Fraga
Antonio
Silva
O time do Murilo não tinha uniforme
para jogar, jogavam sem camisa ou com uma da mesma cor, sem número sem nada.
Mas, Murilo queria resolver esse problema reuniu os amigos e juntaram as
economias para comprar um tecido azul e um branco para fazer um fardamento.
Feito isso, entregaram os tecidos
para a mãe do Marquinhos que era costureira fazer os uniformes. Os números eles
mesmos pintaram com uma tinta amarela que compraram com o dinheiro que havia
sobrado dos tecidos.
O problema dos uniformes estava
resolvido, mas um maior ainda assombrava Murilo e seus amigos. Precisavam
vencer a turma da rua de cima. Não venciam há muito tempo, e a zoação era
forte, já circulava pelo bairro que o time de Murilo passaria a se chamar o
“Time que nunca venceu.”
Quando o time da rua de cima soube
que Murilo e seus amigos tinham conseguido uniformes. Imediatamente Marcão o
capitão da rua de cima chamou os companheiros de time e mandou desafiar Murilo
para um jogo no final de semana.
Aquela noticia estremeceu Murilo e o
resto do time. No sábado teriam que estrear o uniforme novo ou além de não
vencer seriam chamados de cagões, mas não aceitar o desafio era confirmar que
eram cagões. Murilo então respondeu que aceitavam o desafio.
Treinaram um pouco durante a semana,
pois sabiam que tinham um grande desafio pela frente, vencer o time de Marcão era
algo raro nos últimos anos e estrear o novo uniforme com o máximo de dignidade
possível.
O time do Marcão não treinava. Os
garotos eram uns monstros comparados aos meninos das outras ruas, Marcão era o
mais temido, um negrão forte devia ter uns 20 anos, os fios de bigode
denunciavam, mas ninguém nem mesmo os companheiros ousavam perguntar.
Marcão era zagueiro e capitão da rua
de cima. Murilo era atacante e capitão da rua de baixo. A diferença física era
enorme, Murilo tinha apenas 13 anos e era magrelo, e Marcão como eu disse era
fortão e beirava os 20 anos. O encontro entre eles era inevitável.
No sábado o sol saiu logo cedo e
brilhava ansioso pelo confronto. Duas da tarde chegavam no campinho Marcão e
sua galera vestindo um fardamento todo preto se não fossem jogar bola poderiam
muito bem ir a um velório. Logo depois chegou Murilo e seu time, vestiam uma
camisa azul com números amarelos, calção e meias brancas.
Antes de começar o jogo Marcão riu e
disse: - Belo pano, vou secar seu sangue com ele se fosse se engraçar. –
Começado o jogo o time do Marcão partiu para cima e parecia que novamente ia
massacrar o time de Murilo, que era salvo graças aos milagres de goleiro Luís.
Mas, em uma escapada Carequinha
lançou para Murilo que saiu livre nas costas de Marcão e colocou na saída do
goleiro. 1x0. A tensão aumentou, o time do Murilo dominava depois do gol,
quando Marcão chegou no ouvido de Murilo e disse: - Mais uma vez que passar por
mim quebro sua perna. –
Novamente Carequinha escapou e
lançou para Murilo que dominou e sem querer deu um chapéu em Marcão deixando-o
sentado na grama. Quando percebeu o que tinha feito apenas pensou “Ai minha perna,”
mas, já que teria a perna quebrada mesmo chutou forte no canto esquerdo 2x0.
No fim Marcão nem quebrou sua perna,
mas prometeu: - No campeonato do bairro pego você. – Depois do jogo era só
festa, foi aí que Carequinha o maestro do time disse: - Não devemos lavar as
camisas, pois senão perderemos nossa sorte. – Na dúvida todos concordaram.
Voltaram apenas a vestir o uniforme
um mês depois quando começou o campeonato do bairro. O cheiro de suor era
encarado como uma questão de sorte e para vencer tudo valia. E se suor
realmente fosse sorte naquele dezembro escaldante isso não faltaria.
Era sorte ou mau cheiro, mas, o time
do Murilo estava vencendo todas as partidas, tinha a melhor defesa e o melhor
ataque. Seguiam por dez rodadas sem lavar as camisas e se vencessem a última
estariam na final, e assim foi 2x0 e final garantida. E o outro finalista
adivinhem: O time do Marcão.
Os meninos do time do Murilo tinham
uma tática para as mães não lavar os uniformes, cada semana um levava para casa
e guardava. Naquele dia quem levou foi Murilo, só que ele esqueceu de guardar
devido a euforia da vitória. No outro dia chegou da escola estavam lá todas as
camisas no varal, toda sua sorte foi parar na máquina de lavar. E agora?
Reuniu o time e contou tudo. Todos ficaram
desolados, sem suas camisas da sorte como venceriam? Mas manteram a confiança,
aquele desempenho não podia ser apenas sorte.
Começou o jogo e o time do Murilo
dominou, mas logo sofreu um gol, depois outro e outro. No fim 4x0 para o time
do Marcão.
FOLHA DE
NOVA HARTZ
SEMANAL
ANO X EDIÇÃO 360 PÁG. 02
SEXTA-FEIRA
12 DE DEZEMBRO DE 2014
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