Imagem: Eduardo Kobra
Antonio Silva
A
fobia de estacionar entre dois carros teve inicio aos dezesseis anos, quando
seu pai ensinou-o a dirigir, mas não conseguiu ensiná-lo a estacionar. Até
completar dezoito anos e iniciar a carteira de motorista a fobia parecia ter
desaparecido, mas na verdade ela só estava adormecida.
Tanto que na hora de fazer a baliza ele tremia e suava
constantemente, o nervosismo fez com que ele reprovasse não uma, duas ou três
vezes, mas nove vezes. Na nona vez em meio à euforia de finalmente ter sido
aprovado jurou que jamais estacionaria entre dois carros.
O tempo passou, a vida mudou, veio o casamento e com ele
um filho, menino o qual tinha que levar a escola todos os dias e assim fazia, o
único problema era estacionar, dificilmente encontrava uma vaga que fosse numa
esquina sempre era em meio a dois carros, por isso parava longe da escola numa
rua pouco movimentada.
O menino não entendia porque o pai não estacionava
próximo a escola e quando estavam no carro, do banco de trás o menino gritava:
-Pai há uma vaga ali, ali pai aliii. Ele olhava e numa vaga que caberia uma
limusine, seu olhar fobiaco-traumático enxergava uma vaga onde caberia um fusca
apertando. A cada vaga que via, o menino gritava do banco de trás: - Pai há uma
vaga ali, ali pai aliii.
Em determinado dia pelo retrovisor o pai olhou para o
menino, com um olhar de ódio, auto-cobrança e incapacidade e disse: - Eu não
sei estacionar entre dois carros – após a resposta o menino parecia assustado e
calou-se. No outro dia no mesmo trecho o menino olha e vê um espaço vazio entre
dois carros (a mesma vaga do dia anterior), olha para o pai e diz: - Não há
vagas aqui, vamos para a próxima rua.
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