Antonio Silva
Ele era um homem sério, íntegro e
100% fiel à mulher que dividia a vida, digo 100% fiel, pois ele era fiel até em
pensamento, jamais cobiçou outra mulher ao olhar, jamais pensou em outras
mulheres, sendo que a maioria dos homens ao menos pensa, deseja ou imagina um
casinho com aquela bonitona maravilhosa que cruza na rua, na academia, no
trabalho, mas ele não! Jamais! Jamais até conhecer ela.
Ela era a colega nova, uma mulher no
meio da homarada da empresa, e ela era um espetáculo de mulher daquelas de
admirar e contemplar cada centímetro. Todos naquele escritório sugavam-na com
os olhos, pareciam lobos sedentos observando a caça. Ela percebia e esnobava os
ensejos masculinos.
Ele mantinha sua postura, não olhava
mesmo suas mesas sendo frente a frente apenas separados pelo corredor, não
cobiçava, não desejava ela como os colegas, até em determinado dia ela veio até
ele. Precisava de algumas planilhas da
empresa, chegou e sentou a sua frente cruzando as pernas. Ele nunca havia
reparado naquelas pernas, naqueles seios grandes, naquela boca larga e vermelha,
naqueles cabelos vermelhos, e aquele perfume, por instantes se desconcentrou.
Conversa vai conversa vem, sopra um
vento pela janela aberta e as folhas que estão em sua mesa caem. Ele abaixa-se
para juntar e ela na tentativa de ajudar faz o mesmo, ele de joelhos num
movimento involuntário acaba levantando a cabeça e vendo a calcinha dela. Nesse
instante sentiu um calor no rosto como se todo o sangue do seu corpo viesse
para sua face, rapidamente olhou para ela e disfarçou e teve certeza que ela
não percebeu.
Mas, algo intimamente estranho lhe
aconteceu aquele dia, ele que nunca havia olhado ou pensado em outra mulher não
parava de pensar nela, não parava de pensar naquela cena. A calcinha era uma de
renda cor de rosa, daquelas bem pequenas provocantes que as mulheres usam em
momentos especiais.
Foi para casa atordoado precisava
parar de pensar naquela calcinha, mas também precisava parar de pensar na dona
dela. Quem sabe um banho gelado, quem sabe ler um livro, assistir um filme,
quem sabe transar... Nada! Resolveu dormir, dormiu mal, ficou naquele dormia e
acordava. No outro dia levantou cedo e foi trabalhar.
O trabalho era seu elixir, mas não!
Aquele dia não deu nada certo no primeiro dia após conhecer uma calcinha que
não fosse a nova de sua mulher. Naquele
dia pecou com toda a argúcia como nunca tinha feito durante toda sua vida
matrimonial. Seu dia resumiu-se a seguir com os olhos por onde ela fosse seus
olhos eram a plateia para o desfile das suas curvas e que curvas, malhadas dia
a dia em alguma academia da cidade.
Em um determinado dia ela faltou. Nessa
altura do campeonato já eram amigos, quase íntimos ela era sua única amiga. Ele
concentrado no trabalho, foi usar o grampeador e estava sem grampo, abriu a
gaveta e não tinha grampos. Foi até a mesa dela para ver se tinha, abriu a
gaveta e viu aquilo que fez seu coração disparar, esqueceu completamente dos
grampos, viu a tão inquietante calcinha rosa. Naquele momento sem pensar pegou
a calcinha e colocou no bolso.
Foi para casa e foi direto para o
banheiro, trêmulo de emoção, tirou a do bolso acariciou, olhou cada detalhe,
sentiu a textura no rosto, cheirou. Passado o êxtase pensou, será que ela
deixou de propósito? Será que ela percebeu meus olhares? Ou será que apenas
esqueceu? Será que irá buscar?
Naquele momento mesmo saiu e disse
para a mulher que voltaria ao escritório, pois havia esquecido o celular.
Chegou lá abriu a gaveta, mas antes de colocar sentiu-a mais uma vez, colocou
fechou a gaveta e foi embora.
Na segunda-feira, ele chegou e
tentou manter a naturalidade, ela chegou, e ele ficou observando de canto, ela
abriu a gaveta e a surpresa. Ela grita: - Quem colocou isso aqui? De quem é
essa calcinha? Que brincadeira é essa?
Nesse momento ele também ficou a
pensar de quem era aquela calcinha e prometeu para si mesmo que jamais se
encantaria pela calcinha de uma colega.
PUBLICADO
NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 352 SEXTA-FEIRA 10 DE
OUTUBRO DE 2014
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