quarta-feira, 16 de julho de 2014

A HISTÓRIA DE UMA DAMA

Imagem: Félix Valloton

Antonio Silva

Ela ganhou fama naquela rua estreita, escura, de casas pequenas, calma durante o dia, movimentada durante a noite.
Construiu seu nome em num quarto de um velho hotel, frequentado talvez unicamente por homens lá ganhou admiradores, declarações apaixonadas, juras de amor eterno, mudariam o mundo por ela. Mas, ela inteligente ou simplesmente realista nunca se deixou levar pelas ofertas tentadoras de homens pobres de espírito.
Ganhou muito dinheiro, fama e até matéria de jornal foi “A Dama dos Conselhos” assim definida perfeitamente por um jornalista, conseguiu salvar muitas almas, reconstruir vidas, tudo isso no anonimato daquela rua estreita e escura, daquele velho e mal falado hotel.
Aos olhos alheios e aptos a julgar ela era apenas uma prostituta que vendia o corpo para sobreviver. Talvez a beleza natural, a aparência altiva, a confiança do andar, a delicadeza das roupas, denunciassem a inveja alheia. Que contaminava olhos e distorcia opiniões sobre a vida daquela mulher.
Mas, o que poucos sabem é que ela jamais tirou a roupa, jamais tocou um de seus clientes, jamais beijou um daqueles homens. Transformou a cama em seu divã, quem nela deitava a última coisa que precisava era de um corpo nu, precisavam sim de uma mulher nua de preconceitos, nua de julgamentos, nua de cobranças, precisavam de uma mulher de mente nua.
Na cama lado a lado era uma ereção gramatical, um orgasmo de sentimentos revelados, a cama era um confessionário aberto, tudo se falava, tudo se ouvia. Nunca homem algum hesitou em pagar, pois fazer sexo com palavras era tudo o que precisavam.
Aos olhos vulgares uma prostituta, aos olhos conhecidos uma dama. Que ignorou o sexo para construir amor, que deu o prazer da companhia, da audiência aos dramas masculinos, e dizem que alguns femininos também.
 Ela apenas ouvia, treinou seus ouvidos para guardar segredos, treinou seus ouvidos para criar soluções, acalmar línguas sedentas de palavras, escreveu no seu corpo, segredos guardados como tatuagens sentimentais todas as confissões guardadas a sete chaves nas roupas.
E por vezes sem falar nada, apenas com o silêncio dava tudo o que eles precisavam o incalculável prazer de ouvir.

 

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