sábado, 23 de agosto de 2014

COLECIONAR É PARAR O TEMPO

Imagem: Google
Antonio Silva

Mexendo nas caixas durante a arrumação do quarto em meio a muita poeira encontrei uma caixinha pequena. Na qual havia várias coisas guardadas, lembrei que quando guardei aquelas coisas fiz pensando em mostrar para meus filhos como era minha infância.
Na caixinha havia vários tazos, figurinhas, cartas. Naquela caixinha encontrei o que sobrou de minhas bolitas ou bolinhas de gude como queiram.
Ao olhar aquelas coisas retornei aos meus dez anos, quando bater figurinha e jogar bolita era tudo o que precisávamos para ser feliz. Naquele tempo isso era ter status. 
Lembrei também dos álbuns de figurinha, juntávamos moedas para comprar chiclete só pelo doce sabor da figurinha. As rodinhas de troca era o mercado negro da época. Álbum completo era objeto de exposição, naquela época isso era ter status.
Lembro-me do meu maior desafio, quando joguei minhas figurinhas raras para um álbum para um amigo que não tinha, foi um grande desafio, momento de tensão e expectativa, juntou público ao nosso redor naquele momento. Não perdi minhas figurinhas e ainda ganhei um álbum para meu amigo. Naquela época ser companheiro era ter status.
As cartas com figuras estranhas era um jogo de inteligência, precisávamos de um raciocínio perfeito para vencer. Meu bodoque também tem muita história para contar, a mira quase perfeita no tiro ao alvo em litros vazios.
Conforme fui crescendo, vi essas coisas desaparecerem, vi a infância se transformar em vídeo game, depois em computador. As crianças de hoje não querem mais saber de figurinhas ou algo do tipo.
A diversão delas é ter milhões de amigos no Facebook mesmo que seja apenas para fazer número, aparecer em fotos com os melhores momentos mesmo que nem saibam o significado de felicidade, colecionar “selfies” em sorrisos falsos que apenas simbolizam a tristeza e a dificuldade que é permanecer no jogo das aparências.
A infância de hoje morre na pressa por crescer.

PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 347 SEXTA-FEIRA 22 DE AGOSTO DE 2014


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