domingo, 3 de agosto de 2014

AOS OLHOS DE ISABELA


Bruna Beatris Berghan

Olhos profundos e sonhadores em uma janela embasada da chuva eram só o que conseguia ver. Uma menina de dez anos que imaginava sua liberdade, com desejo de correr em um campo, de sair de sua prisão.
Isabela, uma menina rica, que morava no bairro nobre da zona sul de Porto Alegre, tinha uma mansão, que chamava de casa de pedra, pois assim era não havia jardim, pois seus pais detestavam grama, flores e qualquer árvore.
Mas a pobre menina queria sentir o cheiro da grama molhada, cheirar uma bela flor e abraçar uma árvore.
Um dia Isabela foi visitar os tios em uma chácara que ficava na cidade de Dois Irmãos. Ao chegar ao local, viu que estavam no portão a esperá-la.
A tia, Miranda, a convidou para entrar e tomar um café na cozinha. Enquanto conversavam, o tio, Augusto, disse que a levaria para um passeio, e mostraria todas as paisagens que tinham, desde as plantações, até os pomares.
Isa guardou seus pertences em um quarto que seu tio disse ser a cara dela. O quarto tinha desenhos de flores e todo cor de rosa. A menina estava feliz como nunca tinha ficado antes.
Augusto a chamou então para o passeio, e lá foi ela com sua máquina fotográfica para registrar cada momento. Viu que eles não tinham animais, mas era um sonho da família. Nas hortas e pomares ajudou o tio na colheita, levariam para o jantar.
À noite, na mesa, conversavam e saboreavam a bela refeição. Isabela, começou a falar que nunca tinha comido comida tão saborosa, disse que logo gostaria de voltar.
Na manhã seguinte, os pais, Ana e Gustavo vieram buscá-la, mas a garota não tinha acordado ainda, estava exausta, então a tia recebeu-os na sala.
Com o barulho de conversas Isa despertou, mas não desceu, pois ouviu que lá embaixo conversavam sobre como foi a visita que receberam. Escutou sua mãe dizer que essa teria sido a última vez, pois não queria vê-la ali.
Nisso Isa desceu as escadas correndo e disse que gostaria de voltar muitas vezes, porque sentia falta dos tios. A mãe a ignorou, fazendo com que ela voltasse para o quarto chorar.
Chegando, se jogou em sua cama e sentiu que havia algo embaixo do colchão que fez um barulho, provavelmente um papel. Curiosa levantou o colchão e achou fotos de quando era bebê, no colo de sua tia, e mais documentos que ela achava não possuir, como sua certidão de nascimento.
Ao pegar sua certidão, leva um susto ao ver o nome de seus pais, Augusto e Miranda, sem entender desce para a sala e mostra o papel.
A tia começa a chorar, e Ana arranca o papel das mãos de Isa que com lágrimas nos olhos pergunta o porquê da mentira.
Vendo que não daria para continuar com a mentira, resolveram contar a verdade. Isabela era filha de Miranda e Augusto, que trabalhavam como jardineiros na casa de Ana e Gustavo. Os dois moravam em uma pequena casa atrás da mansão, onde a menina nasceu. Vendo a situação difícil e uma chácara da família abandonada, Ana sugere que os dois comecem a construir sua vida lá, sem a filha, pois daria muita despesa.
Quando Isabela era bebê, via a mãe com frequência, porém aos quatro anos de idade Ana proibiu a mãe de ver sua filha, e ainda arrancou todo jardim que havia na casa.
Isabela diz a Ana que não entende o motivo de fazer isso, e decide que não voltará a morar em Porto Alegre, e sim onde sua mãe e seu pai estão, onde está sua felicidade.
Ana e Gustavo vão embora, orgulhosos, não deixam cair uma lágrima, enquanto Miranda e Augusto choram abraçando a filha que a muito não viam.
Hoje Isabela está com 25 anos, e prossegue morando em Dois Irmãos, onde, com o dinheiro que os “antigos pais” mandam todo mês para ela, comprou cabeças de gado para aumentar a renda da família, que inclusive está em crescimento, já que a pequena Isa, casada com um fazendeiro da região, está grávida de seu primeiro filho.

E OS OLHOS DE ISABELA JAMAIS PRECISARAM IMAGINAR COMO ELA GOSTARIA QUE SUA VIDA FOSSE.

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