domingo, 14 de setembro de 2014

O LIVRO QUE NUNCA GANHEI


Tiago Silva/VB
Antonio Silva


Estávamos todos em um auditório que se tornou grande devido aos poucos que ali estavam. Era uma noite de segunda-feira, para mim e meus colegas noite de texto jornalístico para os outros noite de reportagem jornalística, mas, de fato era menos uma noite no nosso sonho de ser jornalista.
Naquela noite tínhamos sido convidados a ouvir o jornalista Paulo Mendes do Jornal Correio do Povo. Que convidado pelos nossos professores traria um pouco sobre sua vivencia profissional e daria dicas sobre texto jornalístico e reportagem jornalística para nós acadêmicos.
Estava sentado no primeiro banco da primeira fileira da esquerda. Vi que ao chegar Paulo deixa atrás da bancada sobre uma cadeira uma sacola com alguns livros que pude ver quando ele pegou um deles um livro de Gabriel Garcia Márquez o qual não lembro o nome, para ilustrar e demonstrar o assunto falado. Então presumi que os livros ali contidos eram meros objetos de exemplificação.
Seguimos ouvindo a experiência e as histórias de Paulo Mendes. Eu seguia preso pelas palavras dele, e me interessei ainda mais quando ele fala sobre o jornalismo literário algo que me interessa muito, pois meu inconsciente nunca consegue separar o texto jornalístico do texto literário. Tive vontade de interromper e perguntar, mas, sabendo que as perguntas ficam para o final mantive meu silêncio.
Aproximava-se o fim da conversa quando Paulo em meio à abordagem do texto jornalístico. Ele abre um espaço para sua obra prima, sua satisfação, sua realização, seu combustível que o fez querer ser jornalista. O desejo de contar suas histórias da infância lá da sua cidade Júlio de Castilhos interior do Rio Grande do Sul.
Assim apresentou para nós Campereadas, livro que teve inicio em uma coluna de domingo no Caderno Rural do Correio do Povo, e que resgatou o espirito gauderio que ao longo do tempo foi sendo suprimido.
Colocou sobre a bancada três exemplares de Campereadas, fez a leitura do conto Para que nunca sejam esquecidos, que me fez imaginar as leituras que fiz de Simões Lopes Neto. Nem imaginava qual o objetivo de Paulo ao colocar sobre a bancada aqueles três exemplares. Até que ele diz que tem a intenção de premiar alguns dos presentes com o livro, mas como não havia livro para todos. Então meu professor sugeriu que as três melhores perguntas fossem merecedoras dos livros.
Fui o segundo a perguntar. Já me sentiria satisfeito com a resposta a minha pergunta, pois Paulo me incentivou a continuar a mesclar a informação com a literatura e que isso sendo bem feito seria um diferencial.
Fiquei de certa forma duplamente feliz, pois ao mesmo tempo que estava sendo incentivado a continuar com meu estilo, receberia mais um livro, mas não seria um simples livro, seria um livro que exaltava o gauchismo, o pampa e a nossa rica cultura gauderia cheia de charme que em nenhum outro lugar existe algo parecido.
Talvez já extasiado pelo fato deixei de ouvia as perguntas que foram feitas. Justo eu que nunca ganhava algo, eu que jamais tive a sorte de vencer um sorteio pela primeira vez eu venceria, pois eu tive a personalidade e a coragem de perguntar, já que ironicamente a timidez parece dominar essa geração de jovens jornalistas e isso os impede de perguntar.
Confesso que sou quase um consumidor de livros, tenho inúmeros, de vários gêneros. Admito também que já imaginava o Campereadas na minha prateleira de madeira crua. Ficaria numa pilha de quatro que ainda precisam receber um lugar. Ficaria sobre As Velhinhas de Copacabana de David Coimbra que estava sobre Jogada Mortal de Harlan Coben.
De fato é que talvez tomado pela emoção de conquistar aquele livro não percebi que possa ter havido uma quarta pergunta e que faltaria um livro. Mas, enfim na hora de distribuir o livro quando chegou a minha vez havia um livro para duas pessoas. Surgiu o empasse não havia como dizer que um havia sido melhor que o outro, pois ambos tinham o mérito da pergunta, o que fazer?
A professora que entregava os livros sugeriu que fosse feito naquela hora a coisa mais democrática que se poderia fazer. Decidimos no par ou ímpar, mas, meu característico azar se manifestou. Escolhi o par minha colega ficou com o ímpar. Coloquei dois dedos ela um, dois mais um: três, ou seja, impar. Perdi.
Fiquei triste, pois seu lugar já estava reservado na minha estante, e agora ficará vazio, por mais que possa vir a ser ocupado não será a mesma coisa. O lugar sempre estará lá a espera-lo.
Mas, essa tristeza poderia soar como egoísmo, então tratei de esquecer. Mas, não esqueci tanto que rendeu esta crônica.
*Ao ler a crônica Paulo Mendes me enviou um exemplar do Livro Campereadas.


PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 349 SEXTA-FEIRA 12 DE SETEMBRO DE 2014


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