quarta-feira, 6 de agosto de 2025

IDENTIDADE MARTA

 

Foto: Internet/Reprodução

A quem diga que aspectos táticos, técnicos e financeiros definem o futebol, eu respondo: isso até é verdade, mas só até a bola rolar. Basta o soar do apito para que todas essas teorias fiquem apenas no campo das teorias. Pois não é raro vermos times menos táticos, menos técnicos e pobres financeiramente vencerem aqueles que têm quase tudo o que o dinheiro pode comprar.

Mas como se explica isso? Qual a razão? São somente os deuses do futebol agindo a favor dos menos favorecidos ou apenas coincidência? Poderia escrever páginas e páginas, teses e muito mais, mas não teria uma resposta definitiva.

Acredito que a melhor resposta para essa questão seja: Identidade. Aquilo que não se pode medir, quantificar e, às vezes, explicar, mas que faz diferença, sim.

Cheguei a essa conclusão ao ver o fantástico 4 a 4 da final da Copa América Feminina entre Brasil e Colômbia. Marta, mais uma vez, mostrou por que é a maior atleta do esporte, e mesmo que esteja próxima da despedida, faz valer cada momento que está em campo.

Diferente do futebol masculino, o feminino uniu-se em torno de Marta, envolveu a deusa do futebol e proporcionou a ela a possibilidade de brilhar.

Alguém vai ter que correr mais, alguém vai ter que marcar mais, alguém vai ter que suar mais. Mas tudo bem, é pela Marta e, no fim, é por todas elas.

A identidade Marta tem salvado o amor de torcer para o Brasil. Não só por Marta, mas a final teve seu valor a Colômbia desponta como uma grande adversária para o Brasil no contexto Sul-Americano, capitaneada por Linda Caicedo. As colombianas têm um grande futuro no futebol.

Mas voltando a Marta, seus dois gols foram um recado para quem a desacreditava. O primeiro, um chute forte, com raiva, como se fosse um "basta" sobre qualquer dúvida sobre sua presença na seleção. Já o segundo, um lance digno de uma deusa, que finge cabecear a bola enquanto permite que ela repouse em seu pé, tirando totalmente a chance da goleira.

Marta virou uma identidade para o futebol feminino. Já era uma rainha, uma deusa, uma entidade, mas agora também é um jeito de ser, de jogar, de sentir, de colaborar.

Se elas se sacrificam por Marta, Marta entrega o esperado e o inesperado. E mesmo quando ela falha, a identidade Marta garante que outras atletas sejam protagonistas.

Sem ego, sem desrespeito, sem sentir o peso. A identidade Marta só quer o bem do futebol brasileiro feminino. E mesmo quando Marta parar, a identidade Marta acompanhará quem acreditar que é possível.


terça-feira, 5 de agosto de 2025

MARCELO, VOLTE PARA CASA

 

Foto: Internet - Reprodução.

Voltar para casa é bom. Estar em casa é sinônimo de conforto, segurança e alegria. Às vezes, tudo o que precisamos é do aconchego do lar para estarmos em paz. No futebol, não é muito diferente; a nossa casa é um fator decisivo para conquistas, histórias e memórias. Tem gente que defende que os pilares de um time se constroem na base, no pátio de casa – talvez seja daí que vem a máxima "goleiro bom se faz em casa".

E, por falar em goleiro, logo lembro de Marcelo Grohe, forjado no calvário gremista da Série B. Injustiçado por anos no banco de reserva, desprestigiado em nome de goleiros questionáveis. Pois, como todo bom gremista, esperar era o que ele mais sabia; esperou até que chegasse o seu momento.

Poderia ter brigado, gritado, saído, mas aguentou firme. Nos poucos momentos em que jogava, mostrava que estava pronto. Quando recebeu a oportunidade, parecia que tinha guardado todo o seu brilho. Além das defesas importantes e de entender o que era ser goleiro no Grêmio, Marcelo sabia da responsabilidade de ocupar o lugar de Danrlei; parecia estar abençoado por aquele que carrega Deus no nome e abençoava a meta tricolor.

Soube sofrer para viver as glórias. E foram muitas: entre gauchões, o penta da Copa do Brasil em 2016, o tri da Libertadores em 2017 – com a defesa do século contra o Barcelona, no Equador – e, em 2018, alcançou um recorde pouco celebrado, mas é o goleiro com mais tempo sem tomar gols pelo Grêmio, com 803 minutos, superando nomes como Picasso e Victor.

Se suas passagens na Arábia Saudita não inspiram confiança, se você acha que o tempo dele já passou ou que pode estar colocando em risco sua história... Tudo isso pode ser verdade, mas às vezes o que a gente precisa é só voltar para casa.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

A MENSAGEM DE INCLUSÃO DA PRETA GIL

Foto: Internet/Reprodução.

Após a morte da Preta Gil, as redes sociais foram inundadas de posts, frases e lembranças. Naturalmente, para quem a conhecia. Uma oportunidade para quem surfa na onda do momento, independente do tema.

Eu, particularmente, não a conhecia, não acompanhava seu trabalho, mas soube de sua vivência com a doença e de sua coragem em falar abertamente sobre ela e expor suas cicatrizes.

E, por falar em cicatrizes, uma frase me chamou atenção: "Eu não tenho vergonha das minhas cicatrizes". Ela, em especial, além de ser um relato potente sobre levar a vida da forma como ela se apresenta, me fez lembrar de mim e de tantas outras pessoas que, assim como eu, convivem com uma deficiência.

"Eu não tenho vergonha das minhas cicatrizes"

Ser uma pessoa com deficiência naturalmente vai nos trazer cicatrizes. Muitas delas são físicas, seja por cirurgias ou tratamentos que buscam nos "curar", visto que ainda estamos presos ao modelo biomédico e à necessidade de "consertar" as pessoas. Porém, não somente o nosso físico é afetado; muitas das cicatrizes são emocionais, sociais, financeiras e sexuais. Ou seja, além do físico, precisamos lidar com diversas outras cicatrizes causadas por uma sociedade que nos rejeita, nos relega ao lugar do esquecimento, do abandono.

O capacitismo, ainda tão pouco conhecido, falado e explorado, já nos exclui desde antes de nascermos, já nos deixa cicatrizes que vamos carregar ao longo da nossa trajetória.

Mas onde entra a Preta Gil nisso? Na potência da sua frase: "Eu não tenho vergonha das minhas cicatrizes". Ao não termos vergonha de nós mesmos, vencemos o medo. Ao não termos vergonha de nossa história, criamos potência. Ao não termos vergonha das nossas cicatrizes, nos amamos mais. Ao não termos vergonha da nossa luta, vencemos qualquer batalha.

Devemos nos orgulhar de nossas cicatrizes; elas são o mapa da nossa vida. E, quando sentimos orgulho, damos um basta no capacitismo.