Bruna
Beatris Berghan
Caminhando pela cidade vemos os
muros, os monumentos históricos com suas pichações. Às vezes tão alto que nos
faz pensar quem subiu ali e como subiu. Rabiscos abstratos que, por vezes, não
sabemos o significado.
Mas tudo isso, por mais que seja
ruim para a cidade, me faz lembrar de uma história. A história de um rapaz,
Sidnei, que era morador de rua. Abandonado pelos pais, vivia em uma praça, em
frente a uma confeitaria. Todas as tarde o cheiro dos pães e bolos invadiam as
redondezas, e Sidnei sentia muita fome. Mas não podia pagar, apenas comia o que
o lixo daquela praça oferecia.
Uma tarde olhando para a
confeitaria, vê sair de lá uma moça, com um lindo avental bordado. O vento
batia em seu rosto e sol acariciava sua pele.
Sidnei encantado com ela pensou: “É ela que me enfeitiça todos os dias
com o aroma de suas delícias.”
Depois daquele dia, ele prometeu que
ganharia coragem, e iria falar com ela.
Mas espere aí, lembram do assunto do
início desse conto, já vou falar dele. Sidnei era um pichador, sim, é isso
mesmo, era. Pois havia parado de fazer suas “artes” pela cidade por medo de ser
preso.
Porém a vontade de se declarar para
a bela moça fez com que ele tivesse uma ideia. Ele iria pichar a parede da
padaria com uma declaração de amor.
E assim fez. Conseguiu a tinta com
uns antigos amigos de farra, e na manhã seguinte ficou atento para quando a
senhorita chegasse ao local. E se assustando no momento em que ela larga sua
bolsa no chão e grita que aquilo não deve ser verdade.
Sidnei, vendo que não gostara de sua
arte, tomou coragem e foi até lá perguntar sobre o ocorrido. Ela reclamou,
disse que em dois anos que tem a padaria, aquilo nunca tinha acontecido. Que
mesmo com a bela mensagem escrita era errado.
Ele então teve uma ideia e falou:
“Senhorita qual é mesmo o seu nome”. Ela respondeu: “Clarice,e você?”.Ele então
continuou: “ Sou Sidnei e Mem ofereço de bom grado para limpar suas paredes,
Dona Clarice.” Ela adorou a ideia, e completou: “Em troca do serviço eu lhe
darei um lanche.”
Sidnei, mesmo passando fome, se
importou mais em poder ficar perto dela, e admirá-la.
E assim resolveu fazer, todas as
noites ele rabiscava as paredes, e todas as manhãs as limpava. Mesmo sabendo
que o que fazia era errado, se sentia bem por vê-la através da janela.
Se passaram os meses, e todos os
dias era a mesma coisa, até que em uma noite, ele empolgado e com saudades da
amada, não percebeu que havia um policial na esquina.
Vendo Sidnei pichando aquela parede,
o policial não pensou duas vezes, e foi até o local para o levar a delegacia.
Na manhã seguinte, Clarice vê apenas
um pequeno risco e procura Sidnei, ver se ele já estava chegando para limpar
sua fachada. Mas nada de encontrá-lo. Resolve então perguntar pela rua se
alguém tem alguma notícia dele. Até que chega na banca de jornais, onde o
senhor diz ter vido Sidnei e conta que ele havia sido preso por pichar a
padaria.
Ela sem acreditar, começa a ligar os
fatos e percebe que ele faz isso com o intuito de vê-la. Que ele pode ser
apaixonado por ela, assim como ela é por ele.
Sem pensar, corre até delegacia com
seu vestido esvoaçante e seu olhar brilhante de amor.
Chegando no local, conversa com os
policiais, dizendo que Sidnei fez aquilo só por amor, e que nunca mais irá se
repetir.
Mas como tudo tem um preço, a fiança sairia
por R$ 3.000,00, as economias de dois anos de padaria. Mesmo sendo muito
dinheiro, ela resolve pagar.
Após toda a burocracia, Clarice fica
na sala de espera aguardando a chegada de Sidnei. Que ao sair se depara com ela
e abre um grande sorriso, a abraçando e pedindo desculpas pelo que fez.
Ela diz que não é preciso e o leva
embora. Chegando na confeitaria ele limpa a pichação pela última vez, pensando
que aquele seria o último dia em que veria sua amada e ganharia o pão.
Ao entrar no estabelecimento vê
Clarice com os olhos cheios de lágrima, que diz: “Sidnei, quero que você
trabalhe para mim, seja meu ajudante.” Ele sem pensar, diz: “ Quero muito, mas
só se você aceitar ser minha namorada.”
A resposta não
veio em palavras e sim através de um longo beijo, unindo aqueles dois seres
para sempre.
E nem é preciso dizer que os dois se
casaram e continuaram fazendo seus pães e bolos, espalhando o aroma e bondade.
Sim, a bondade, porque agora eles distribuem alimento para aqueles que não
podem comprar.
E Sidnei? Ele nunca mais pichou,
apenas alimentou quem precisa, e levou a paz e a caridade para aqueles que não
a tinham.
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