Arte: Jean-Léon Gérôme
Antonio
Silva
Jamais me importei com os
comentários, brincadeiras ou piadinhas que pudessem vir quando decidi deixar a
braba crescer. Não fui obrigado, coagido, pago, não estou seguindo a moda ou
algo do tipo, enfim, o fato de deixar a barba crescer foi apenas vontade
própria e gosto pessoal.
A partir disso as piadinhas e
comentários vieram, terrorista, ele não tem gilete em casa, ele vai ser
engolido pela barba. Sempre levei na brincadeira, até que, aconteceu o episódio
de alguém dizer que eu estava me preparando para ser Papai Noel.
Discordei na hora! Não gostei mesmo!
Primeiro porque nunca acreditei no tal do velhinho que te dá presentes no fim
do ano, segundo não tenho barriga, terceiro (e principal) jamais em minha vida
vou aceitar essa história de bom velhinho blá, blá, blá.
O tal do Papai Noel é um dos grandes símbolos
capitalistas disfarçados por uma crença individualista que alimenta o
capitalismo desenfreado. Sempre que me falavam nessa história de Papai Noel,
sempre perguntei: - Porque o Papai Noel não dá presente às crianças pobres? –
Simples! Os mais pobres são excluídos pelo capitalismo, sendo o Papai Noel um
símbolo “amoroso” deste sistema, ele automaticamente exclui os pobres.
O Papai Noel foi criado simplesmente
para aumentar a venda na época de Natal. Mas então porque cobrar bom
comportamento e outras coisas em troca de presentes? Simples! A ideia do bom
comportamento surge da necessidade de controle social, sendo assim
estabelecem-se regras e modelos de comportamentos, se você cumprir essas
regras, o controle capitalista é estabelecido, desta forma você recebe um “agradinho”
por colaborar indiretamente e inconscientemente com o sistema.
Desta forma ficamos diante de outro
conflito, como comemorar o nascimento do menino Jesus, pobre, humilde, que
nasceu numa manjedoura e ao mesmo tempo o Natal do velhinho capitalista que
contraria todos os princípios cristãos?
Sem falar que a comemoração do Natal
é em uma data pagã. Os pagãos comemoravam nessa mesma época do Natal, o que
eles chamavam de solstício de inverno (o dia mais curto do Hemisfério Norte),
após isso os dias começam a ficar mais longos. A celebração ocorria devido ao
calendário agrícola, que simbolizava a fertilidade do solo e a manutenção do
ciclo da natureza.
Mais um prova de que o tal do bom
velhinho é uma construção capitalista, em alguns shoppings do centro do país
você pode encontrar “Papais Noéis fitness” esqueça o velhinho de barba
comprida, barrigudo e com roupas compridas e largas. Nesses shoppings você vai
encontrar homens malhados, com roupas coladas e barba serrada, ai basta fazer o
seu pedido.
Parece difícil dizer não aos apelos
capitalistas, mas podemos sim! Podemos começar fazendo um Natal com menos
fantasia e mais humanidade, vamos esquecer a figura mística do Papai Noel, e
vamos nós mesmos construir um Natal melhor, e de forma bem simples. Basta
ajudar aqueles que estão próximos de nós, às vezes apenas um sorriso e um
cumprimento na rua já basta para melhorar a vida de alguém, vai valer muito a
pena e não vai custar nada.
Amor, carinho, gratidão, respeito,
solidariedade, paz, honestidade e outros bens imateriais que podemos dar as
pessoas são bênçãos divinas que nos foram dadas de forma gratuita e assim
também devemos distribui-las.
Ainda sobre o Papai Noel, depois de
falar tudo isso dele, acho que vou ficar sempre presente, afinal não segui as
suas regras, ou seja, não fui um bom menino.