Antonio
Silva
A vida é uma sucessão de fatos,
entre idas e vindas às cenas são sempre as mesmas, dizia o filósofo. Ele nunca
acreditou nisso, mas naquele momento começava a repensar, ou melhor, a pensar
no que acreditava ou não.
Ele que sempre via aquilo pela TV
jamais pensou que poderia acontecer com ele. Tudo bem que a cidade era
violenta, mas ele sempre tomava cuidado até que aquilo aconteceu.
Estava no banco tranquilo, já se
dirigia a porta quando de repente sentiu uma forte puxada pelas costas e antes
mesmo de raciocinar sobre o que poderia ser aquilo sentiu aquele cano gelado na
cabeça e uma voz no seu ouvido dizia – você é meu refém não tente reagir
senão.. –
Nem se quisesse reagir não
conseguiria, estava em choque, não se mexia, estava completamente travado. Aos
poucos foi recuperando os sentidos, aos poucos começava a perceber o mundo ao
seu redor, começava a acreditar no que dizia o filósofo a noticia de ontem se
repetia hoje, mas hoje era com ele.
Em silêncio começou a pensar na
própria vida, nas coisas que queria fazer, mas, sobretudo nas coisas que deixou
de fazer, olhando fixo para a parede viu passar o filme da sua vida, filme sem
grandes emoções, sem grandes aventuras, com muitas perdas e fracassos, mas era
sua vida e precisava permanecer assim imóvel para conserva-la.
Suava frio, seus músculos doíam de tensão,
seus olhos estavam esbugalhados. Por instantes quase desmaiou parecia que
estava saindo do próprio corpo, ao voltar a si criou coragem e começou a
questionar o assaltante que o mantinha refém.
Ofereceu dinheiro, ajuda para ele
mudar de vida, mas ele não aceitava, dizia que essa vida não tinha volta que
precisava fazer aquilo para provar que podia, mas provar para quem? Provar o
que? O diálogo de murmúrios só foi interrompido com os gritos de ameaça aos
policiais que tentavam negociar com ele, não havia negociação, ele precisava se
auto provar.
Ele vendo que não teria saída
resolveu se calar não conversaria mais com aquele que o colocava na situação
mais atormentante de sua vida e ainda com uma arma na cabeça, não haveria
conversa, não haveria negociação ele apenas torcia para que a polícia
percebesse isso logo, invadisse o banco matasse o bandido e o livra-se daquilo
logo.
Quando isso acontecesse ele iria
pedir demissão do emprego, iria se declarar para a vizinha que amava desde
criança, iria comprar uma moto e viajar o mundo, dar mais emoção ao filme da
sua vida.
Já se sentia
mais relaxado quando percebeu que a discussão entre o assaltante e a policia
ficou mais intensa, entre meio as vozes exaltadas ele ouviu – vou matar ele –
Então fechou os olhos sentiu o estalo do gatilho, parecia ouvir a bala vindo em
direção a sua cabeça, sentia o calor dos lábios da morte, sentiu o beijo fatal
que esfacelou seu crânio Bang!!! Era
o fim para ele.
Era o fim também para o assaltante que foi morto
pela policia em seguida, mas dentro de sua lógica morreu como herói, pois
conseguiu se auto provar.
PUBLICADO
NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL
ANO X EDIÇÃO N° 354
SEXTA-FEIRA
31 DE OUTUBRO DE 2014
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