sexta-feira, 14 de novembro de 2014

UM EXERCÍCIO DE SALVAÇÃO

Frederico Barroci


Antonio Silva

            Luís Henrique Pellanda, na sua crônica Pré-temporada, conta que um louco o aborda e pergunta: “Se você pudesse escolher, como gostaria de morrer?” mas ele indaga que talvez a pergunta certa fosse “Se você pudesse escolher, como gostaria de ser salvo?” E deixa essa pergunta no ar para que o leitor mesmo responda.
            Então vamos imaginar que aquele (também personagem da crônica) que estava sangrando no meio-fio morresse assim subiria para a porta do céu onde passaria pela interrogação celestial de São Pedro para saber se poderia ou não entrar no céu.
            Sua alma ao chegar lá em cima se depara com algo totalmente diferente do que um dia foi lhe ensinado por alguém. O Céu ou a (porta) dele não era de um portão gigantesco dourado onde na porta estaria um velhinho de barbas grandes o esperava para perdoar seus pecados e permitir sua entrada no céu.
            Chegando lá se deparou com algo totalmente diferente, pois não havia portão dourado nenhum, havia sim um velho barbudo, mas que não vestia branco e nem tinha cara de que quisesse perdoar seus pecados. O velho tinha uma cara de mal humorado e estava atrás de um guichê (cercado por grades) de onde distribuía uma senha e mandava o pessoal esperar. Acho que ali ninguém tinha pressa, pois o tempo nesse caso era uma convenção humana que não se aplicava.
            Ficou em silêncio na enorme fila pegou uma senha e permaneceu ao lado dos bancos lotados de pessoas que assim como ele esperavam ser chamados. Não tinha lugar para sentar, ficou em pé esperando, mas esperando o que? Olhou para o lado e discretamente perguntou: – você sabe o porquê de tanta gente? – O outro e disse: – Todos estamos mortos esperando a porta branca abrir – Ele se calou, e olhou que ao lado do guichê tinha uma porta branca, perguntou de novo: – O que é a porta branca? – o outro respondeu:  – A porta branca é  a passagem para o paraíso.
            Calou-se de novo e começou a observar ao redor, o local parecia ser uma repartição pública, cheio de gente, muito barulho, sujeira, crianças chorando, pessoas reclamando se não fosse a antessala do paraíso poderia chamar aquilo de inferno.
            Esperou horas e horas naquela sala viu gente entrar pela porta branca, mas via muito mais gente chegar ali, mais gente chegava do que entrava pela porta branca. Ele arrumou um lugar para sentar e ficou pensando naquele dia em quantas coisas aconteceram em um curto espaço de tempo, ele estava morto, e nem tinha aproveitado a vida.
            De repente a porta se abriu e uma senha apareceu no letreiro digital, era a senha dele, levantou e foi em direção até a porta branca que se abriu. Ao entrar havia um homem de cabelos e barba cumpridos com vestes brancas (será que era Jesus?) não quis perguntar, mas se não fosse se passaria muito bem por ele.
            O homem de uma serenidade espantosa o convidou para sentar, ele sentou e manteve o silêncio, o homem de branco sorriu e disse: – Você está salvo! Sobreviveu o purgatório sem reclamação! –
            Ter paciência é um exercício de salvação.

PUBLICADO NO JORNAL
FOLHA DE NOVA HARTZ SEMANAL PÁGINA 2
ANO X EDIÇÃO N° 356 14 DE NOVEMBRO DE 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O FATOR PSICOLÓGICO E O GRENAL

Antonio Silva

            Domingo é o último Grenal do ano e os gremistas parecem agradecer, é também o último capítulo do maior drama recente. Já são dois anos sem vencer um clássico, se não vencer domingo na Arena o Grêmio chega ao décimo Grenal sem vitória.
            Ficar todos esses anos sem conquistar títulos à torcida perdoa, é normal, todos os grandes clubes passaram por isso inclusive o Internacional, mas ficar sem ganhar do maior rival é quase inadmissível. Mesmo que Felipão trate o Grenal apenas “como mais um jogo de três pontos” quem entende um pouquinho de futebol sabe que isso é papo furado, talvez tática para jogar a responsabilidade para o outro lado.
            Grenal nunca vai ser apenas um jogo de três pontos, e este em especial vai ser o divisor de águas para os dois clubes, quem perder dá adeus a Libertadores e quem ganhar encaminha a vaga, por outro lado para o Internacional a vitória não é obrigação, um empate já anula o rival e ainda mantém a invencibilidade na Arena.
            Nesse Grenal o fator psicológico vai pesar muito, o Grêmio precisa vencer para se manter vivo na briga pela Libertadores e para quebrar o jejum de clássicos além de vencer na Arena. Para o Internacional o clássico tem peso parecido vencendo continua no G-4 e fecha o ano sem perder nenhum Grenal. Psicologicamente esse clássico pode provocar o amadurecimento em jogadores como Luan que precisa recuperar o futebol do inicio do ano para se firmar no Grêmio, mas também pode ser um fator de amadurecimento para o meio campo em jogadores como Fellipe Bastos e Wallace que podem ser decisivos no bloqueio ao fantástico e experiente meio campo do Inter.
            Mas o momento psicológico do Inter é melhor esteve na frente do rival praticamente o campeonato inteiro, venceu os últimos Grenais e ainda sustenta uma flauta inegável da invencibilidade na Arena.
            O favorito é o Inter, mas o Grêmio busca surpreender de alguma maneira, inclusive abrindo mão do esquema com três volantes e propondo a entrada de um meia para melhorar a ligação entre o meio e Barcos.
            Especula-se que a novidade de Felipão seja o retorno de Giuliano que estava afastado devido à lesão no púbis. Acredito que ele não será o trunfo de Felipão, pois depois de meses parado ele não conseguirá ser decisivo o que já não vinha sendo antes.
            O torcedor Gremista que vai acompanhar o jogo dever estar ciente de que o Inter é favorito e de que nenhum milagre fará Giuliano sair do Departamento Médico e resolver os problemas do time. Se tiver que acreditar em alguém acreditem na força coletiva do time e torcer que brilhe as estrelas de Felipão e Marcelo Grohe esses são únicos que poderão fazer a diferença para o Grêmio.

Cônica de n° 43 no
Sexta-feira, 07 de novembro de 2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A CORAGEM DO SONHO

Paul Delvaux
Antonio Silva


            Ele era um cara tímido que trabalhava há tempo na empresa. A timidez o impedia de ter amigos em todos aqueles anos eram poucas as pessoas com quem ele conversava e quase ninguém conversava com ele.
            Sua única preocupação era cumprir sua função a qual, diga-se de passagem, cumpria muito bem. Era o tipo de cara que passava despercebido, mas que quando faltava parava a empresa.
            Pensava ele que naquela altura da vida profissional nada mais fosse o surpreender. Não que fosse um cara velho, sequer chegava aos 30 anos, mas tinha muita experiência.
            Trabalhava desde muito jovem no ramo de escritórios e desde que foi promovido a matriz de sua empresa teve que deixar a sua cidade natal, desde ali dedicou-se apenas ao trabalho, pois não conhecia quase ninguém e a timidez acentuava sua solidão.
            Até que um dia começou uma linda moça trabalhar na empresa e como ele conhecia tudo por ali foi designado a orientá-la nas primeiras semanas. A timidez não o impedia de falar de trabalho, talvez por que isso fosse uma das coisas que ele tinha segurança.
            A moça era linda, mas muito linda mesmo, tinha uma doçura no olhar que encantava, os cabelos loiros livres ao vento davam a ela um ar angelical. Isso de alguma forma encantou ele que há muito tempo não pensava em uma mulher.
            Mas como vencer a timidez, como enfrentar o medo de falar de algo que não fosse trabalho, quais as palavras certas. Essas dúvidas passaram a torturá-lo dia após dia, e quanto mais convivia com ela mais queria estar próximo. Em um determinado dia na hora do almoço resolveu sentar próximo a ela, já havia ensaiado algumas palavras em casa, mas quando olhou nos olhos dela esqueceu tudo baixou a cabeça e começou a comer.
            Passou o resto do dia pensando no fracasso do almoço, se corroía por dentro pela falha, mas ensaiou tanto em frente ao espelho não podia ter dado errado, mas deu.  Logo que chegou em casa nem jantou, o almoço que representava sua falha não caiu bem, deitou no sofá para tentar relaxar e acabou dormindo.
            E sonhando com ela e o encontro perfeito, estavam os dois no almoço, sentados frente a frente quando ele olha nos olhos dela sorri e diz que está apaixonado por ela, ela olhava para ele e parecia perplexa sem esboçar nenhum movimento quando do nada seus olhos brilharam e sorriu dizendo que também estava apaixonada por ele então levantaram se na sincronia da paixão beijando-se em pleno refeitório.
Assim ele acorda suado e com o coração acelerado, mas por algum motivo sentia-se diferente. Sentia uma coragem estranha e enquanto a água do chuveiro escorria pelo seu corpo ele decidiu que faria igual ao sonho!
            No outro dia agiu normalmente até a hora do almoço. Quando chegou no refeitório a primeira coisa que fez foi procura-la com os olhos e lá estava ela numa mesa no canto sozinha, serviu-se e foi em direção a ela, pediu para sentar e ela sorrindo disse: – Claro – ele tentando disfarçar a ansiedade remexeu a comida com o garfo, quando lembrou do sonho.
            E ali estavam frente a frente então ele olhou nos olhos dela e disse: - Estou apaixonado por você – Ela olhou para ele perplexa sem esboçar nenhum movimento quando do nada seus olhos começaram a brilhar e sorriu dizendo: - Também estou apaixonada por você – então levantaram em plena sincronia da paixão e beijaram-se em pleno refeitório, igualzinho ao sonho dele.
            Os sonhos são a coragem da realidade.


PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE NOVA HARTZ 

SEMANAL ANO X EDIÇÃO N° 355
SEXTA-FEIRA 07 DE NOVEMBRO DE 2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014

SONHOS INVADIDOS




Antonio Silva
Ao invadir meus sonhos,
Senti a textura de seus lábios,
Senti o gosto do teu beijo,
Senti seu corpo junto ao meu,
Em cada toque na seda de sua derme,
Curava minhas mãos,
Nos conhecemos pelos olhos,
Conversamos pelos suspiros.
Meus sonhos para você,
Sempre serão uma porta aberta,
Esperando você chegar,
Invada-me sempre que quiser,
Só assim serei um pouquinho seu,
E você um pouquinho  minha.