quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A PICHAÇÃO DO DESTINO

Bruna Beatris Berghan


            Caminhando pela cidade vemos os muros, os monumentos históricos com suas pichações. Às vezes tão alto que nos faz pensar quem subiu ali e como subiu. Rabiscos abstratos que, por vezes, não sabemos o significado.
            Mas tudo isso, por mais que seja ruim para a cidade, me faz lembrar de uma história. A história de um rapaz, Sidnei, que era morador de rua. Abandonado pelos pais, vivia em uma praça, em frente a uma confeitaria. Todas as tarde o cheiro dos pães e bolos invadiam as redondezas, e Sidnei sentia muita fome. Mas não podia pagar, apenas comia o que o lixo daquela praça oferecia.
            Uma tarde olhando para a confeitaria, vê sair de lá uma moça, com um lindo avental bordado. O vento batia em seu rosto e sol acariciava sua pele.  Sidnei encantado com ela pensou: “É ela que me enfeitiça todos os dias com o aroma de suas delícias.”
            Depois daquele dia, ele prometeu que ganharia coragem, e iria falar com ela.
            Mas espere aí, lembram do assunto do início desse conto, já vou falar dele. Sidnei era um pichador, sim, é isso mesmo, era. Pois havia parado de fazer suas “artes” pela cidade por medo de ser preso.
            Porém a vontade de se declarar para a bela moça fez com que ele tivesse uma ideia. Ele iria pichar a parede da padaria com uma declaração de amor.
            E assim fez. Conseguiu a tinta com uns antigos amigos de farra, e na manhã seguinte ficou atento para quando a senhorita chegasse ao local. E se assustando no momento em que ela larga sua bolsa no chão e grita que aquilo não deve ser verdade.
            Sidnei, vendo que não gostara de sua arte, tomou coragem e foi até lá perguntar sobre o ocorrido. Ela reclamou, disse que em dois anos que tem a padaria, aquilo nunca tinha acontecido. Que mesmo com a bela mensagem escrita era errado.
            Ele então teve uma ideia e falou: “Senhorita qual é mesmo o seu nome”. Ela respondeu: “Clarice,e você?”.Ele então continuou: “ Sou Sidnei e Mem ofereço de bom grado para limpar suas paredes, Dona Clarice.” Ela adorou a ideia, e completou: “Em troca do serviço eu lhe darei um lanche.”
            Sidnei, mesmo passando fome, se importou mais em poder ficar perto dela, e admirá-la.
            E assim resolveu fazer, todas as noites ele rabiscava as paredes, e todas as manhãs as limpava. Mesmo sabendo que o que fazia era errado, se sentia bem por vê-la através da janela.
            Se passaram os meses, e todos os dias era a mesma coisa, até que em uma noite, ele empolgado e com saudades da amada, não percebeu que havia um policial na esquina.
            Vendo Sidnei pichando aquela parede, o policial não pensou duas vezes, e foi até o local para o levar a delegacia.
            Na manhã seguinte, Clarice vê apenas um pequeno risco e procura Sidnei, ver se ele já estava chegando para limpar sua fachada. Mas nada de encontrá-lo. Resolve então perguntar pela rua se alguém tem alguma notícia dele. Até que chega na banca de jornais, onde o senhor diz ter vido Sidnei e conta que ele havia sido preso por pichar a padaria.
            Ela sem acreditar, começa a ligar os fatos e percebe que ele faz isso com o intuito de vê-la. Que ele pode ser apaixonado por ela, assim como ela é por ele.
            Sem pensar, corre até delegacia com seu vestido esvoaçante e seu olhar brilhante de amor.
            Chegando no local, conversa com os policiais, dizendo que Sidnei fez aquilo só por amor, e que nunca mais irá se repetir.
             Mas como tudo tem um preço, a fiança sairia por R$ 3.000,00, as economias de dois anos de padaria. Mesmo sendo muito dinheiro, ela resolve pagar.
            Após toda a burocracia, Clarice fica na sala de espera aguardando a chegada de Sidnei. Que ao sair se depara com ela e abre um grande sorriso, a abraçando e pedindo desculpas pelo que fez.
            Ela diz que não é preciso e o leva embora. Chegando na confeitaria ele limpa a pichação pela última vez, pensando que aquele seria o último dia em que veria sua amada e ganharia o pão.
            Ao entrar no estabelecimento vê Clarice com os olhos cheios de lágrima, que diz: “Sidnei, quero que você trabalhe para mim, seja meu ajudante.” Ele sem pensar, diz: “ Quero muito, mas só se você aceitar ser minha namorada.”
A resposta não veio em palavras e sim através de um longo beijo, unindo aqueles dois seres para sempre.
            E nem é preciso dizer que os dois se casaram e continuaram fazendo seus pães e bolos, espalhando o aroma e bondade. Sim, a bondade, porque agora eles distribuem alimento para aqueles que não podem comprar.

            E Sidnei? Ele nunca mais pichou, apenas alimentou quem precisa, e levou a paz e a caridade para aqueles que não a tinham.

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