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Antonio
Silva
Era para ser apenas mais uma sessão
de autógrafos, mais uma de tantas em sua vida. Afinal já eram mais de vinte e
seis livros publicados. O novo livro era um sucesso assim como todos os outros
que ele havia lançado. Escrever para ele era o antídoto contra as agitações da
vida, quando sentava para escrever seu espirito se elevava, estava livre de
todos os problemas, alcançava a plenitude da alma.
Aquela sessão de autógrafos não era
em uma metrópole ou em um teatro luxuoso, ou naquelas galerias de artes
chiques. Foi autografar em uma cidade interiorana, num pequeno auditório
daquilo que era para ser a casa de cultura local.
O auditório lotou, fez fila do lado
de fora. Tanta era euforia em receber aquele autor que até ele ficou surpreso,
entre autógrafos e fotos foi passando a noite, a cada assinatura era um
sentimento diferente, conseguia a cada autógrafo colocar sua emoção e expressar
sua gratidão ao leitor.
Quando pegava o livro para assinar
podia sentir a vibração do leitor com suas palavras, captava da energia do
livro a inspiração para duas ou três palavras de carinho e agradecimento. Quase
no fim da sessão ao fazer uma pausa para um copo d’água, percebeu que havia na
fila um menino que parecia já cansado de ficar em pé, em uma mão segurava seu
livro e na outra uma sacola daquelas de pano com algo que parecia pesado.
Quando chegou a vez do menino ele
pegou o livro e autografou, mas o menino então revelou o que havia na sacola. Havia
mais de vinte livros daquele autor e ele pediu para que os autografasse, ele se
viu em um dilema autografar e deixar as outras pessoas esperando ou
simplesmente dizer um não, sem saber a resposta pediu para que o menino
sentasse em uma poltrona na fileira ao seu lado e disse para ele esperar que
depois conversariam.
Atendeu as outras pessoas e logo
depois chamou o garoto que sentou a sua frente e colocou a sacola entre as
pernas. Olhando nos olhos do menino ele disse: - Você me fez hoje passar por
uma situação que jamais imaginei – nesse momento o garoto baixou os olhos e
pensou que ele não estava gostando, mas ele continuou: - Jamais encontrei em
todos esses anos um leitor tão dedicado e ousado para fazer o que você fez –
Obrigado por ter feito isso, dê seus livros que vou autografar todos – nesse
momento os olhos do menino brilharam.
Alcançou os livros e viu um a um ser
autografado, e ainda ganhou um forte abraço ao final. O autor perdeu o horário
do próximo compromisso naquela noite, já que ficaram a bater papo sobre
literatura.
Perder um compromisso irritou sua
assessoria de imprensa que cobrou dele pontualidade, ele apenas riu e disse: -
Posso ter perdido o compromisso, o dinheiro, mas ganhei um dos maiores
presentes da minha vida aqui, ganhei a admiração de um leitor e para mim sempre
vai ser mais importante meus leitores do que qualquer compromisso.
Enquanto escrever sempre terei um
tempo para meus leitores.
PUBLICADO
NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 348 SEXTA FEIRA 05 DE
SETEMBRO DE 2014
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