sexta-feira, 20 de junho de 2014

FELICIDADE PADRÃO FIFA

Com a proximidade da Copa do Mundo, e a carga de exigências da Fifa, que simplesmente quer mudar até as leis nacionais, em prol do bom espetáculo que elitizou o esporte mais democrático de todos. Fico a pensar na minha infância, pois quando menino os padrões futebolísticos eram bem diferentes, e digo com propriedade.
No meu tempo, rua era campo de futebol. Descalços, os chinelos eram as goleiras, era um clássico eterno o time dos de camisa contra os times dos sem camisa, se não tinha bola um litro vazio de refrigerante vazio servia, uma bola retangular de chutes tortos, mas felizes. Quando tínhamos a sorte conseguíamos meias usadas, não era nada preciso o chute com a bola de pano, mas pelo menos não doía os pés.
Quando se descobria um campo, era um espetáculo de camisas, tinha camisas do Grêmio, do Internacional, da Seleção Brasileira, dos times de outros estados, até de algum time de fora que quase ninguém conhecia, às vezes até já se tinha uma bola que alguém conseguia, mesmo rasgada e muito usada, era bem melhor que os litros e as bolas de meia. O campo de pouca grama, dominado pela terra, era um desfile de pés, alguns descalços, outros de chinelo, outros de tênis, geralmente quem tinha algo parecido com chuteira era o craque do time, as luvas do goleiro era um par de havaianas às vezes branca e preta outra azul e branca.
A verdade é que naquele campo esburacado com mais terra do que grama, não importava se os times não tinham uniformes, se jogava descalço, de tênis, chinelo, se a bola era velha, se não se tinha espirito competitivo ou organização tática. O importante mesmo era chutar as diferenças, conservar as amizades, florir a infância, o objetivo era fazer mil gols contra as dificuldades de cada um, fazer mil gols pelocompanheirismo, fazer mil gols pela infância feliz.
Com tristeza percebo essas diferenças. Hojeainda há meninos como nós eramos em diversos campos de terra por ai, mas, também há meninos jogando uniformizados com camisas do Barcelona querendo ser igual ao Neymar, com camisas do Real Madrid querendo ser o novo Cristiano Ronaldo, todos com chuteiras Nike, Adidas, com bolas testadas milhões de vezes em laboratórios. A diversão para eles ficou em segundo plano, pois tem que competir ser melhor que o outro, vencer, ou serão esquecidos, e todo o investimento dos pais/empresários será em vão.
Mas, o encanto dos campos de terra sobreviverá para sempre, pois a felicidade não tem classe social, não tem exigências. A felicidade apenas faz com que você aproveite seu tempo, seja com bola oficial ou bola de pano, em campos bons ou ruins. O futebol não tem classe, não tem gênero.
E mesmo que se imponha um monte de regras, normas, padrões elitizados. Sempre existirá um pedaço de terra vazio quase sem grama para com improviso e muita alegria se jogar futebol.
Apesar da Fifa tentar jamais conseguirá privatizar a felicidade.
PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 340 SEXTA-FEIRA 06 DE JUNHO DE 2014

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