Imagem: Theo Szcepanski
Antonio Silva
17 Anos
(menor de idade)
Morto com dois tiros pela
polícia.
Mas,
poucos conhecem sua história, ele antes de ter o desfecho trágico, já havia
morrido dezessete vezes.
Morreu
mesmo antes de nascer, sua mãe adolescente ironicamente tinha dezessete anos
quando morreu para os sonhos de menina, ao ser abusada pelo homem que deveria
ser o pai dele. A morte assombrou ela por nove meses, gestação indesejada,
casamento indesejado, brigas, por inúmeras vezes, de inúmeras formas tentou se
“livrar” do filho objeto indesejado.
Morreu
já ao nascer, a mãe finalmente se livrava daquele peso, e mesmo sem culpa ao
nascer expulsou de suas vidas seu genitor, já que nunca foi seu pai. A mãe sepultava
todos os dias os últimos desejos diante das dificuldades e do abandono de
todos. Encontrava no cigarro, na cerveja e na cachaça um antídoto corrosivo.
Morreu
ao beber o leite batizado que indiretamente já o viciava nas drogas livres.
Recebia do seio materno a herança de um mundo sem perspectiva, sem esperança,
sem sorrisos, sem afeto.
Morreu
na expectativa de uma festa de aniversário de primeiro ano, desacreditou na não
vinda de um misero presente. Presente que nunca veio nem páscoa nem no dia das
crianças e nem no natal.
Morreu
no primeiro dia de aula pela falta de materiais, morreu na concorrência desleal
com os colegas não ricos, mas, ricos o suficiente para despreza-lo.
Morreu
na solidão da tentativa do aprendizado, sozinho na escola, esquecido em casa,
não suportou a pressão desistiu logo da incessante batalha das letras.
Morreu
na ausência de um exemplo, de tanto ver a mãe fumar e beber, começou ao
natural, e a cada dia se parecia mais ao pai que nunca teve, mas, que renasceu
na violência contra a mãe.
Morreu
na insatisfação das drogas livres, até conhecer o fascínio do alivio das drogas
pesadas, mas, o prazer demandava dinheiro e não bastava vender a alma para o
Diabo era preciso ter dinheiro, mesmo vendendo a casa toda ainda precisava de
mais, e os pequenos furtos não ajudavam mais.
Morreu
ao ver a mãe definhar com cirrose e câncer de pulmão na infinita fila do SUS, e
mesmo no seu universo de valores inversos sentiu pela primeira vez na mais
completa solidão.
Morreu
ao ver sua divida com o demônio das drogas pesadas aumentarem, e sabia que
querer sair era apressar o reencontro com a mãe, sabe lá onde ela estivesse.
Morreu
na ignorância que fechou todas as suas portas na tentativa de arrumar um
emprego qualquer apenas para sustentar seu vicio.
Morreu
na inexperiência do trabalho novo, morreu ao tentar assaltar uma casa lotérica,
e ser surpreso pela policia que passava no local.
Morreu
finalmente! As duas balas romperam não apenas sua pele e dilaceraram o que
ainda restava por dentro, e sim o libertaram daquela escravidão social que o
castigou durante aqueles longínquos dezessete anos, enfim livre, enfim um
problema governamental a menos.
Morreu
no silêncio de tantos gritos de socorro.
Morreu
antes que a pergunta: O que poderia ter sido diferente? Pudesse ser respondida.
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