segunda-feira, 29 de junho de 2015

QUANDO O SILÊNCIO É TUDO O QUE PRECISAMOS

Edwin Landseer

Antonio Silva
Há dias em que não estamos de bem com a vida, que as palavras de conforto não confortam, mas sim incomodam. Nesses dias pratico o silêncio, falo o mínimo possível. Me mantenho inexpressivo para não acusar a dor, mantenho-me distante para não compartilhar a tristeza, mantenho-me longe para não descarregar em ninguém.
Naquele dia não passei do habitual bom dia, seco e sem expressão. Deixei o sorriso na cama fazendo companhia para meus pesadelos. Deixei a esperança no espelho ao fugir o olhar. Naquele dia, não queria o contato com ninguém, queria me reencontrar e me confortar.
Fazia tudo no automático, fazia tudo como tinha que fazer. A repetição nos salva em dias ruins. Os dias ruins demoram mais para passar, os dias ruins nos torturam todas as horas, os dias ruins apedrejam os nossos sonhos.
Esses dias ruins me perseguem e por vezes já me perdi em sua escuridão, sofro por antecipação, sofro por expectativa, sofro por imaginação, só não sofro pela minha própria capacidade. Sempre que sofro me reavalio, me reinvento para esquecer.
Aquele dia era para ser igual a todos, eu deveria seguir meu manual do silêncio e tentar fazer o tempo passar, mas tudo foi diferente. Eu estava chegando ao trabalho e na porta havia um cão preto, estava parado como se esperasse alguém, como se sua fidelidade canina dependesse daquele encontro.
Admiro a fidelidade desses animais, admiro a capacidade de perdão que esses seres possuem, admiro a persistência deles. Eu nunca tinha visto ele antes, nunca tínhamos nos esbarrado pela rua, ou trocado um olhar sequer.
Mas ele ao ver-me, levantou e me olhava com brilho nos olhos, como se de nosso encontro dependesse a sua felicidade, como se nosso encontro fosse o tornar um cão realizado, o nosso encontro parecia ser o seu objetivo mais importante naquele dia.
Eu parei e fiquei a observá-lo, ele me olhava com um olhar tão doce, tão esperançoso que fiquei imóvel por alguns momentos, ele seguia me olhando e balançou a calda como se me chamasse ao seu encontro. Vendo aquilo sorri e segui meu caminho.
Sem uma palavra sequer aquele cão tornou meu dia melhor.


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