sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A CORAGEM DO SONHO

Paul Delvaux
Antonio Silva


            Ele era um cara tímido que trabalhava há tempo na empresa. A timidez o impedia de ter amigos em todos aqueles anos eram poucas as pessoas com quem ele conversava e quase ninguém conversava com ele.
            Sua única preocupação era cumprir sua função a qual, diga-se de passagem, cumpria muito bem. Era o tipo de cara que passava despercebido, mas que quando faltava parava a empresa.
            Pensava ele que naquela altura da vida profissional nada mais fosse o surpreender. Não que fosse um cara velho, sequer chegava aos 30 anos, mas tinha muita experiência.
            Trabalhava desde muito jovem no ramo de escritórios e desde que foi promovido a matriz de sua empresa teve que deixar a sua cidade natal, desde ali dedicou-se apenas ao trabalho, pois não conhecia quase ninguém e a timidez acentuava sua solidão.
            Até que um dia começou uma linda moça trabalhar na empresa e como ele conhecia tudo por ali foi designado a orientá-la nas primeiras semanas. A timidez não o impedia de falar de trabalho, talvez por que isso fosse uma das coisas que ele tinha segurança.
            A moça era linda, mas muito linda mesmo, tinha uma doçura no olhar que encantava, os cabelos loiros livres ao vento davam a ela um ar angelical. Isso de alguma forma encantou ele que há muito tempo não pensava em uma mulher.
            Mas como vencer a timidez, como enfrentar o medo de falar de algo que não fosse trabalho, quais as palavras certas. Essas dúvidas passaram a torturá-lo dia após dia, e quanto mais convivia com ela mais queria estar próximo. Em um determinado dia na hora do almoço resolveu sentar próximo a ela, já havia ensaiado algumas palavras em casa, mas quando olhou nos olhos dela esqueceu tudo baixou a cabeça e começou a comer.
            Passou o resto do dia pensando no fracasso do almoço, se corroía por dentro pela falha, mas ensaiou tanto em frente ao espelho não podia ter dado errado, mas deu.  Logo que chegou em casa nem jantou, o almoço que representava sua falha não caiu bem, deitou no sofá para tentar relaxar e acabou dormindo.
            E sonhando com ela e o encontro perfeito, estavam os dois no almoço, sentados frente a frente quando ele olha nos olhos dela sorri e diz que está apaixonado por ela, ela olhava para ele e parecia perplexa sem esboçar nenhum movimento quando do nada seus olhos brilharam e sorriu dizendo que também estava apaixonada por ele então levantaram se na sincronia da paixão beijando-se em pleno refeitório.
Assim ele acorda suado e com o coração acelerado, mas por algum motivo sentia-se diferente. Sentia uma coragem estranha e enquanto a água do chuveiro escorria pelo seu corpo ele decidiu que faria igual ao sonho!
            No outro dia agiu normalmente até a hora do almoço. Quando chegou no refeitório a primeira coisa que fez foi procura-la com os olhos e lá estava ela numa mesa no canto sozinha, serviu-se e foi em direção a ela, pediu para sentar e ela sorrindo disse: – Claro – ele tentando disfarçar a ansiedade remexeu a comida com o garfo, quando lembrou do sonho.
            E ali estavam frente a frente então ele olhou nos olhos dela e disse: - Estou apaixonado por você – Ela olhou para ele perplexa sem esboçar nenhum movimento quando do nada seus olhos começaram a brilhar e sorriu dizendo: - Também estou apaixonada por você – então levantaram em plena sincronia da paixão e beijaram-se em pleno refeitório, igualzinho ao sonho dele.
            Os sonhos são a coragem da realidade.


PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ 

SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 355
SEXTA-FEIRA 07 DE NOVEMBRO DE 2014

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