que a pessoa queira falar e se sinta a vontade para comentar sobre sua deficiência e como isso afeta sua vida.
                Sempre que passo por essa situação, tento explicar da forma mais didática possível, que sofri uma ameaça de paralisia cerebral que deixou uma sequela na minha perna direita, por isso, ao longo dos anos passei por oito cirurgias para corrigir os movimentos dela. Da mesma forma que conto gosto de saber das pessoas, o motivo de suas deficiências e com isso acabo virando amigo e tudo mais.
                Mas, você deve estar se perguntando onde isso pode combater o preconceito? Pois, bem, cada vez que nos propomos a entender algo estamos mais dispostos a não criar um pré-conceito sobre aquilo, ou seja, estamos mais próximos de compreender e aceitar as diferenças do outro sejam elas quais forem.
                Justamente, por isso, sou defensor do “Na dúvida, pergunte” afinal conversar ainda é a melhor forma de resolver a maioria das coisas.

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO N° 17 TERÇA-FEIRA 13 DE MARÇO DE 2018


terça-feira, 6 de março de 2018

8 DE MARÇO TAMBÉM É DIA DA MULHER COM DEFICIÊNCIA



                 Essa semana no dia 08 de março se comemora o Dia Internacional da Mulher, um dia de comemoração acima de tudo um dia de reflexão sobre o papel da mulher na sociedade. É nesse ponto que entra a questão da mulher com deficiência, que por muitas vezes, é esquecida e suas lutas por igualdade de gênero e direitos passam despercebidas.
                Isso se deve a falta de diálogo entre os movimentos feministas, associações de representação da mulher e os movimentos ligados das pessoas com deficiência, dando um destaque especial, as mulheres com deficiência. Somente com a união de todos esses movimentos é que vamos avançar na conquista de direitos e da representatividade necessária.
                A prova dessa lacuna está na invisibilidade da mulher com deficiência. É notória a ausência de percepção das mulheres sem deficiência com relação as suas iguais com deficiência. Uma prova são os eventos e rodas de conversa para discutir a questão da mulher, mas que não há a representação da mulher com deficiência.
                Ao falar de violência contra a mulher com deficiência se abre um leque imenso de questões, por isso, a necessidade de união coletiva e consciente para que essas mulheres tentam voz ativa na sociedade. Somente assim elas poderão enfrentar as situações de opressão, riscos, maus-tratos, coerção econômica e as mais diversas formas de exploração, tanto em casa quanto no ambiente de trabalho. Sem falar nas questões de preconceito decorrente da deficiência, pois nesse caso, os abusos e negação de direitos são ainda mais graves do que comparados a homens com deficiência.
                Ainda existe um desencontro entre o número de mulheres com deficiência e a reflexão sobre gênero no setor. De acordo com o senso do IBGE de 2010, o número de mulheres com deficiência no Brasil é 5,3 pontos maior que o de homens, dentre o número levantado pelo IBGE 26,5% são mulheres e 21,2% são homens. Conforme o relatório da International Network of Woman with Disabilities sobre violência, mostram que o número de violência contra mulheres com deficiência é três vezes maior do que contra homens com deficiência e na questão dos abusos sexuais e físicos as mulheres sofrem duas vezes mais que os homens.
                Somente discutindo a questão da mulher com a deficiência é que a inclusão de fato vai acontecer, principalmente para as mulheres com deficiência, para essa mudança realmente aconteça é preciso que ela seja feita de dentro para fora, somente assim é possível evitar reversão e retrocessos. Para que isso é necessário que as mulheres com deficiência se unam, sejam vistas, participem de eventos e busquem na sua cidade o conselho da pessoa com deficiência e contribuam nas discussões, somente assim é possível vencer e conquistar seu lugar de direito e destaque na sociedade.
                Que esse 08 de março seja um dia de reflexão e luta para todas as mulheres e que juntas possam conquistar todos seus direitos.

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO N° 16 TERÇA-FEIRA 06 DE MARÇO DE 2018


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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Deficiências não aparentes



Ao falar sobre deficiências abre-se um leque muito grande de características e especificidades. Mas, é muito comum também pensar que pessoa com deficiência é aquela em cadeira de rodas, com mobilidade reduzida, amputada ou má formada..enfim são muitas as características que podem definir uma deficiência.
                Eu, por exemplo, minha deficiência só é visível quando estou em pé ou andando, já se estou sentado ela passa despercebida. Mas, o que quero dizer aqui é que existem sim deficiências que não são visíveis ou que aparentemente não chamam atenção das pessoas, como é caso da fibromialgia, esclerose múltipla, cardiopatia, próteses e deficiências intelectuais.
                Muitos pensam que as deficiências não aparentes, são mais fáceis de lidar pelo fato de que não tem apelo visual e, que em tese poderiam ter uma "vida normal". No entanto, não éisso que acontece na realidade, muitas vezes o preconceito já começa em casa, pela falta de entendimento e compreensão das necessidades da pessoa. Muitas vezes sintomas como fadiga, cansaço e problemas de concentração, são tratados como preguiça ou desinteresse.
                O resultado disso é, uma dificuldade ainda maior de colocação social, já que as pessoas tem dificuldade de entender e compreender a deficiência não aparente. Isso acaba gerando uma série de preconceitos, pois é muito comum ver pessoas com deficiência intelectual, por exemplo, sendo chamadas de retardadas ou outras expressões pejorativas.
                Mas, e ai qual seria o caminho para melhorar essa situação? No contexto legislativo, recentemente foi aprovado o projeto de lei n° 346/2017 autoriza a colocação da expressão "pessoa com deficiência" na Carteira de Identidade, um passo importante para quem tem uma deficiência não aparente, pois evita uma série de constrangimento.
No contexto social, ajuda muito se pararmos de julgar as pessoas por sua aparência, conversar, entender, aprender sobre cada deficiência já é um grande passo para romper essa barreira do preconceito.

De fato a deficiência seja ela visível ou não está muito longe de ser compreendida, ainda somos estigmatizados por uma dificuldade, sendo que todos nós seres humanos temos algum tipo. O preconceito cega, e a falta de informação contribui para esse desconhecimento, por isso, além de incluir é, preciso discutir e levar esses temas para as ruas, escolas, universidades, debates políticos somente assim vamos de fato vencer o preconceito e enxergar além da deficiência. 

COLUNA SEMANAL NA EDIÇÃO 
DIGITAL DO JORNAL INTEGRAÇÃO
N° 15 TERÇA-FEIRA 27 DE 
FEVEREIRO DE 2018





segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

ACESSIBILIDADE, PARA QUÊ?


                  A acessibilidade é o que garante, ou deveria garantir, o acesso da pessoa com deficiência a locais, produtos e serviços, mas sabemos que na prática não é bem assim. Ainda estamos muito longe de ter cidades com acessibilidade, mas por falar em acessibilidade o que significa isso?
                Segundo o que diz a lei "acessibilidade é possibilidade e condição de utilização com segurança e autonomia de espaços, equipamentos, edificações, transportes, informação e comunicação, tanto em espaços públicos ou privados, de uso coletivo em zonas urbanas ou rurais, para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida."
                O conceito é completo, bonito, explicativo, mas entre ele e a realidade existe uma lacuna gigante, pois basta ir para às ruas para ver o desleixo e o desrespeito ao qual nós pessoas com deficiência, idosos e pessoas com mobilidade reduzida passamos. A qualidade das calçadas ou a ausência delas são um exemplo, sem falar nos degraus dos prédios e outros tantos desafios que enfrentamos diariamente para poder se locomover.
                A acessibilidade está presente em todos os momentos da vida de uma pessoa com deficiência e até mesmo das que não tem deficiência, um exemplo, é o idoso que precisa de rampas e corrimãos para acessar determinados locais. Outro exemplo é a colocação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, pois segundo um levantamento feito em 2016, a principal dificuldade para trabalhar é a falta de acessibilidade tanto no trajeto quanto no local de trabalho. As escolas também estão longe de oferecer acessibilidade, estima-se que apenas 19% de todas as escolas de ensino básico do país sejam acessíveis. E assim segue a questão do transporte público, calçadas e prédios tanto públicos quanto privados.
                Os desafios são vários, por isso, a acessibilidade não pode ser vista como um tema isolado, mas sim de uma forma que possa englobar toda a sociedade, seja através de políticas públicas ou até mesmo ações conjuntas de associações de bairro, pois se cada um fizer um pouco é, possível transformar a realidade. Boas condições de acessibilidade garantem o direito de ir e vir e também de existir, por isso, é papel de cada um de nós fiscalizar e contribuir para que as mudanças aconteçam.

                O caminho para a solução, em tese, seria a aplicação da lei, mas sabemos que isso é bem difícil, já que para a aplicação da lei deveria haver fiscalização o que também não há. Mas, então qual é a saída? No meu ponto de vista, a melhor forma de denunciar a falta de acessibilidade é, ir para a rua, é mostrar para as pessoas que estamos ali e que eles precisam olhar para nós e que precisam nos oferecer condições de estar nos mesmos locais que qualquer pessoa. 







terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Lei de Cotas não é "vantagem"


          É muito comum ouvir de algumas pessoas que a Lei de Cotas, oferece vantagens às pessoas com deficiência, porém, essa afirmação é equivocada e preconceituosa. O que alguns chamam de vantagens, podemos chamar de equiparação de oportunidades e correção de possíveis desvantagens na hora de concorrer a uma vaga de emprego.
            Sabemos que o preconceito na hora de escolher um candidato com deficiência pode pesar e muito, infelizmente os gestores ainda não conseguem ver as pessoas além da deficiência. Nesse ponto a Lei de Cotas, oportuniza o ingresso da pessoa com deficiência ao ambiente de trabalho.
            A Lei de Cotas, é a Lei n° 8.213 de 1991, estabelece que, nas empresas com 100 ou mais empregados, haja uma representação de 2 a 5% de pessoas com deficiência no total de contratados. Essa lei foi uma importante conquista para as pessoas com deficiência, pois segundo o IBGE, o Brasil possui 23,9% da população com alguma deficiência, isso da um total de mais de 45 milhões de pessoas.
            Em casos de descumprimento da Lei de Cotas, as empresas recebem multas e em casos de negativa de emprego, isso é considerado crime. Mesmo assim ainda existe uma lacuna muito grande na contratação de pessoas com deficiência.
            De acordo com dados do Ministério do Trabalho e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), destes 45 milhões de pessoas com deficiências no país, apenas 381 mil delas estão no mercado de trabalho. A pergunta que fica é a seguinte, porque mesmo com a Lei de Cotas ainda há tão poucas pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
            As respostas são muitas, inclusive não é possível ter uma definitiva, mas de fato as maiores barreiras são a acessibilidade tanto no local de trabalho ou no trajeto até ele, além do preconceito, que pode atingir uma pessoa das mais variadas formas possíveis.
            Por esses e por outros motivos a Lei de Cotas não é "caridade" ou "vantagem", mas é sim política pública e privada que garantem a dignidade humana. A função das Cotas não é apenas a garantia de conquistas pessoais através do emprego, mas também inserir a pessoa com deficiência num contexto social sem discriminação, no qual ela possa construir uma vida de igual maneira a qualquer outro cidadão.

            Diante disso, cabe aos gestores construir políticas de inclusão de pessoas com deficiências nas empresas, mas ir também muito além do que manda a lei. Para isso, é necessário romper as barreiras e ver a pessoa com deficiência com um profissional habilitado e com capacidade para desenvolver suas funções. Somente assim a inclusão vai de fato acontecer!



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Dois anos da Lei Brasileira de Inclusão e a garantia de direitos da pessoa com deficiência


            A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), popularmente conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, é originaria da Lei n° 13.146/2015, mesmo sendo criada em 2015, ela só entrou em vigor em janeiro de 2016. A lei protege, ensina e orienta sobre os direitos da pessoa com deficiência, considerada uma das leis mais completas do mundo ela é, oriunda da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, trazendo conceitos sobre impedimentos físicos, sensoriais, mentais e intelectuais, discutindo as barreiras sociais como as arquitetônicas, urbanísticas, de transporte, comunicação e tecnológicas, que impedem o exercício dos direitos.
                Mas, qual é o impacto disso no dia a dia, na vida cotidiana e como isso vem possibilitando a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade? Pois bem, esse é o grande desafio, a deficiência em si apresenta um certo grau de complexidade, mesmo a lei sendo completa e garantindo direitos em várias áreas, a falha está na aplicação e fiscalização. Para começo de conversa muitas pessoas com deficiência sequer conhecem a lei, muitas cidades não tem ainda o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, órgão de fiscalização e promoção de políticas de inclusão, que deveria estar presente em todas as cidades do país.
                Voltando a lei ela aborda a questão da pessoa com base nos direitos humanos, trazendo um modelo social, no qual o ambiente tem influência direta na liberdade da pessoa com alguma limitação funcional. Desta forma é, fundamental a criação de estratégias políticas, jurídicas e sociais que excluam a discriminação e auxiliem na quebra das barreiras, sejam elas arquitetônicas, sociais, culturais ou discriminatórias, e que deem a pessoa com deficiência autonomia e independência, só assim realmente teremos inclusão de fato.
                A lei garante a cidadania das pessoas com deficiência ao tratar de questões relacionadas a acessibilidade, educação, trabalho e combate ao preconceito e à discriminação criando um novo conceito de integração social.
                No que diz respeito a integração escolar, a Lei Brasileira de Inclusão obriga escolas públicas e privadas a aceitarem alunos com deficiência no ensino regular e a adotar medidas de adaptação necessária e sem cobrar mais caro do aluno.
                Como disse no início do texto a Lei Brasileira de Inclusão é bem completa no que diz respeito a questão dos direitos da pessoa com deficiência. Mas, nossas cidades ainda pecam na aplicação e fiscalização dessas medidas. A LBI está disponível na integra na internet para quem quiser conhecer e aprender sobre os direitos da pessoa com deficiência.

                Nesses primeiros dois anos temos que comemorar a existência da lei, mas cabe a nós pessoas com deficiência, exigir e fiscalizar sobre o cumprimento da legislação, caso contrário será apenas mais uma lei que não sairá do papel.


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

COMO QUE SE FALA MESMO?


            Certamente ao encontrar uma pessoa com deficiência, você já deve ter tido a dúvida de como se referir a nós, certo? Essa dúvida é muito comum, pois além da falta de informação, o receio de perguntar ou até o medo pode causar algum constrangimento.
            Hoje em dia já se sabe que o termo oficial é "pessoal com deficiência" (PCD), mas já fomos chamados de aleijados, inválidos, defeituosos, excepcionais.Todos termos que de certa forma eram pejorativos às pessoas com deficiência. Mas, importante destacar, que todos esses termos eram considerados oficiais, na Constituição de 1934, é comum encontrar os termos "aleijado, incapacitado, defeituoso e desvalido", na Constituição de 1937, surge o termo "excepcional" e somente através da Emenda Constitucional n° 12 de 1978, apareceu o termo "pessoa deficiente", já a Constituição de 1988, trouxe o termo "portadores de deficiência". Somente em 2009, na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi promulgada no Brasil pelo Decreto n° 6949/2009, trouxe a nomenclatura oficial: pessoa com deficiência.
            Como você pode ver ao longo dos anos muitas foram às formas de denominar as pessoas com deficiência, desde as mais pejorativas como aleijado ou defeituoso, até excepcional ou mesmo portador, esse um erro de interpretação,uma deficiência nunca poderá ser portada já que não é um objeto. Nem citei aqui a pior de todas que é "portadores de necessidades especiais", que para mim, é a soma de todos os erros possíveis para se referir a uma pessoa com deficiência.
            Vale lembrar também que a deficiência não pode ser vista como um acessório, que você tem a opção de portar ou não, desta forma, qualquer denominação com a palavra "portador" está errada. Já a denominação oficial "pessoa com deficiência" demonstra que a deficiência faz parte do corpo e, principalmente, humaniza a forma de tratar, ou seja, ser "pessoa com deficiência" é, antes de tudo ser pessoa.
            A discussão terminológica é muito ampla, existem inúmeros estudos e maneiras de se interpretar, porém, a mais correta até o momento, é a fornecida pela Convenção de 2009, não é possível saber se ela vai ser permanente ou em breve vai sofrer alguma alteração. De fato a terminologia, é importante para evitar preconceito, e certos constrangimentos, mas vale lembrar que antes de qualquer sigla ou deficiência existe uma pessoa e essa pessoa tem nome e sobrenome, e pode apostar que ela gostaria de ser chamada pelo nome.

            O conceito de "pessoa com deficiência" ainda é um conceito em construção, ele é o resultado da interação das pessoas com deficiência e as barreiras que enfrentamos diariamente e, que por vezes, nos impedem de ter efetiva e igualitária participação na sociedade. A partir desses conceitos,a deficiência deve ser pensada, como algo que resulta do indivíduo. A deficiência é uma característica humana, por isso, cabe a cada um de nós entender a potencialidade da figura humana, que vai muito além de um corpo físico.



terça-feira, 16 de janeiro de 2018

VAMOS FALAR SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA?




Inicio hoje na edição digital do Jornal Integração, a coluna Deficiência em Foco, na qual falaremos sobre os direitos das pessoas com deficiência e vários assuntos ligados à causa. Eu sou jornalista, tenho 25 anos e sou deficiente físico, devido a uma sequela de paralisia cerebral que afetou minha perna direita. A deficiência me acompanha e vai acompanhar durante toda a vida, e foi no jornalismo que descobri a necessidade de falar sobre esse assunto e pesquisar esse universo ao qual eu e mais 46 milhões de pessoas no Brasil estamos inseridos.
                Mas, antes de entrarmos em assuntos relacionados aos direitos da pessoa com deficiência, vamos entender todo esse processo de conquista e luta por direitos. Para isso, precisamos voltar ao ano de 1982 quando os movimentos sociais brasileiros garantiram a criação do Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, data que só foi oficializada 23 anos depois com a criação da Lei n° 11.133/2005.
                A partir de então, muitos avanços foram vistos no país em termos de direitos das pessoas com deficiência, principalmente, na área legislativa, tais como incorporação da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, em 2008, e a elaboração da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida com Estatuto da Pessoa com Deficiência, em 2015.
                Mesmo com leis que garantam a proteção legal da pessoa com deficiência estamos muito longe de ter uma sociedade realmente inclusiva. Ainda temosque lidar com diversas barreiras à acessibilidade encontradas em ruas, escolas, hospitais, meios de transportes e demais empresas que não cumprem ou até desconhecem a legislação.
                Se não bastasse isso, a atual conjuntura brasileira, é mais um motivo de preocupação, pois estamos diante de inúmeras ameaças e retrocessos no que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência. A reforma trabalhista pode acabar com a Lei de Cotas, que assegura a contratação de profissionais com deficiência em empresas com cem ou mais funcionários. Na questão previdenciária, a nova regra, cria obstáculos para o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), aposentadoria especial e à pensão por morte.

                Desta forma o cenário enfrentado pelas pessoas com deficiência, apresenta-se bem difícil, por isso, existe uma necessidade de união e debate entre nós e a comunidade geral para que essa luta seja coletiva na garantia de nossos direitos.