terça-feira, 24 de junho de 2014

ESSE CARA ERA EU

Imagem: Eduardo Nasi

Antonio Silva
            Foi depois de um encontro com os antigos amigos da escola que ele percebeu que sua vida havia parado, estavam todos casados, felizes, todos tinham família. Ele era o único solteiro. Ao sair da festa passou por um bar, iria beber e procurar uma mulher, ou pelo menos afogar-se nas lembranças da contagiante felicidade alheia.
            Depois de algumas cervejas, aproximou-se uma mulher, sentou ao seu lado e pediu uma cerveja, olharam-se ele sorriu ela devolveu, aproximaram-se as garrafas no balcão, aproximaram-se os corpos. O sorriso inicial transformou-se em palavras, as palavras aproximam e logo estavam colados.
            Trocavam mais que olhares, palavras, gestos, dividiam uma solidão e uma necessidade de completar-se, a noite passou rápido, as cervejas acabaram e o bar fechou, trocaram telefones e cada um seguiu seu rumo deixando um pedaço seu com a desculpa para voltar.
            Os encontros tornaram-se rotineiros, a aproximação foi rápida, intensa, quente, logo trocaram as palavras por beijos, às caricias tornaram-se mais intimas. Estavam embriagados de amor, viciados um no outro, passavam todo tempo trocando mensagens apaixonadas, encontravam-se toda a semana ou no bar ou na casa dele. Certa vez depois de beber um pouco demais e se exceder nos carinhos tentou levá-la para o quarto, mas ela recusou-se nada que abalasse aquela relação.
            Dias depois ela parecia estar a fim, diferente das outras vezes ela não quis ir para sua casa, levou ele até seu apartamento, beberam, conversaram, e  logo estavam, no quarto. Quarto um pouco escuro, mas não precisavam de luz eram guiados pelo extinto, pela excitação, pelo desejo de unir-se um ao outro e finalmente vencer a solidão, completar-se-iam e confirmariam aquela arrebatadora paixão.
            Paixão que nele provocava ciúmes intensos e nela uma certa indiferença, seu ciúme era tão intenso que ao ver sobre o criado mudo a foto de um homem já soltou-a e incomodou-se com a situação era percebível em seu olhar a indiferença e parecia incomodado só de pensar que ela poderia ter outro homem.
            Mas também pensava que aquele homem poderia ser seu irmão, um primo, quem sabe seu pai na juventude, ela percebendo seu desconforto tratou de acalmá-lo acariciando-o, mas ele parecia evitar seus carinhos, pensava e se não fosse seu irmão? Seu primo? Ou seu pai? Se fosse um ex, ou quem sabe outro? Será?
            Ele tentava seduzi-lo fazer voltar-se para ela, mas a duvida era mais forte, impedia-o de concentrar-se no tão esperado momento, era a chance de tê-la, de possuí-la como mulher de realizar suas fantasias, mas tudo isso, ficou em segundo plano ao ver a foto daquele homem que fosse quem fosse ele precisava saber, então perguntou a ela que já estava sentada na cama.
- quem é aquele cara da foto?
Ela demonstrava com o silêncio durante toda aquela cena que temia a pergunta, mas o temor disfarçado pelo silêncio não adiantou a tão temida pergunta “quem é aquele cara da foto?” foi inevitável. A curiosidade era puro ciúmes, pois em sua mente ele sabia e considerava-se muito mais bonito que aquele outro sendo ele quem quer que fosse, e sabia que ela jamais  sairia com ele, mas a dúvida é a mãe da traição e o silêncio o suposto pai, então ele repetiu a pergunta: - quem é aquele cara da foto?
Ela pensou em não dizer, ficar em silêncio e acabar com tudo aquilo, mas já o amava, o desejava, nutria seus sonhos aparentemente perdidos nele, e já considerava-se pronta para falar, já o amava o suficiente para falar....
Então disse: - o cara da foto?
Esse cara era eu!

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