Imagem: Félix Valloton
Antonio Silva
Ela ganhou fama naquela rua estreita, escura, de
casas pequenas, calma durante o dia, movimentada durante a noite.
Construiu seu nome em num quarto de um velho hotel,
frequentado talvez unicamente por homens lá ganhou admiradores, declarações
apaixonadas, juras de amor eterno, mudariam o mundo por ela. Mas, ela
inteligente ou simplesmente realista nunca se deixou levar pelas ofertas
tentadoras de homens pobres de espírito.
Ganhou muito dinheiro, fama e até matéria de jornal
foi “A Dama dos Conselhos” assim definida perfeitamente por um jornalista,
conseguiu salvar muitas almas, reconstruir vidas, tudo isso no anonimato
daquela rua estreita e escura, daquele velho e mal falado hotel.
Aos olhos alheios e aptos a julgar ela era apenas uma
prostituta que vendia o corpo para sobreviver. Talvez a beleza natural, a
aparência altiva, a confiança do andar, a delicadeza das roupas, denunciassem a
inveja alheia. Que contaminava olhos e distorcia opiniões sobre a vida daquela
mulher.
Mas, o que poucos sabem é que ela jamais tirou a
roupa, jamais tocou um de seus clientes, jamais beijou um daqueles homens.
Transformou a cama em seu divã, quem nela deitava a última coisa que precisava
era de um corpo nu, precisavam sim de uma mulher nua de preconceitos, nua de
julgamentos, nua de cobranças, precisavam de uma mulher de mente nua.
Na cama lado a lado era uma ereção gramatical, um
orgasmo de sentimentos revelados, a cama era um confessionário aberto, tudo se
falava, tudo se ouvia. Nunca homem algum hesitou em pagar, pois fazer sexo com
palavras era tudo o que precisavam.
Aos olhos vulgares uma prostituta, aos olhos
conhecidos uma dama. Que ignorou o sexo para construir amor, que deu o prazer
da companhia, da audiência aos dramas masculinos, e dizem que alguns femininos
também.
Ela apenas
ouvia, treinou seus ouvidos para guardar segredos, treinou seus ouvidos para
criar soluções, acalmar línguas sedentas de palavras, escreveu no seu corpo,
segredos guardados como tatuagens sentimentais todas as confissões guardadas a
sete chaves nas roupas.
E por vezes sem falar nada, apenas com o silêncio
dava tudo o que eles precisavam o incalculável prazer de ouvir.
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