quarta-feira, 25 de junho de 2014

OPERÁRIOS

Imagem: Tarsila do Amaral

OPERÁRIOS
Antonio Silva

Eles difundiram a arte da repetição,
Dia após dia fazem tudo sempre igual,
Levantam cedo.
Arrumam seu café.
Vestem sua armadura,
Um jaleco alguns verde outros azul.
E seguem seu rumo em multidão,
Sem sorrisos,
Sem expectativas,
Sem sonhos,
Seguem o único rumo,
Que seus pés sabem caminhar.
O barulho das máquinas é seu despertador,
O couro é sua segunda pele,
A cola é sangue em suas veias,
A esteira o batimento de seus corações.
Confeccionam sapatos para dormir à noite,
Confeccionam sapatos para suportar um dia inteiro em pé,
Confeccionam sapatos alheios à tristeza,
Confeccionam sapatos alheios ao cansaço,
Confeccionam sapatos a indiferença.
Para eles viver é se repetir,
Férias são pequenas mortes,
O seu tempo um carrossel.
Que passa mais rápido e cruel,
Confeccionam sapatos para andarem descalços.



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