sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ENTÃO É NATAL

Antonio Silva


            Então novamente me vejo perdido em meio à expectativa de mais um Natal que está chegando. Junto com ele todas aquelas falsas bênçãos que se não vierem acompanhadas de um belo presente virarão as mais cruéis das maldições.
            Ai eu penso: “Se existisse o prêmio do mais cético homem explicando o natal, eu venceria?” Não sei! Mas, não pense você que não gosto de natal por causa de alguma frustração como não ganhar o que queria ou não tirar foto com o tal do papai Noel. Pois é talvez ele é que seja frustrado comigo, já que eu nunca me dei ao luxo de acreditar nele. Sempre ganhei bons presentes, às vezes maiores do que a minha própria imaginação, mas eu sempre agradeci a meu pai e minha mãe, nunca desmereci o esforço deles agradecendo a um personagem capitalista.
            Sim, o tal do Papai Noel é  sim um produto do maldito capitalismo que tanto amamos. Nada é por acaso, tudo nele foi pensado, ele não veste roupa vermelha por acaso, mas sim porque o vermelho é uma cor de afeto, que chama atenção, por isso também é conhecida como a cor da paixão. Paixão está que desperta os mais variados sentimentos a favor daquele velhinho simpático que dispõe de seu tempo, mas porque um velhinho? Porque na lógica do convencimento pessoas mais velhas são dotadas de sabedoria e despertam menos atrito em possíveis discussões.
            Segundo a história criada para vender o natal. Esse mesmo velhinho vive num lugar muito distante produzindo os desejos das crianças bem comportadas durante o ano, esse ajudantes que trabalham não são duendes, mas sim os pais da crianças. Os filhos comportados são aqueles que vão a escola e não questionam, simplesmente processam o que recebe para no contraturno se entupir de televisão e assistir as propagandas dos produtos que o Papai Noel já fabricou para eles torturarem seus pais.
            Assim os duendes, digo os pais, vão ter que desembolsar um bom dinheiro para comprar o presente que o Papai Noel vai trazer para o robozinho que cresce diante da televisão e que mais tarde vai achar que o mundo é torto, vai fazer protesto em redes sociais e se achar um grande ativista, mas isso é assunto para outro dia, ok?
            Ah, o dinheiro não poderia passar sem falar no maravilhoso dinheiro, pois é motivado por ele que aquele senhor grisalho e barrigudo vai deixar a barba crescer, vai vestir uma roupa quentíssima mesmo num verão de 40º vai sorrir e tirar foto com um monte de criança.
            Mas, gostei muito de ver como as pessoas reagem a algo fora deste padrão, recentemente apareceu um “Papai Noel” todo tatuado e quase que ele fez o papel de Jesus, pois foi crucificado pelo povo moralista e padronizador que se diz pronto a conviver com as diferenças.
            Nunca me esqueço daquela frase: “Papai Noel não esquece de ninguém.” Uma baita piada de mal gosto, se pensarmos em todas as crianças pobres que o bom velhinho capitalista deixa para trás.
Lembro da história de um amigo de família muito pobre que morava no interior nessa época ele perguntava para a mãe porque o Papai Noel não vinha ela dizia, que era porque eles moravam muito longe. O tempo passou e eles foram morar em uma vila na cidade e o tal do velhinho continuava a não vir, então ele questionou, a mãe sem saber o que dizer justificou dizendo que o Papai Noel não devia ter o endereço deles. Doce desilusão.
O natal que realmente deveria ser comemorado, ou seja, o nascimento de Cristo não existe mais, pois o próprio Jesus ensinou como deveria ser, mas o que vemos hoje é exatamente ao contrário.
Jesus pregava a simplicidade, a união, a harmonia e a compreensão nesta data. Pena que com o tempo e com as transformações esses valores se perderam ou se inverteram.

Pobre de Jesus Cristo que nasceu no mesmo dia da celebridade chamada Papai Noel.





PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ
SEMANAL ANO X EDIÇÃO 361 PÁG. 02
SEXTA-FEIRA 19 DE DEZEMBRO DE 2014

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