Franz Mark
Antonio Silva
Para
ser sincero não sei se ele tem nome, é bem provável que não tenha, mas
carinhosamente o apelidei de Costelinha.
Costelinha,
é um cavalo, que diariamente puxa uma carrocinha lotada de material reciclável.
Dei a ele esse nome devido a sua magreza extrema, parece ser um esqueleto
puxando uma carroça, sem exagero dá para contar suas
costelas.
Às
vezes fico a observa-lo em silêncio, a sua imagem esconde minhas palavras. As
viseiras impedem que ele me devolva o olhar, que ele compartilhe sua tristeza
comigo. Costelinha parece viver em círculos, dia após dia, faz o mesmo trajeto.
Suas tristezas já marcaram o caminho. Mas, o relho em seu pelo ralo e sofrido
serve apenas para relembrar suas tristezas.
Assisto
essa cena imóvel, sem saber o que fazer, o que pensar, nem se quer posso falar
algo. Quem o conduz já perdeu tudo na vida, não digo isso por ele ser apenas um
coletor daquilo que para nós é apenas lixo, mas afirmo isso quando vejo ele
tratar outro ser vivo como ele desta maneira.
Talvez cego
pela desilusão da vida, ele nem perceba que aquele cavalo é muito mais que um
simples puxador de carroça, mas sim um membro de sua família, um membro que
trabalha sem reclamar abaixo de sol e chuva sem receber o mais simples gesto de
agradecimento.
O egoísmo gera
mediocridade. Essa é a palavra para definir o homem dono da carroça, um
medíocre que mesmo que tivesse todo o dinheiro do mundo continuaria sendo pobre
de alma. A cada pancada ou xingamento que dirige à Costelinha, o empurra mais
um pouquinho para o corredor da morte. Pobre cavalo, pobre Costelinha, a cada
trote mais perto do fim.
Lembro que uma
vez olhei em seus olhos e senti vergonha de mim, as viseiras eram seu porta
lágrimas, os olhos molhados eram um pedido de socorro. Enquanto eu observava
também me olhava, me vi dentro dos olhos dele, em suas tristezas em suas dores.
Costelinha é um cavalo sem brilho, sua magreza machuca a pele, suas costelas
parecem querer rasgar a pele para fugir cansadas de levar pancadas.
Não sei por
quanto tempo Costelinha ainda vai resistir, apenas a grama verde, sem nenhum
tipo de proteína não o sustentará por muito tempo. Talvez para ele o fim seja o
alívio das pancadas, o alivio do cansaço. Com certeza se existir um céu para
cavalos ele irá para lá, será livre, sadio e forte, livre no próprio
pensamento.
Costelinha não
é feliz, pois vive preso em seus pensamentos, seu dono não criou diálogo, nem
afeto, ignorou a criação do idioma universal entre cavalos e cavaleiros. Seu
dono não foi sincero ao esconder seus sentimentos.
Não ensinou
Costelinha a lembra-lo que ele deve dar banho, comida, carinho, cuidados e
principalmente respeito ao animal que desde o dia que se encontraram pela
primeira vez passou a ser membro de sua família.
Costelinha é
vitima do abandono afetivo do dono que se esquece de olhar o cavalo. Como eu
disse Costelinha é magro, fraco, triste, um cavalo sem brilho, sem ambição. Um
cavalo que apenas espera da morte algo melhor que o livre da escravidão equina
que vive.
Só um detalhe
nessa história o dono de Costelinha é gordo, ou seja, tira seu sustento do
cavalo e nem as migalhas divide com ele.
FOLHA DE NOVA HARTZ PAG: 02
SEMANAL EDIÇÃO N° 363
SEXTA-FEIRA 06 de FEVEREIRO 2015
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